Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Olá Berta, Quem diria, há 4 anos, que o segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa seria aquilo que viria a ser. Na época escrevi-te uma carta sobre o assunto, em que te disse que íamos assistir ao nascimento de outro Marcelo e, infelizmente, não me enganei muito. Volto a pegar no assunto agora que o Presidente está de saída de Belém.
Na realidade depois do mandato dos afetos assistimos ao mandato dos ajustes de contas e daqui a um ano Marcelo Rebelo de Sousa, quando sair de Belém é, como será, um homem só. Rebelo de Sousa fica na história da democracia portuguesa como o presidente que mais Governos fez cair. Não apenas no continente como igualmente nas regiões autónomas.
Entre as suas práticas ficam registadas todas as artimanhas a que se pôde agarrar para deitar António Costa ao tapete, sendo que o golpe final viria a ser fatal e fez cair por terra uma maioria absoluta estável por vontade do mesmo e claramente por puro desejo de protagonismo. Mas disso já te falei anteriormente.
O cerco de Marcelo a Costa teve vários protagonistas sendo inarrável a persistente teimosia em fazer sair João Galamba do Governo. Aliás, este é um daqueles episódios em que se prova claramente que Marcelo emprenha pelos ouvidos e acaba sempre por ter de parir uma “merdaleija” qualquer.
Mas a tristeza revoltante deste último segundo mandato nem é o que mais me importa aqui. Porque, afinal, qualquer pessoa consegue bem ver as diferenças entre os dois mandatos sem ser preciso estar eu para aqui a apontar detalhes e pormenores. São muitos, são tantos que se os fosse enunciar todos te escreveria uma carta com mais de 35 páginas. Desde o Veto à alteração do poder cooperativo das Ordens Profissionais, à legislação sobre a eutanásia, as traições de Marcelo são mais que muitas.
O que me interessa agora é que dentro de um ano Marcelo Rebelo de Sousa sai da Presidência da República como um homem só. Tão só que nem a família, esse laço sagrado que sempre propagou aos 7 ventos, o acompanha no abandono do cargo. O homem dos mil esquemas ficou finalmente sem gás. Da presidência vai sair um velho triste e macilento, do género daqueles maluquinhos que falam consigo mesmos, sem dignidade e sem qualquer ponta de prestígio nacional e internacional.
Posso estar enganado, no entanto acho que nem o seu partido o quererá relembrar saudosamente. O testemunho será passado sem brio, sem carisma, sem sequer o carinho que teve dos portugueses durante o primeiro mandato. Parece histórico, mas os Presidentes da República eleitos para um total de 20 anos de mandatos pela direita, acabaram inevitavelmente os seus segundos mandatos de forma muito impopular.
Ao fim de 10 anos Marcelo Rebelo de Sousa sai só, pela porta dos fundos e não deixa saudades. É triste Berta, muito triste, mas a vida é assim. Deixo um beijo de despedida, deste teu amigo de sempre,
A Carta de hoje é quase uma segunda parte da carta de ontem. Porquê? Porque o assunto volta a ser sobre Ana Paula Martins, a Ministra da Saúde, e sobre o seu ministério onde, afirma: “Enquanto for titular desta pasta, farei a organização do meu ministério como entender, perante a lei”.
E lei, neste caso, significa que a Ministra se esqueceu de todo que faz parte de um Governo minoritário onde deveria tentar encontrar consensos. Porém, empossada pela teimosia e com uma arrogância ímpar no cargo, eis que volta a anunciar que as Centrais do INEM vão usar Inteligência Artificial. “Vou organizar o ministério como eu entender”. Ora, do alto do seu pedestal, a Ministra da Saúde tentou explicar no Parlamento como vai funcionar a “refundação” do INEM.
Porém, apesar de tudo, ela não admite colapso do Instituto, mas fala em “caos” no dia 4 de novembro, quando quase metade das chamadas ficaram por atender. E reafirma que: “Este Governo não vai privatizar o Centro de Orientação de Doentes Urgentes” (CODU), diz a ministra da Saúde, Ana Paula Martins, ouvida esta quarta feira no Parlamento, citada pelo Expresso.
O INEM será, então, a partir de agora, requalificado como um instituto público de regime especial, com um conselho de administração com mais um vogal (fica com dois), e um presidente. A ministra quer, segundo relata o Jornal Público, “alterar de forma profunda o funcionamento” do INEM, e por isso vai utilizar Inteligência Artificial no CODU. “O CODU tem muitas deficiências e equipamentos muito pouco modernos”, disse, e por isso os sistemas de Inteligência Artificial chegarão “dentro de poucas semanas”.
“Se isto não é refundar o INEM, eu pergunto o que é”, lança a ministra, que nem consegue explicar minimamente, ao Parlamento, como funcionará a tal dita e proclamada Inteligência Artificial. Porquê? Porque a ministra não faz a mínima ideia sobre o que é que está a falar. Tudo leva a querer que alguém vendeu, tipo banha da cobra, um programa de IA à ministra, e esta comprou a ideia sem saber muito bem qual é o seu conteúdo.
O Público avançou na passada quarta feira, noutro artigo, que no pior dia de greves no INEM, a 4 de novembro, ficaram 2300 chamadas por atender, ou seja, quase metade das 4815 chamadas recebidas nesse dia, sendo que este foi o número mais baixo de chamadas a serem atendidas pelo serviço nos últimos 10 anos. Porém, e agora de acordo com o que escreve o Jornal de Notícias a ministra já admitiu que “no dia 4 de novembro houve caos no INEM, mas afirma ainda que isso não se traduziu num “colapso”.
