Carta à Berta: "António Costa - O Grande Golpe - Peça em Três Atos" - "Ato I - Meeting na Aldeia de Campo de Ourique"
Olá Berta,
«António Costa – O Grande Golpe – Peça em Três Atos» seria o nome que escolheria para me referir áquilo que eu penso que alegadamente se terá passado no teatro da política e da diplomacia internacional. Aliás, se as coisas se passaram como eu penso que realmente se passaram o nosso Primeiro-Ministro merece o Grammy, o Óscar e o Nobel, tudo em simultâneo, pela mestria da sua magnífica, secreta e espetacular atuação.
Não só conseguiu um feito considerado impossível de concretizar, como o fez nas barbas dos Media nacionais e internacionais sem que ninguém desse por este genial «Golpe do Século». O mais interessante é que a operação, montada nos corredores da arte de bem negociar, ainda dura e irá durar até ao final de junho de 2021 e decorre naquele que para mim é o mais impressionante cenário político e diplomático montado no decorrer do presente século.
Enquanto operação secreta da diplomacia portuguesa, este feito devia ter direito, inclusivamente, a nome de código, como as antigas operações especiais entre americanos e russos no tempo da guerra fria, no caso eu chamar-lhe-ia «Operação Bifes à Portuguesa» ou «A Conjura da Raposa», uma vez que qualquer das escolhas é ótima para ilustrar a mestria política e diplomática daquele que é atualmente um dos mais hábeis políticos da cena mundial do século XXI.
No entanto, querida amiga Berta, isto sou eu a divagar, alegadamente imaginando uma genialidade tão simples e eficaz que se calhar nem está realmente a decorrer e tudo não passará de um fruto imaginário da criatividade deste teu amigo jornalista, armado em romântico escritor de enredos diplomáticos. Contudo, a ter acontecido (e ainda estar a decorrer), é realmente brilhante e deveria ter direito a destaque, com a obrigatoriedade a ser convertido em superprodução de Hollywood, pela argúcia e sentido de estratégia apresentada na elaboração de tão magistral arte política. Daqui para a frente vamos imaginar que as coisas se passaram como eu descrevo, mesmo que tudo possa ser apenas uma fantasia criativa deste teu amigo:
“Primeiro Ato: Reunião Urgente do Gabinete de Crise.
A primeira cena decorre no centro da capital portuguesa, Lisboa, mais propriamente na pequena Aldeia de Campo de Ourique, no edifício da Presidência do Conselho de Ministros, sem o conhecimento prévio da imprensa. Um pequeno grupo de pessoas, secretamente conhecido como os irredutíveis lusitanos, reúne-se de urgência, ao final da tarde, daquela segunda-feira. Presentes na reunião, convocada à última hora, com parangonas de secretismo, estão António Costa, Primeiro-Ministro, João Leão, Ministro das Finanças, Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros, Mariana Vieira da Silva, Ministra de Estado e da Presidência e Pedro Siza Vieira, Ministro de Estado e da Economia.
Estamos no dia 31 de agosto de 2020 e para António Costa aquele que é o núcleo duro do seu Governo constitui também, igual e secretamente, o seu Gabinete de Crise. Em cima da mesa está o turístico corredor aéreo com o Reino Unido.
Costa é o primeiro a tomar a palavra:
- Se os ingleses nos fecham o corredor aéreo com o Algarve e a Madeira, conforme a imprensa britânica prevê, estamos desgraçados. Isto pode muito bem desencadear uma bola de neve de fecho de empresas e falências, que se iniciará no setor do turismo e se alastrará rapidamente a todos os setores do tecido económico nacional. Temos de arranjar, a todo o custo, uma forma de impedir que Boris Jonhson feche o corredor. Temos de evitar a todo o custo que isto se torne na gota de água que faz transbordar o copo da crise económica nacional.
- Estamos fodidos! — adianta Santos Silva. — Desculpa a linguagem Mariana, mas o embaixador britânico já me informou que na próxima quinta-feira devem fechar o corredor com Portugal. Ligou-me no sábado, pela hora de almoço. Querem evitar que sejamos apanhados de surpresa como na última vez. O tipo irrita-me, com aquele ar altivo e superior de «bife do lombo» tira-me do sério.”
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Para não me esticar demasiadamente numa só carta, amanhã continuarei “O Grande Golpe”. Recebe um amigável beijo de despedida deste teu fiel amigo,
Gil Saraiva