Carta à Berta nº. 314: Evolução II (Excerto - III do Diário Secreto do Senhor Da Bruma - Capítulo IV)
Olá Berta,
Ontem estive a dizer-te o que penso sobre aquilo que, para o mundo dos nossos dias, não passa de ficção ou de balelas sem fundamento e que, dentro de algum tempo, nuns casos menos, noutros mais, se poderá tornar uma verdade evidente, tão clara e evidente, reforço, como as que hoje damos como adquiridas e até banais.
Se olharmos com atenção, o Homem, em termos físicos, tem vindo a abrandar na sua evolução. Podemos dizer que está mais alto, devido à forma como se alimenta, nos dias que correm, ou até mais obeso, o que, entre outras coisas, é também um resultado do tipo de comida que ingere. Todavia, mais importante do que isso, vive mais tempo, muito mais tempo do que vivia no passado. Há zonas no nosso mundo em que a esperança média de vida dobrou e isso é algo de quase inacreditável.
Aliás essa é a razão ou, pelo menos, se não for a única, uma das mais importantes, para a população mundial ter passado nos últimos 150 anos de 1,5 biliões para mais de 7,8 biliões nos nossos dias. O avanço da ciência, nos campos da saúde e do bem-estar, retirando temáticas anteriormente pertencentes ao mundo da bruxaria, das mezinhas e dos feitiços, teve esse efeito fabuloso. Explicando de outra maneira, somos 5 vezes mais do que aquilo que eramos há século e meio e vivemos substancialmente mais tempo e com melhor qualidade de vida fruto do desenvolvimento científico das últimas 15 dezenas de anos.
A evolução do Homem tem vindo a mudar rapidamente do físico para o cérebro. Aqui a margem de progressão é ainda muito significativa. Se um génio, uma mente brilhante nascer proximamente, arrisca-se a viver com as suas capacidades intelectuais praticamente intactas até ao final da sua vida, face à velocidade com que a ciência tem vindo a avançar. O que significa que terá o dobro ou o triplo do tempo, em comparação com génios de outros séculos, para criar, inventar e descobrir. Não só viverá muito mais tempo, como manterá, quase até final da sua vida, o seu intelecto sem grande deterioração.
Se levarmos ainda em linha de conta que a partilha de informação, entre aqueles que, pelas suas afinidades, se interessam por partilhar o seu conhecimento, com o objetivo de ganhar valências, que lhes poderiam faltar, partilhando à escala global esse conhecimento, então a evolução passará de uma marcha que já era de galope, para uma vertiginosa corrida saltando apoteoticamente de objetivo em objetivo, de meta em meta.
Não me é difícil de imaginar que, dentro de 50 anos, o salto dado pela humanidade, em termos de progresso e conhecimento, seja o dobro do que foi nos últimos 50, coisa que, se pensarmos seriamente no assunto, já foi, por si só, um verdadeiro milagre tecnológico e científico.
Não ficarei surpreso se alguém prever que, daqui a 50 anos, um cérebro possa ser transplantado de um corpo para outro, mantendo todas as suas capacidades cognitivas e experiência adquirida. É claro que isso levantará imensos problemas éticos, religiosos e sociais, mas o progresso sempre levantou esse tipo de questões e não parou por causa disso.
Enfim, minha querida Berta, podia continuar para aqui a divagar, mas hoje só queria mesmo complementar a ideia de ontem, para que possas imaginar, como eu, que estamos apenas na pré-história da ciência e do conhecimento. Ainda agora o mundo se começou a descobrir e que, mais depressa do que pensamos, rapidamente chegaremos onde nunca ninguém chegou anteriormente. Despede-se este teu amigo com um beijo de até amanhã, sempre ao dispor,
Gil Saraiva