Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Estou a pensar em ti, “yéh, yéh, nanana, na yéh”! Desculpa lá a brincadeira, mas a música da “olá nina” dos “Da Weasel” veio-me à cabeça. Continuando a saga de ontem, sobre a minha rua no Bairro de Campo de Ourique, chega hoje a vez de falar do Pingo Doce, pertencente ao Grupo Jerónimo Martins, depois da carta passada ter sido dedicada ao Go Natural da Sonae.
Ouvi na televisão o nosso primeiro-ministro chamar de inadmissível e repugnante a atitude dos líderes holandeses, na reunião dos dirigentes governamentais europeus, pela forma como estas cabeças que, para além de serem contra a mutualização da dívida dos países na Europa, e opondo-se à criação dos chamados “eurobonds” (uma forma de dividir igual e solidariamente por todos a despesa conjunta no confronto com o coronavírus), ainda tinham referido que o importante era inspecionar o modo como Espanha estava a gerir o dinheiro. Ouvi e gostei. A expressão repugnante de António Costa se pecou por alguma coisa foi apenas por contenção.
De realçar que se tratou de uma observação deveras grotesca perante a realidade atual. Depois disso, começo a pensar que está na altura da Galp, a Jerónimo Martins e todas as empresas do PSI-20 da Bolsa Nacional abandonarem os holandeses à sua sorte e regressarem a Portugal, mesmo que, para isso, tenham de pagar alguns impostos a mais.
Questiono-me se a honra e a decência são coisas a que se possa atribuir um preço de mercado, ou seja, estará, hoje em dia, a honra à venda? Estou a imaginar o mercado de ar livre chinês, de venda de alimentos e animais vivos e mortos, em Wuhan, onde (ao lado das bancadas de ratazanas peladas, de cobras, de cães e de gatos, cujo abate se faz ao vivo, de bidões a transbordar de morcegos mortos) poderiam existir bancas imaculadas com os representantes máximos de algumas empresas nacionais (como são os casos da Galp, da EDP, da EDP Renováveis, da REN, do Pingo Doce da Jerónimo Martins, do Grupo Sonae, dos CTT e da Navigator, entre outras mais) a vender honra, às postas, bem ao lado do pernil de cachorro ou do gatinho descabeçado pronto a ir para o forno.
É que, depois desta tomada de decisão, dos representantes holandeses e da sua total falta de respeito e solidariedade para com todos os europeus, eu não consigo entender como é que as principais empresas do nosso mercado bolsista conseguem manter a face, continuando sediados num país que mantém a descriminação dos povos do Sul da Europa. Não só demonstra falta de honra, como de total ausência de vergonha na cara. Se Costa, embora contido, esteve bem, os donos disto tudo mereciam uma lição idêntica de ética e moral por parte dos portugueses.
E se todos nós deixássemos de frequentar o Continente e o Pingo Doce e passássemos para o Minipreço ou para os pequenos mercados e simultaneamente trocássemos a Galp e a EDP pela Endesa ou a Iberdrola? Eu já o fiz, evito ao máximo que posso utilizar empresas com sede ou com os negócios a rodar pela Holanda, país que não é à toa que é chamado de Países Baixos, eles estão mesmo, abaixo de cão, e nem mesmo esta expressão é a mais feliz. Contudo, eu sou só um.
Se eu fosse político e tivesse a habilidade de Costa, a ponderação de Rui Rio, a garra de Catarina Martins, a teimosia de Jerónimo de Sousa, o impulso voluntário do Chicão e o descaramento arrogante de Ventura, talvez conseguisse criar um movimento que levasse os portugueses a agir nesse sentido, infelizmente, porém, sou apenas um jornalista e um escritor editado maioritariamente nas gavetas do meu escritório, enfim, um poeta, que, ainda por cima, está fora de moda nesta que é a era da imagem. É uma pena.
