Carta à Berta nº. 266: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - Origens - 3.1
Olá Berta,
Depois da introdução está na altura de te explicar as origens do Senhor da Bruma. Para não ser demasiado longo vou fazê-lo em duas partes. Espero que a leitura continue do teu agrado e que esta carta te vá encontrar de boa saúde e mais desconfinada do que antes.
Ficas a saber que és a primeira pessoa a ter acesso a este documento que, por meio destas cartas, sai pela primeira vez da gaveta e entra na esfera pública. Espero, sinceramente, estar à altura das tuas expetativas.
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Diário Secreto do Senhor da Bruma – Origens - 3.1
O Senhor da Bruma nasceu em 1992 com o primeiro acesso que tive à internet no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Isso foi pouco tempo antes de eu fazer o meu trigésimo segundo aniversário. A convite, de um amigo e professor da instituição, entrei numa rede internacional de Internet Relay Chat (IRC), de origem americana, que ligava através de servidores, colocados nas universidades de todo o mundo, os utilizadores entre si independentemente do ponto do globo onde se encontrassem. Existiam já várias redes dessas a funcionar, mas eu usei aquela a que o meu amigo me conectou: a “efnet”, porque, segundo ele, era a melhor.
Para usar a rede de conversas escritas cada utilizador tinha que escolher um pseudónimo (a que os americanos chamavam de “nick” ou “nick name”, que é o mesmo que dizer alcunha). Tentei vários, até que ao experimentar “Sir” consegui um nome ainda sem uso, livre para adotar como o meu eu na referida rede. Com o correr dos anos o pseudónimo foi tendo novos nomes, conforme os apetites da época. Fui “Sir”, “Vagabundo dos Limbos”, “Lord os the Ages”, “El Condor Pasa”, “Haragano”, “Etéreo” e, por fim, “Senhor da Bruma”.
Logo no primeiro dia falei, numa sala de conversação que pouco mais era que uma folha em branco com uma série de “nicks” alinhados à direita do monitor onde, de cada vez que alguém escrevia uma frase, aparecia o “nick” também à esquerda acompanhado pelo respetivo texto. Cada sala de conversação chamava-se um canal, e nalguns deles era preciso uma palavra passe para lhes aceder. Se um utilizador com capacidades de autorizar entradas (os “Masters”) nos permitia, nós acedíamos, se não, ficávamos de fora desse canal e tínhamos de procurar outro de acesso livre, onde pudéssemos entrar. Era assim que a coisa funcionava.
Também tínhamos a possibilidade de falar só com um outro utilizador, a janela de texto abria para os 2 apenas e era chamada de um “Privado”. Foi esse primeiro dia que me “agarrou” à internet. Entrei num canal, por convite de um utilizador, chamado de #Turma (todos os canais ou salas eram precedidos de um sinal de cardinal). Era uma sala onde só se falava em português. No espaço de 2 horas eu já tinha trocado diálogo com gente em Macau, Estados Unidos, Canadá, França, Angola, África do Sul, Goa, Timor, Reino Unido, Suécia, Brasil, México, Roménia, Itália, Japão e Austrália.
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Por hoje é tudo, amanhã regresso com a segunda parte das origens. Despede-se, este teu grande amigo, sempre ao dispor para o que for preciso,
Gil Saraiva
P.S.: Um beijo