A ministra, que aparenta andar sob o efeito de antidepressivos, calmantes e outros tranquilizantes, explicou ainda, citada nesse mesmo artigo, que o INEM assegura menos de 10% da atividade, sendo o resto passado aos bombeiros, à cruz vermelha e aos helicópteros: “Externalizamos 93% da atividade do INEM”, disse Ana Paula Martins, abrindo a possibilidade de ter de constituir parcerias plurianuais com os bombeiros e Cruz Vermelha, que podem incluir contratos-programa.
Outra medida “peregrina” anunciada é a utilização, daqui em diante, de desfibrilhadores automáticos externos (DAE). “O modelo de utilização da DAE é muito restrito e deveríamos iniciar um processo de liberalização do uso de dispositivos de fibrilação externa, com o alargamento da obrigatoriedade aos cidadãos e obrigatoriedade de formação para os alunos do 12.º ano”, diz a ministra. Como se o alargamento do uso de desfibrilhadores automáticos fosse algo brilhante, enquanto ideia, para pôr nas mãos de adolescentes.
Ainda sobre o facto de ter reivindicado a tutela do INEM, a ministra disse que “por enquanto, que eu saiba, ao Governo e a cada ministro compete aquilo que entende que a sua equipa pode ou não pode, deve ou não deve fazer”. “Neste caso concreto”, continuou, “entendi que o INEM, nomeadamente pela situação gravíssima que estávamos a viver, devia depender da superintendência da ministra, razão pela qual decidimos, em conversa com a minha secretária de Estado, que passaria para a minha superintendência”.
Ana Paula Martins corre assim, contra tudo e contra todos, numa demanda, sem fim, na sua luta desenfreada para dominar e domar a saúde em Portugal e para isso pretende vir a colocar equipamentos sensíveis, nas mãos de gente sem o mínimo de experiência profissional. Aliás, de forma a garantir que vai ter o apoio do INEM prepara-se para aumentar disparatadamente o pessoal deste serviço e reformular-lhes as carreiras indo diretamente ao encontro de velhas reivindicações deste setor com aumentos superiores a 250 euros mensais entre outros bónus e acordos.
Para já, querida Berta, eu vou ficar a assistir de camarote, o que vai acontecer aos outros profissionais de saúde, quando virem os seus colegas do INEM aumentados, nalguns casos em mais de 25% da sua habitual remuneração salarial? Não sei se Ana Paula Martins sofre de alguma demência ou patologia grave, mas sou tentado a pensar em algo parecido. Por hoje é tudo, despede-se com um beijo, este teu amigo do coração,
Há 4 anos estávamos precisamente a entrar no confinamento parcial em vésperas da terceira vaga de Covid-19 que nos atacaria forte e feio em fevereiro do ano seguinte. As novas infeções diárias rondavam os 7.500 casos e as mortes estavam muito perto das 7 dezenas de fatalidades por dia.
Era uma coisa quase irracional o que Portugal estava disposto a considerar como uma espécie de novo normal. Tudo passa e a nossa memória apaga muito rapidamente as recordações das grandes tragédias, fica apenas aquela vaga sensação de que já vimos pior. Dou graças aos céus termos sido governados pelo PS nesses tempos de verdadeiro horror.
Nem quero pensar no que teria sido se quem estivesse no cargo fosse a atual Ministra da Saúde que ainda hoje se queixou de que: "Mais de 80% dos meios acionados poderiam ser rentabilizados. Muitas vezes acionamos meios para situações que não precisavam de um nível tão diferenciado de meios", disse Ana Paula Martins, que hoje está a ser ouvida na Comissão Parlamentar de Saúde sobre o INEM. Segundo a Ministra apenas 20% das chamadas do INEM deveriam estar a ser canalizadas para este serviço.
Questionada sobre o facto de ter chamado a si a responsabilidade da Inspeção Geral das Atividades em Saúde (IGAS), que está a inspecionar a falta de respostas do INEM que alegadamente poderá estar na origem de 11 mortes durante as greves na saúde, a ministra respondeu: "Nada do que eu diga vai convencer quem acha que isto foi para ter controlo sobre as decisões da IGAS". Afirmou cinicamente a responsável pela saúde em Portugal.
Aliás, para Ana Paula Martins, os portugueses chamam o INEM como quem chama, digo eu, um táxi para ir ao hospital e essa triagem é que tem de ser feita de uma forma mais eficaz. Na mesma postura a ministra reconheceu aos bombeiros "fundamentação em muitas queixas que colocam" e afirmou: "A articulação tem de ser melhor". Como se ao sacudir a água do capote o problema ficasse magicamente resolvido e não fosse tudo devido à falta de condições de dignidade laboral proposta por este Governo aos soldados da paz.
Ainda a propósito das condições em que o INEM opera, apontou a falta de georreferenciação, de uma aplicação que possa ajudar a responder a alguém que fale outra língua, assim como meios tecnológicos que permitam "traduzir a informação recolhida para os hospitais".
Porque, pasme-se o que a ministra precisa mesmo é de uma app que possa ser aplicada diretamente ao Instituto Nacional de Emergência Médica. Caramba Senhora Ministra uma app? Portugal está como um péssimo Serviço de Emergência Médica porque lhe falta uma app? E isso será algo parecido a uma algália?