Pronto, acabo de reparar, que deixei a minha análise ao Pingo Doce para trás. Desculpa lá, Bertinha. A minha energia para refutar estas coisas absurdas fez-me desviar da finalidade desta carta. Mas regresso agora ao tema. Mais vale tarde do que nunca. A foto de hoje é uma montagem da Rua Francisco Metrass, onde podes ver bem a quantidade de gente que agora inunda a minha rua e só vês o Pingo Doce.
Mesmo fechando às 5 da tarde, este supermercado, continua a ser a principal referência de compras alimentares desta zona ou não fosse o eleito pela classe média para as aquisições gerais. Por isso mesmo é normal, agora que as pessoas não se podem acumular no interior, que a rua tenha decuplicado em indivíduos espalhados pelo passeio.
Fico até hesitante se hei de chamar filas ou bichas ao que vou vendo por aqui. Seriam filas se efetivamente todas as pessoas mantivessem os 2 metros da distância de segurança, conforme o recomendado pela DGS, contudo, partes há em que a proximidade é por demais evidente. Ora, nesse caso, talvez seja mais correto empregar o termo bichas, pois aquela gente parece realmente querer pegar de empurrão. O que te parece, minha amiga?
Sei que não é a melhor das imagens para terminar uma carta, mas fazer o quê? Aconteceu. Despeço-me carinhosamente. Se não aparecer nada mais urgente, nas próximas cartas falarei do Minipreço e da Farmácia Porfírio. Recebe um beijo sorridente do teu amigo,
Não sei se alguma vez te cheguei a levar ao Stop do Bairro antes do proprietário, o João Sabino, falecer e antes mesmo de ter de mudar o restaurante mais icónico do Bairro de Campo de Ourique para Campolide. Era um homem extraordinário o João, foi com muito pesar que, na altura, o acompanhei até ao seu último destino. Deixou-me umas saudades imensas este meu velho amigo.
Não só eu perdi um grande amigo como o bairro perdeu uma das suas figuras maiores. Estava-te a perguntar isto porque eu tinha começado a organizar-lhe a garrafeira do restaurante, apenas por amizade, precisamente, na altura em que ele foi expulso pela senhoria, também ela aqui do bairro, naquele que foi um contrato de arrendamento (e de abuso de confiança) em que ele, coitado, não leu que o novo período de renovação não era atualizável e, na sua boa fé, o assinou.
Diz-me minha amiga, nunca te falei da Garrafeira do Stop do Bairro? Pensando no assunto, acho que não. Infelizmente, também o filho mais novo do João Sabino, haveria de falecer pouco depois vítima de uma overdose, não sem antes ter dado sumiço a mais de um terço daquela maravilhosa adega vendendo ao desbarato, pela necessidade de alimentar o vício. Contudo, isso são contas de outro rosário. Aquilo de que te queria mesmo falar era daquela que foi a maior e melhor garrafeira de vinho tinto do Bairro de Campo de Ourique.
Foram precisos 3 meses, com a ajuda de mais 3 pessoas, o Manuel, irmão do João, a Patrícia, funcionária da casa e o Victor, um bom amigo do proprietário, para elaborar um catálogo de 5 volumes, todos de lombada de 8 centímetros, com a classificação e levantamento dos vinhos tintos em causa. A garrafeira teria no seu conjunto, aos preços de hoje, um valor global a rondar os 200 mil euros, se estivesse ainda completa.
Alguns vinhos já só valiam pela antiguidade, por serem ainda datados do século XIX. Mas era nos vinhos tintos de excelência que o destaque era absolutamente admirável, desde as garrafas, ainda em caixas, da “Quinta de Vale Meão”, de “Pêra Manca”, às de “Barca Velha”, tudo se conseguia encontrar na notável coleção de garrafas do precioso néctar de fazer inveja às “Caves de Baco”, se o deus da antiguidade tivesse uma adega. João faria, em maio deste ano, 83 anos e deixou-me uma saudade imensa.
