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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: Arreganha a Taxa, ó Zé!

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Olá Berta,

No âmbito da aprovação do Orçamento de Estado para 2021 o PAN, o Partido dos Animais e Natureza (eles dizem também pessoas, embora isso não conste da sua própria sigla) conseguiu fazer aprovar, uma nova taxa que entrará em vigor em 2022. Fica estranho que um partido que se apresenta contra o aumento de impostos, venha, à distância de um ano e um mês, quase que à socapa, impor um novo imposto que terá uma implicação direta sobre o consumo das classes mais baixas, até à famosa classe média, bem como sobre o seu rendimento mensal real e efetivo.

A taxa visa cobrar 30 cêntimos por embalagem descartável para refeições. Embalagens que até ao momento custavam entre 2 e 10 cêntimos, que pouco ou nada eram imputados ao consumidor final (as ditas pessoas de quem o PAN se diz defensor). A partir de 2022 o Zé Povinho passa a pagar mais meio euro (que vai ser o resultado do aumento no custo das embalagens, acrescidos de impostos e do aproveitamento dos fornecedores e revendedores), de cada vez que traga uma sopa do supermercado ou do pequeno comércio, uma refeição congelada ou que faça um pedido de entrega de comida ao domicílio ou use o “take-away”. Em números redondos, se levarmos em linha de conta os hábitos de um reformado urbano, facilmente somos levados a concluir que a situação é mais grave do que se imagina.

Se bem que no interior e nas aldeias os hábitos não sejam exatamente os mesmos, nas cidades e nas grandes zonas metropolitanas, onde se concentra 80% da população do país, um idoso, normalmente a viver sozinho ou na companhia do seu par, de idade semelhante, passa a ter um encargo mensal acrescido, que podendo inicialmente parecer pouco, se traduz numa enormidade perante as parcas reformas da população alvo.

Para poder ter algumas bases sobre o que fundamento em seguida, resolvi contactar os proprietários de vários espaços de restauração que conheço aqui, em Campo de Ourique, e perguntar a algumas das caixas de supermercado, com quem já tenho uma certa lidação, qual era o comportamento dos séniores nas suas aquisições.

Face a esta pequena investigação pude concluir que, em média, um sénior leva para casa, diariamente, duas embalagens de comida preparada e, pelo menos, outras duas para o fim de semana. Uma das embalagens é normalmente uma ou duas sopas (dependendo se vive sozinho ou se tem cônjuge) para o jantar e uma embalagem de frango do supermercado ou do prato do dia, do seu espaço de restauração habitual. O somatório destas encomendas perfaz um volume de 48 embalagens por mês. Ora, se multiplicarmos isto por 50 cêntimos, teremos para os idosos, em média (haverá certamente casos piores ou melhores), um acréscimo de 26 euros por mês em custos.

Em resumo, o aumento extraordinário de 10 euros das reformas do próximo ano, mais a subida observada este ano e a do ano de 2022 serão integralmente absorvidas por esta ecológica medida do Partido dos Animais e da Natureza (e das pessoas, segundo afirmam os seus líderes).

Por incrível que pareça serão as famílias remediadas, e as com menos meios, as mais afetadas em mais este contributo ecológico. Aliás, a ele irá somar-se a taxa que vai nascer proximamente para os resíduos sólidos urbanos por agregado familiar.

Os ricos não trazem com regularidade o jantar para casa. Pelo contrário, ou jantam fora ou têm quem lhes confecione o jantar. A sorte de uns e o azar dos outros é uma das causas do fosso cada vez maior entre quem tem e quem não tem na nossa sociedade contemporânea. É triste ver que de uma assentada, graças ao PAN, o nível de vida da terceira idade recua três anos.

Não penses, querida amiga, que sou contra medidas ambientais. Pelo contrário, sou totalmente favorável, mas deve haver a preocupação em que o ónus não recaia sempre sobre os mesmos. Afinal, segundo sempre ouvi dizer, o Sol quando nasce é para todos. Até lá… resta-me dizer: arreganha a taxa, ó Zé! Recebe um beijo de despedida deste teu amigo de ontem, hoje e sempre,

Gil Saraiva

 

 

 

3 comentários

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    Gil Saraiva 26.11.2020 11:29

    Caro leitor,

    Adorei as suas observações: não são apenas construtivas, como implicam reflexão sobre o tema e objetividade prática sobre o assunto em questão. Dito isto, a sua abordagem não aponta apenas para uma possível solução, como nos ajuda a pensar seriamente no problema. Houvesse boa fé por parte de quem nos governa e se a preocupação fosse efetivamente ambiental estou certo de que ideias como as que apresentou poderiam vingar com alguma facilidade.

    A minha questão é: então e se o Estado com a desculpa da proteção do meio apenas quer é lucrar com os hábitos da maioria dos consumidores, o que fazer?

    Obrigado.

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    Antonio Lebre 26.11.2020 19:25

    Caro Gil Saraiva, por alguma razão o meu nome não ficou registado no meu comentário original. Espero clicar correctamente desta vez ;)

    Em relação à sua pergunta “ A minha questão é: então e se o Estado com a desculpa da proteção do meio apenas quer é lucrar com os hábitos da maioria dos consumidores, o que fazer?” acho que está implicitamente respondida: trata-se apenas de desculpas para novos impostos. Dá-se com uma mão, tira-se com outra. Mesmo a taxa de 2 € para os meios aéreos (recorde-se que já existe o imposto de CO2 nos bilhetes aéreos), faz-me lembrar o ramo automóvel de importação, onde é cobrado o IVA sobre o IA+valor do veículo, ou seja, imposto sobre o imposto. Isto mostra a sede de impostos de um Estado que só procura cobrir os seus custos sem controlo, em vez de gerar riqueza. Em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão. Resumindo, por muito nobre que sejam estas taxas, elas perdem-se no saco sem fundo do OE e nunca chegam ao seu destino original.
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