Questionada novamente pelos deputados, insistiu que o INEM não poderá deixar de ter meios próprios de triagem, rejeitou qualquer privatização do Centro de Orientação de Doentes Urgentes (CODU) e sublinhou a necessidade de encontrar soluções tecnológicas, com apoio de Inteligência Artificial, para facilitar o trabalho dos técnicos.
Ora bem, segundo a assumida inteligência da nossa Ministra da Saúde, Portugal não tem falta de uma triagem médica mais especializada, o que faz falta, caramba, é mais apps e mais Inteligência Artificial. A minha vontade mesmo era dizer à ministra, preto no branco, onde é que ela poderia meter as apps e a put@ da Inteligência Artificial. E mais não digo Berta que o que já falei até enjoa, este teu amigo despede-se com um beijo franco,
Olá Berta, Foi a propósito do 4º. aniversário da imagem de Omran Daqneesh, que há 4 anos te escrevi esta carta, estava longe de imaginar que passado pouco mais de 4 anos eu voltaria ao tema. Desta vez é com uma primavera fora de tempo que aí regresso.
Uma primavera que se concretiza finalmente 13 anos depois de ter começado, em pleno outono. Finalmente o facínora Bashar al-Assad claudicou às mãos da oposição que o combatia, mas eu só recordo o menino de Aleppo. Daqui em diante, falta saber se nascerá para o povo sírio uma democracia ou um novo regime de fanatismo religioso.
A guerra na Síria só me faz relembrar o menino de Alepo quase 8 anos depois de ter sido colocado naquela ambulância. A sua imagem é das poucas que revejo muitas vezes, de noite, ao fechar dos olhos, como se aquela criança ainda hoje gritasse por justiça. Estou a falar do menino de Alepo, de rosto perdido, quase zombie, alheio ao mundo, retirado dos escombros. Aqui fica uma vez mais a minha homenagem…:
"O MENINO DE ALEPPO…"
Aleppo, Síria, Oito horas e trinta minutos da manhã, Bairro de Al-Qatergui, Verão quente, Muito quente, Em pleno Outono, Terra de horrores, Uma ambulância acaba de chegar, Qual anjo descendo até às portas do Inferno…
Rapidamente O socorrista Ammer Hamami, Corre para um edifício, Destruído à bomba, Para voltar Trazendo nos braços Omran Daqneesh, O menino de Aleppo, Que encontrou deitado sobre os escombros, Parecendo fatigado Depois de uma longa conversa Com a velha Morte… No rosto do infante O sangue quase secou, Mas tem demora…
O cabelo de pardal voando em liberdade É agora uma pasta turva, desalinhada, Sem brilho, cinzenta, A espaços arruivada por glóbulos secos Fugidos, há pouco, De um crânio fissurado Pelos detritos urbanos De um bombardeamento lançado Já noite finda. Nessa madrugada…
A boca não ri, O olhar parou de olhar Mas os olhos ainda Derivam sem sentido…
A face esquerda Está pintada de uma guerra Para a qual não foi chamado, Pintada não, manchada, Mas quase parece tatuagem, Uma rubra máscara de horror Só por zombies sonhada E os zombies nem existem…
Os lábios não falam, O menino não chora Nem chama por ninguém, O lado direito do rosto é obra prima de pó, De sangue, de barro, Dos aviões de Putin A mando do Governo Sírio, De Bashar al-Assad, Que o poder vicia, Corrompe (mas sabe tão bem).
Um verdadeiro tributo À hipocrisia Dos mandantes, Um dano colateral De cinco anos E pés descalços, Entre outros percalços…
A camisola de algodão, De mangas curtas, Ornada de bonecos coloridos, E o pequeno calção Subido a meio das coxas, Perderam juntos o design De pijama de verão, Viraram camuflado de soldado Que não vence batalhas, Que já perdeu a guerra Onde nunca tinha entrado…
Aleppo, Síria, Oito horas e quarenta minutos Da manhã, Ammer senta Omran Num banco cor de laranja Da ambulância De interior limpo, Quase imaculado, Um corpo estranho de puro Numa luta suja… E rapidamente o socorrista Volta a sair, Mais umas saídas, Na busca infinda por outras vidas…
O menino de Aleppo Ali só, ali, nessa viatura, Onde o contraste gritante da imagem Parece chorar As lágrimas Que Omran nunca verteu.
Subitamente, O menino leva a mão À face esquerda, Estrega o olho Invadido pelo seu próprio sangue E a máscara dessa face aumenta, Cresce, diaboliza E me atormenta. Enquanto a pele, Agora encarnada, Já chega ao queixo Ensanguentada… Com surpresa os seus olhos descem Sobre a mão Que, nesta hora, O sangue já mancha, Parece não entender a cor, A humidade ou o odor…
E eu vi tudo, E todo o mundo viu, Que o jornalista Mahmud Rastan Tudo filmou Para a História, para nós, Para as vergonhas do Século XXI, Nesta entrada sangrenta De um Terceiro Milénio Que continua negro, De trevas, de atrocidades, Coisas vulgares, Sem quaisquer novidades…
O menino de Aleppo Nunca chorou, Mas chorei eu por ele E vós também, Muitos de vós, E todos os outros Que viram o que eu vi. Voltará ele A sorrir na vida um dia? Entenderá alguma vez O que não tem sentido? O que se dá a um menino A quem a infância foi ceifada? O que se diz? O que se faz? Talvez o silêncio não diga nada… Talvez um dia ele fique em paz… Menino de Aleppo, Menino de Aleppo, Porque não choras de cara tapada?