Uma boa parte da coleção ainda hoje se encontra disponível na lista especial de vinhos do Stop do Bairro, agora deslocada para Campolide, mas mantendo a notabilidade da cozinha da Dona Rosa, a célebre e maravilhosa cozinheira (e ainda sócia) do restaurante.
É com a memória de um excelente espaço e de um maravilhoso ser humano que me despeço por hoje minha querida, recebe um abraço apertado, deste teu amigo,
Já te estava a escrever outra carta quando recebi um aviso no meu correio eletrónico. Fui ver. Ao abrir deparei-me com o anúncio da realização de um evento que me tinhas pedido para avisar quando voltasse para uma nova edição. Não sei se ainda te lembras, mas quando te enviei o resumo dos eventos do primeiro trimestre do ano passado em Campo de Ourique, falaste no interesse que tinhas em saber quando se voltaria a realizar este ano e pediste para te prevenir. Infelizmente a minha notícia parte um pouco tarde, começou hoje e termina amanhã. De qualquer maneira e como o prometido é devido, aqui fica o anúncio.
Estou certo que já adivinhaste do que estou a falar. Com efeito, começa hoje a Quinta Edição do Mercado do Vinho e Enchidos no Mercado de Campo de Ourique. Como já é habitual, serão 2 dias dedicados a quem aprecia os aromas e as degustações de Baco enquanto prova ou compra alguns dos melhores enchidos nacionais. Não faltará o paio, o chouriço, a linguiça, a farinheira, a morcela e a tradicional alheira, mas há mais surpresas, se te apetecer fazer uma visita a Lisboa, de preferência amanhã, uma vez que será esse o dia principal do evento. Serás, obviamente, muito bem acolhida por este teu amigo.
O primeiro dia, hoje, 28 de fevereiro, conta, a partir das 21 horas, com o acompanhamento musical do grupo Groovelanders, banda sobre a qual já te falei noutras vezes, que inclui os elementos habituais, nomeadamente, Robert Light, Sescon, Mano e Felippe. Quanto às sonoridades, minha querida, eles começam nos anos 50 e, sem esquecer os 60, 70, 80 e 90, chegam mesmo até alguns dos maiores sucessos da atualidade. Os géneros são variados, desde o pop ao rock, jazz, soul, funk e disco. Uma excelente banda para ouvir enquanto, sentados numa das mesas da praça central do Mercado de Campo de Ourique, se bebe um bom copo de vinho tinto e nos deliciamos com um delicioso paio fumado concebido na mais genuína tradição nacional.
O dia 29 conta com o principal cartaz desta edição do Mercado do Vinho e Enchidos. Podes acompanhar as variadas provas de vinho de marca, como, por exemplo, Vinalda, Felix Rocha, Iberica Wines, Família Carvalho Martins, Casa Santos Lima e José Maria da Fonseca. Por outro lado, vão haver 2 workshops a não perder. O primeiro, pelas 5 da tarde, organizado pela Adega Caminhos Cruzados e logo de seguida, pelas 18 horas, com o patrocínio da Best Wine Team, que é uma empresa de produção, distribuição e exportação de vinhos nacionais, terá lugar o segundo e último workshop do dia.
Não te referi, por me parecer óbvio, mas onde há vinho e enchidos também se encontram os azeites e os queijos de diferentes regiões do país. Aliás, nenhum evento deste género estaria completo sem a prova dos queijos portugueses a acompanhar os enchidos. O realce para os enchidos deve-se não só ao seu maior peso neste evento, mas, principalmente, pela importância que têm tido ao longo destas 5 edições do Mercado do Vinho e Enchidos, neste local tão característico, moderno e tradicional como é o Mercado de Campo de Ourique.
Quanto à animação do dia 29 podes acompanhar os sons e a dança do Rancho Folclórico do Bairro da Fraternidade, bem na hora do almoço, pela uma e meia da tarde e, depois, para abrir o apetite para o jantar é hora de se fazer silêncio porque se vai cantar o fado. Em palco estarão Maria Carvalho Silva, António Duarte Martins e Jerónimo Mendes.