Saí do sofá, Frente à televisão, E fui para a cama Estranhamente cansado Adormeci… Acordei de repente, Em sobressalto, Chorando o grito Mudo de Omran, O menino de Aleppo, O meu menino… Podia ser… podia…
Gil Saraiva
Por hoje me despeço Berta, deixo um beijo amigo, o mesmo de sempre,
Há quatro anos também ficou por te enviar uma carta sobre Mário Soares a propósito do seu 96º. aniversário de nascimento se fosse vivo. Na altura falei-te de como conheci a pessoa primeiro e o político posteriormente. O mundo que nos parece grande é na realidade uma aldeia pequenina.
Nos anos 70 pouco tempo depois da chegada de Mário Soares a Portugal conheci-o na Fuzeta onde ele através da mulher, a Drª. Maria Barroso passava, muitas vezes, férias. Ela tinha raízes familiares na aldeia e era frequente vê-lo na praia com os pés na água a conversar com os amigos da terra.
Foi na tasca de praia, do sr. Caetano onde o ouvi prometer, pela primeira vez, numa altura em que era ele que encabeçava o Governo Na Assembleia Constituinte, uma nova barra aos pescadores da Fuzeta, uma velha aspiração dos pescadores locais.
Anos mais tarde também o ouvi explicar que criar uma barra de raiz na terra era muito complicado pela forma como a areia, na barra, tinha a tendência de assorear, obstruindo a entrada.
Houve um domingo, pouco depois da hora do almoço, numa tarde quente de agosto, em que Soares e a esposa, tocaram à porta da minha casa. Fui eu quem foi abrir. Maria de Jesus Barroso perguntava-me simpaticamente se o Sr. Drº. Saraiva estava em casa e se poderia atendê-los. Mário Soares estava com um ar enjoado, visivelmente perturbado com alguma coisa.
Mandei-os entrar para a salinha da entrada que também servia de consultório médico do meu pai e fui chamá-lo. Soube nessa noite que o meu pai lhe diagnosticara uma ligeira intoxicação alimentar e três dias depois voltei a vê-lo na praia, na conversa, com duas pessoas que deviam ser visitas, pelo ar de Soares, bastante mais formal do que era hábito.
Em 1991 estive num jantar de campanha de Mário Soares à Presidência da República no restaurante do Hotel Eva, em Faro. Nessa altura já eu era, desde 1989, militante do Partido Socialista e ocupava um cargo na comissão executiva da Comissão Política Distrital do PS Algarve.
Logo à entrada para o hotel, ainda na receção, encontrei-me com Maria Barroso, que me reconheceu e me convidou para a sua mesa, durante o jantar que, diga-se, foi um jantar memorável em que estive mais de uma hora à conversa com Maria Barroso, que, posso afirmar sem problema de errar, era uma pessoa fabulosa.
Durante as passagens de Mário Soares pela Fuzeta falei por diversas vezes com ele e posso afirmar que era uma pessoa de uma simplicidade estonteante, simpático, cordial e bem-humorado. Agora que faria 100 anos a 7 de dezembro desde a data do seu nascimento, a minha melhor homenagem é mesmo dizer que Soares era fixe.
Uma pessoa simpática, nada petulante, muito cordial e com uma excelente memória para caras, tal como a esposa que me reconheceu imediatamente em 1991, uns 10 anos depois de me ter visto pela última vez. Por hoje é tudo, querida Berta, despede-se com um beijo carinhoso, este teu amigo,
Quanto há 4 anos escrevi a carta a falar-te que o Gelo no Ártico tinha atingido neste verão o segundo nível mais baixo desde que há registo foi pena que acabou por ser uma das cartas que não te enviei. Hoje, portanto, aqui vai a devida atualização. Sabias que o Ártico pode mesmo ficar sem gelo, sabias?
É verdade, e até é o mais provável mesmo e já daqui a dois anos e meio, ou seja, pode acontecer já em 2027. Isto porque o Ártico está à beira de um marco ambiental crítico que, segundo os cientistas, poderá acontecer já em 2027. De acordo com um novo e profundo estudo, a região poderá registar o seu primeiro dia de verão sem gelo dentro de dois anos e meio. Mas como é que algo assim é possível?
Bem, este ano, amiga Berta, a cobertura mínima de gelo marinho no Ártico, de apenas 2,65 milhões de quilómetros quadrados, é significativamente inferior à média de 4,25 milhões de quilómetros quadrados registada entre 1979 e 1992. Porém, para poderem fazer cálculos sérios, os investigadores fizeram 300 simulações informáticas para prever o futuro do Ártico. A maioria destes cenários prevê que o primeiro dia de verão sem gelo ocorra entre 2032 e 2043, mas, todavia, nove deles sugerem que tal poderá acontecer já em 2027. É a famosa Lei de Murphy em ação. Quando uma coisa corre mal, tudo corre mal.
Citada pelo Daily Mail, Céline Heuzé, da Universidade de Gotemburgo, sublinha que o primeiro dia sem gelo no Ártico marcaria uma mudança fundamental, fazendo com que o Oceano Ártico deixasse de ser uma região coberta de gelo e neve, enquanto refletores originais de luz e passasse a ser dominado pela água escura, quase negra do oceano.
Ora, é aqui que a porca torce o rabo, porque esta mudança levaria a que o oceano absorvesse mais calor solar, exacerbando o aquecimento global e dificultando a reforma do gelo marinho nos anos seguintes. Sim, porque a perda de gelo no Ártico também deverá perturbar os padrões climáticos globais.
Aliás, os estudos sugerem que o fim do gelo no ártico poderá conduzir a fenómenos meteorológicos mais extremos, incluindo a invernos muito mais frios no sul da Europa, bem como a ondas de calor no norte da Europa e uma maior frequência de incêndios florestais na Escandinávia.
Mas vamos por partes, por exemplo, em março de 2022, algumas zonas do Ártico registaram temperaturas 10°C superiores à média, uma tendência que continua a suscitar preocupações. Alexandra Jahn, da Universidade do Colorado, outra coautora do estudo que referi no início desta carta, salienta que o desaparecimento do gelo marinho do Ártico é inevitável, prevendo-se meses realisticamente sem qualquer gelo até à década de 2030. No entanto, a especialista sublinha que a redução das emissões de gases com efeito de estufa pode atrasar este resultado e ajudar a atenuar o esperado impacto.
Este mês de outubro foi o segundo mais quente de que há registo, logo seguido por 2023, com as temperaturas médias globais a atingirem uns espantosos 15,25°C. Ora, se tudo acontecer dentro dos padrões previstos e de acordo com o “Serviço Copérnicos para as Alterações Climáticas”, é quase certo que 2024 será o ano mais quente de que há registo, o que é, Berta, um triste record.
Nos últimos 30 anos, a extensão do gelo marinho do Ártico diminuiu 12% por década, e a extensão mínima deste ano foi mesmo das mais baixas de que há registo, mas quando se tenta prever o que pode acontecer o cenário é realmente drástico e dramático. As correntes do Atlântico podem até inverter os seus cursos e isso geraria tremendos fenómenos extremos. Seja como for, só nos resta ter esperança que o fenómeno aconteça apenas por volta do ano 2043 e não já, conforme parecem demonstrar a maioria das simulações informáticas.
É certo que vai acontecer, mas quanto mais tarde isto se passar melhor será para os velhos do Restelo que, como eu, Berta, não desejam ver o mundo num verdadeiro caos tão depressa. Por hoje, fico-me por aqui, deixo um beijo, deste teu velho amigo,
Quando há quatro anos atrás o PS deixou liberdade de voto aos militantes e socialistas, a quando da recandidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência da República, deixando Ana Gomes sem o apoio oficial do Partido nada fazia prever que passados quatro anos o drama fosse ainda Maior. Mas é! Não te cheguei a enviar essa carta na altura, mas desta vez segue mesmo e envolta num novo dilema. Quem vai o PS apoiar para as próximas presidenciais?
Ao que parece os militantes socialistas querem que o PS apoie Gouveia e Melo na corrida a Belém. Há vários militantes que estão a informar os dirigentes socialistas de que votariam em Gouveia e Melo para Presidente da República, facto que está a gerar preocupação dentro do partido. Faz sentido, até porque foi António Costa quem o descobriu. Daí que uma parte significativa do eleitorado socialista veja com simpatia a possível candidatura do almirante Henrique Gouveia e Melo à Presidência da República, porém, este facto está a gerar preocupação em alguns setores do Partido Socialista (PS). Segundo o diário Público, vários dirigentes têm recebido indicações de militantes que admitem que estão inclinados a votar em Gouveia e Melo caso a sua candidatura se materialize.
E até já existe quem se esteja a posicionar na grelha de apoiantes à partida, caso de Daniel Adrião, que sempre foi uma tendência minoritária no PS e um crítico de longa data de Costa, defendeu que o partido deveria considerar o apoio a Gouveia e Melo, argumentando que a direção precisa de “seguir a posição da maioria do seu eleitorado” e lembra que os militantes são apenas 5% dos eleitores socialistas. Daniel Adrião chega mesmo a dizer que: “Se as sondagens nos estão a dizer que uma parte significativa do eleitorado do PS está disponível para apoiar Gouveia e Melo, a direção do PS não pode ignorar isso”, referiu Adrião ao Público, enquanto considerava que o almirante era uma figura “da área do PS” que, ainda por cima, “inspirava confiança”.
Ainda por cima, as sondagens reforçam esta visão. Basta ver que na última pesquisa da Intercampus, Gouveia e Melo lidera com 23,2% das intenções de voto, enquanto que o pseudocandidato socialista mais bem posicionado, Mário Centeno, tem apenas 6,4%.
A popularidade do almirante, que se tornou uma figura conhecida do público quando assumiu a liderança da gestão da vacinação contra a covid-19, contrasta com a falta de consenso em torno de outros potenciais candidatos socialistas. A direção do PS, no entanto parece relutante em abraçar um eventual apoio a Gouveia e Melo. Pedro Nuno Santos já afirmou que desta vez: “o partido apoiará um candidato como há muito tempo não o faz”, e pareceu afastar o almirante da sua possível lista de possibilidades, ao afirmar: “O PS deve apoiar um candidato da sua área política. Não conheço o pensamento político do almirante Gouveia e Melo e é muito importante, quando apoiamos alguém, acreditarmos e conhecermos qual é o pensamento e o posicionamento político do candidato”, defendeu o líder socialista.
O secretário-geral também destacou nomes como António José Seguro, Ana Gomes e Augusto Santos Silva como alternativas possíveis, mostrando que o partido ainda não chegou a uma decisão final. Porém, se o PS não apoiar Gouveia e Melo arrisca-se a conhecer, mais uma vez o sabor amargo da derrota. No meu entender Nuno Santos já devia ter tido uma conversa com Gouveia e Melo, apurado o pensamento do Almirante e decidido se este se apresenta em condições de ser, ou não, o próximo candidato do PS à Presidência da República.
O que eu sei é que o homem dos olhos cinzentos, que parecem azuis quando não estão verdes, tem um problema numa das vistas e que anda sempre com um olho mais fechado do que o outro, mas daí a avaliá-lo como pirata vai uma grande diferença. Na política as pessoas primeiro conversam e conhecem-se e só assim podem tomar opções conscientes.
Eu não tenho a menor dúvida que o Almirante irá apresentar a sua candidatura em março próximo, quer o PS o apoie quer não. Também sei que Marcelo Rebelo de Sousa não pode com o homem, só não sei é porquê. Seria péssimo ver Gouveia e Melo apoiado pelo PSD, mas não tenho dúvidas que Pedro Nuno Santos terá de tomar rapidamente uma decisão se quiser partir na “pole position” da corrida às presidenciais. Mas, para mim, não restam dúvidas que Gouveia e Melo será candidato.Por hoje é tudo, minha querida Berta, despede-se com um beijo franco, este teu amigalhaço,
Conforme referi as escutas, anos a fio a João Galamba, foram uma verdadeira serra, cheia de montanhas, que pariram um rato. Para terminar a análise da última carta ainda ficaram algumas coisas por dizer. Vamos em frente.
Os magistrados do Tribunal da Relação de Lisboa lembraram o Ministério Público de que um projeto do tipo PIN, tinha direito a várias prerrogativas e em particular a “um regime especialíssimo, mais célere e mais simplificado, de obtenção de decisões, licenças administrativas” e que, na verdade, “não foi observado”, como realçam, nada de ilegal.
Acontece, porém, que o projeto estava “muito” atrasado e “que não era compaginável, à luz das mais elementares regras de senso comum, que um investimento destes valores, com vários parceiros económicos envolvidos, capital proveniente de outros países, com importantes impactos, no ambiente, nos objetivos da transição energética e digital e na economia portuguesa esteja mais de dois anos pendente sem que sejam proferidas as decisões necessárias a essa implementação”, apontam ainda os magistrados. No acórdão, chegam a notar o investimento já feito por privados de mais de 160 milhões de euros, referindo a expectativa de investir ainda mais dois mil milhões de euros. Pelo que concluem que todos os atos se justificam à luz das necessidades encontradas.
Assim, os Juízes acusam MP (Ministério Público) de “inaptidão”. O acórdão de 366 páginas inclui variadas críticas ao MP, que chega a ser acusado de “inaptidão”, referindo-se o uso de expressões “vagas” e “genéricas”. “As conversas telefónicas nada mais demonstram do que a sua própria existência, provam que aquelas frases foram ditas e foram proferidas por aquelas pessoas que surgem identificadas nas transcrições, como sendo os seus interlocutores.
Mas não são factos. São meios de prova. E a sucessão de conclusões ou ilações que o MP delas retira, não são nem uma coisa nem outra”, salienta o acórdão. O Tribunal da Relação de Lisboa praticamente acusa o Ministério Público de má fé e de se intrometer num negócio delicado que exigia um tipo de postura totalmente diferenciado do observado.
Os magistrados também desvalorizam as reuniões entre administradores da Start Campus e elementos do Governo, intermediadas por Diogo Lacerda Machado, consultor daquela empresa e amigo de António Costa, então primeiro-ministro. “Conversar com governantes do poder central ou do poder local ou com outros agentes da administração pública sobre interesses próprios não tem, só por si, nada de ilícito ou sequer pouco razoável”, salientam. “Falar não é, necessariamente, constranger ou forçar seja quem for a fazer o que não quer ou que não tinha previsto fazer ou decidir”, consideram ainda os juízes. Sendo que acabam por concluir que não há quaisquer provas contra António Costa. Já o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa foge ao assunto e antecipa “um português no Conselho Europeu”. Tentando com isso justificar a queda do Governo e a não manutenção de uma maioria absoluta no poder, por sua vontade própria e pelo desejo de ver o PSD a formar Governo em eleições futuras conforme veio a acontecer.
Com as costas a arder, Marcelo Rebelo de Sousa recusa comentar o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa que arrasa os argumentos do Ministério Público na “Operação Influencer”, considerando apenas que não há elementos de prova contra António Costa.
Ora, a legislatura anterior foi interrompida na sequência da demissão de António Costa, após ter sido divulgado que o então primeiro-ministro era alvo de um inquérito extraído do processo-crime “Operação Influencer”.
Mais ainda. o Presidente não aceitou a substituição do primeiro ministro como se os portugueses em vez de terem votado num partido, tivessem votado num Primeiro Ministro, o que é inteira e absolutamente falso. Foi um verdadeiro Golpe de Estado orquestrado pela Procuradora Geral da República e o Presidente da República e disso Marcelo não se livrará nunca, principalmente quando a história analisar a sua enviesada atuação e comportamento.
Vários meses depois, e após a realização de eleições e de ter tomado posse o Governo da Aliança Democrática, o caso judicial parece esfumar-se na falta de indícios de crime. Apesar de António Costa não ser arguido no inquérito, os juízes do Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) repetem, por diversas vezes, que não há indícios contra o ex-primeiro-ministro num acórdão divulgado, que arrasa, por completo, o Ministério Público. Os magistrados entendem que o argumento do Ministério Público (MP) de que Diogo Lacerda Machado, um dos arguidos do processo, usou a sua amizade com Costa para favorecer os interesses da Start Campus no centro de dados em Sines, é uma mera suposição que resulta única e exclusivamente de “juízos especulativos”.
Ora, se não há indícios de crime, a carta da Procuradora Geral da República nunca deveria ter existido. Sendo deveras suspeita a sua intervenção pessoal no processo e o parágrafo que acrescentou à famigerada carta, levando obviamente à demissão de Costa. Tratou-se tudo de um Golpe de Estado iniciado pela senhora Procuradora e concluído pelo Nosso Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa.
Aliás, “O único facto concreto protagonizado pelo primeiro-ministro foi ter estado presente num evento de apresentação do projeto, no dia 23 de abril de 2021, no qual também estiveram presentes o então Secretário de Estado Adjunto e da Energia, João Galamba, o então Ministro da Economia, Pedro Siza Vieira”, escrevem os juízes no acórdão. “De uma relação de amizade com um membro do Governo, aliás claramente assumida de forma pública e reiterada por ambos os protagonistas, tem de resultar a conclusão inexorável de que houve tráfico de influências, ou corrupção ativa ou passiva, ou prevaricação?”, chegam a questionar os magistrados perplexos com as alegações apresentadas pelo Ministério Público.
Já Marcelo não comenta, pois o Golpe está dado e executado e de forma perfeita, agora já lhe é possível prever o fim do caso contra António Costa. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, recusa-se agora, num novo papel de anjinho, comentar as conclusões do Tribunal da Relação de Lisboa, mas antevê que as suspeitas contra o ex-primeiro-ministro acabem por dar em nada, só falta mesmo pedir desculpa pelo seu ilegítimo golpe de Estado Institucional.
“Tenho a sensação de que começa a ser mais provável haver um português no Conselho Europeu, neste próximo Outono, em Bruxelas”, destaca, cinicamente Marcelo, a acenar com a cenoura a Costa. O Presidente da República aceitou a demissão de Costa e, dois dias depois, anunciou ao país a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições para 10 de março passado. Eleições estas que foram ganhas pela Aliança Democrática, coligação entre o PSD, partido a que Marcelo já presidiu, o CDS-PP e o PPM.
A decisão de Marcelo foi muito criticada, e ainda mais é agora com as conclusões da Relação. Mas o Presidente da República recusa comentar qualquer decisão judicial concreta. “Não vou comentar as decisões de justiça”, sublinhou, repetindo a ideia de que há uma forte probabilidade de António Costa se tornar presidente do Conselho Europeu. Como se a prática de um Golpe de Estado pudesse ser legitimada por um tacho na Europa.
Em dezembro de 2023, Marcelo já tinha desejado que o ex-primeiro-ministro “estivesse em condições de ter um lugar na Europa”. No entanto a PGR continua com o caso em aberto e não se prevê quando é que o encerrará. Primeiro é preciso que o povo esqueça o maquiavélico plano de Lucília Gago em concluiu, no meu entender, com Marcelo Rebelo de Sousa.
Tudo isto não passou de um Golpe de Estado, durante a permanência de uma maioria absoluta no Governo e perante um Presidente reduzido à sua menor expressão. A lei pode não ter sido violada, mas a consciência e o voto dos portugueses foram total e objetivamente fulminados pelas atuações da Drª. da PGR e pelo PR. E fico-me por aqui, despede-se com um beijo, Berta, este teu amigo de sempre,
Foi há 4 anos que o Conselho de Ministros aprovou o decreto que regulamenta a declaração do estado de emergência efetuada pelo Presidente da República com a duração de 15 dias, das 00h00 de 24 de novembro às 23h59 de 8 de dezembro. Se bem me lembro estávamos em plena pandemia: Cheguei a escrever-te uma carta sobre o assunto que nunca saiu da minha secretária.
Porém, entre outras coisas importantes que aconteceram, muita água rolou debaixo da ponte. Fazendo as devidas atualizações para os dias de hoje convém lembrar que a justiça andou anos a fazer escutas consecutivas a elementos do Governo e estou-me a referir a João Galamba, que chegou a ser apresentado na imprensa como um verdadeiro malandro. Mas afinal, como está o caso Galamba? Aliás a minha carta de hoje terá de ser dividida em duas. Na primeira falarei do que penso do caso Galamba e na segunda do Golpe de Estado da PGR e do Presidente da Républica.
Quais foram os crimes que derrubaram o Governo? É importante não esquecermos coletivamente alguma história recente. Afinal, não há crimes no caso que derrubou o Governo? Será que Galamba só queria o melhor para o país?
Quem gosta de teorias da conspiração adora estas intrigas que se desenvolveram nos corredores do poder. Com efeito, tudo é possível quando a justiça mete indevidamente o nariz onde não é chamada.
É conhecido de todos nós o acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa (TRL) relativo aos recursos das medidas de coação da “Operação Influencer“, que, a data altura explica: “As interpretações que o Ministério Público (MP) faz das sucessivas conversas telefónicas que andou a escutar ao longo de anos, assentam em meras proclamações, não concretizadas em circunstâncias objetivas de tempo, modo ou lugar”, aponta criticamente o TRL.
Aliás, os magistrados do Tribunal da Relação de Lisboa desvalorizam total e completamente os indícios apresentados pelo MP para suportar os alegados crimes de tráfico de influência, recebimento indevida de vantagem, prevaricação e corrupção feitas pelo MP a seis arguidos, considerando que não há provas de nenhum dos crimes. Chegando a comentar em off que tudo não passou de uma caça aos gambozinos ou “galambozinos” se quisermos ser mais irónicos na descrição do relatado.
Para o TRL, as interpretações do MP, retiradas das escutas telefónicas, são meros “juízos especulativos” e “não ultrapassam o patamar de vagas interpretações que só vinculam o próprio MP”.
O Tribunal da relação puxa as orelhas ao Ministério Público e considera que João Galamba só estava preocupado com o interesse do país, pois que, no seu caso específico, o ex-ministro das Infraestruturas e um dos arguidos do processo, demonstrou apenas e somente “empenho e vontade política” em “impulsionar todo o processo administrativo necessário” à implementação do “data center” de Sines e do parque de hidrogénio, sendo esta a conclusão apontada pelos os juízes da Relação, relevando que o ex-governante estava apenas preocupado com o interesse nacional.
Quanto ao arguido Vitor Escária “E há disponibilidade do então chefe de gabinete do ex-primeiro-ministro para ouvir os argumentos da Start Campus”, a empresa promotora do data center, e para “promover contactos com membros do Governo”, ela apresenta-se como inteiramente legitima, aponta ainda o TRL.
E embora o Tribunal da Relação de Lisboa não encontre indícios de qualquer favorecimento indevido ao megaprojeto em Sines, os magistrados realçam ainda que este empreendimento tinha direito a um “tratamento mais favorável” por estar classificado como de Potencial Interesse Nacional (PIN), devido à sua importância estratégica para o país.
Ou seja, são falsas as alegações do Ministério Público e a crucificação de João Galamba que dá razão a António Costa tornando assim devidamente legitimada a sua teimosia em não ter querido demitir o seu Ministro.
Então porque não fecha o MP o processo e a investigação de uma vez por todas? A razão é simples: Porque isso poria em causa a legitimidade da ex-Procuradora Geral da República em fazer cair um governo de maioria absoluta. Demonstrando a evidência de um complot orquestrado para criar um golpe de Estado com a bênção do Presidente da República, desejoso de colocar o PSD no poder como acabou por acontecer.
Por hoje fico-me por aqui, amanhã envio a segunda parte desta novela que fez cair uma maioria absoluta, e que colocou um governo minoritário no poder, despede-se com um beijo, este teu velho amigo, porque, querida Berta, a vida é assim…
Foi Há 4 anos que te falei de um outubro muito frio em Portugal enquanto a média mundial apontava para que o outubro fosse o quarto mais quente de sempre. Explicava também porque fomos exceção. Mas atualizando a Carta para os dias de hoje, mudo de Hemisfério para te falar da vaga de frio que, este inverno passado atingiu a Patagónia. A vaga foi de tal forma perigosa que os animais morreram congelados durante a invulgar onda de frio extremo na Patagónia.
Esta onda de frio incomum, em julho passado, foi a segunda em três meses na região, mas não altera a tendência de aquecimento global, avisam cientistas. O Inverno no Hemisfério Sul acontece durante o nosso verão no Hemisfério Norte, e as baixas temperaturas são frequentes nessa época na Patagónia e no Cone Sul da América Latina. Este ano, porém, os termómetros chegaram aos -15°C, uma condição meteorológica considerada extrema e incomum. O frio levou os patos a morrerem congelados em lagoas e ovelhas a ficarem presas em pilhas de neve, perfeitamente petrificadas.
Mas, ao fim e ao cabo, qual é a origem do frio extremo na Patagónia? Ora, as baixas temperaturas na Patagónia e no Cone Sul da América Latina (Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e sul do Brasil) devem-se à chegada de ar frio da Antártida. É normal a alta pressão no extremo sul do continente puxar o ar polar para o norte. Isso acontece quando o chamado vórtice polar está fraco, ou seja, o vórtice é uma massa giratória de ar que se forma numa espécie de cinturão de ventos fortes e que mantém o ar frio sobre o Polo Sul.
Segundo as palavras do especialista Raúl Cordero: “A fraqueza incomum do vórtice polar antártico aumenta a probabilidade de que as massas de ar polar escapem para as áreas habitadas do Hemisfério Sul. Em outras palavras, a probabilidade de ondas de frio aumenta.”
Um relatório de evolução climática da direção meteorológica do Chile demostrou, por exemplo, que 2023 foi o ano mais quente registado no país desde 1961 e que há uma tendência de ocorrência de eventos climáticos extremos. “O Chile teve o seu quarto ano consecutivo de temperaturas quentes, com um aumento médio de +0,15°C por década na temperatura média”, diz o documento.
Ora, querida Berta, quer se queira, quer não, a realidade é que o clima está a mudar e mais rápido do que gostaríamos. Se quisermos salvar grande parte das cidades costeiras, como Lisboa, nos próximos tempos vamos ter que inverter este aquecimento ou então construir diques imensos para suster a inevitável subida das águas do atlântico. É tudo uma questão de tempo e não se evita coisa nenhuma sem alterações drásticas de comportamento, aliás, neste ritmo galopante um dia destes o Algarve começará na serra do Caldeirão e Campo de Ourique será uma freguesia à beira rio plantada. Por hoje é tudo, despede-se com um beijo, este teu amigo de sempre,