Francisca Costa Gomes inicia o seu espetáculo pelas 21:30. A cantora nacional da Música Soul, uma voz ímpar no panorama português, é, a meu ver, razão necessária e imperativa para não se perder esta 5.ª edição do Mercado do Vinho e dos Enchidos no Mercado de Campo de Ourique. Recomendo-te que procures uma das suas músicas no youtube, vais ficar espantada, amiga Berta, com o que vais ouvir. Recomendo especialmente a música original da cantora, denominada “Gaducho”. Ninguém diria que estamos a escutar a mesma menina que aos 17 anos foi rejeitada no concurso “Ídolos”. Agora, 10 anos mais tarde, dá gosto ouvir a sonoridade e o timbre únicos de Francisca Costa Gomes.
Com esta panorâmica do que podes encontrar neste final de fevereiro no Mercado de Campo de Ourique me despeço, com um beijo amigo,
Peço desculpa por continuar dentro da temática do meu bairro, mas Campo de Ourique é mesmo assim, cheio de paixões e carregado de sentimentalismos, recordações, saudades e exclamações apaixonadas.
Uma senhora muito simpática questionou-me hoje, no Facebook, se eu ainda tinha o mapa do bairro, o mesmo que publiquei em A2 no “Javali de Campo de Ourique” e, mais tarde, em A3 no magazine Lisboa com Alma. Falando em nome dela, e de umas amigas, indagava-me sobre a possibilidade de o publicar numa das próximas crónicas, pois que, tinha possuído o exemplar que fora editado em A2, em papel de jornal, mas, nas últimas chuvas, deixara-o perto de uma janela aberta e perdera o mapa.
Depois de trocarmos um diálogo, que muito feliz me deixou, combinei com ela inclui-lo na tua carta hoje, porém, sem a legenda que é muito extensa e em letra muito pequena, difícil de digitalizar e de voltar a publicar com um mínimo de qualidade.
Conforme poderás constatar a forma de um javali parece-me evidente ao se olhar para os limites do bairro. Para ser um elefante, como alguns reivindicam, teria de ter uma tromba maior na zona que, para mim, me parece bem mais um focinho, do que outra coisa qualquer. Contudo, também dou razão a quem ache seja o que for.
Afinal, o que é realmente importante é o mapa do bairro em si e não se parece um javali, um elefante ou um qualquer outro animal com pernas e focinho, não interessa mesmo. A referência ao javali era apenas uma curiosidade por jogar com o temperamento de um bairro, sempre vivo e em evolução constante, de renovação em renovação, dentro dos seus limites geográficos.
Podem fechar este mês 10 lojas e 5 restaurantes, mas, logo no mês seguinte, abrem outros tantos ou mais, se preciso for. Criando-se esta dinâmica quase selvagem do bairro, que luta para manter essa identidade magnifica de continuar a ser o maior centro comercial de ar livre de Portugal. Isso sim é que é bonito e realmente relevante.
Ainda na semana passada abriu um novo restaurante que visitei e que muito me agradou. Bom ambiente, gente bonita no atendimento, excelente comida com assinatura de chef de cozinha e uma música ambiente deveras agradável. Apenas um pouco carote para o meu bolso pouco abonado, mas não me vou alargar mais, pois vou-te falar dele numa das próximas crónicas, porque acho que realmente merece o destaque.
Com esta pequena surpresa, a revelar proximamente, me despeço de ti, certo de que vais achar graça ao meu mapa. Recebe, minha querida Berta, um beijo bem repenicado e um forte abraço, deste teu eterno amigo,
Escrevi ontem um requerimento para a Câmara Municipal de Lisboa. Não fiques intrigada, isto sou apenas eu farto dos abusos praticados nas cargas e descargas dos 3 supermercados da Rua Francisco Metrass em Campo de Ourique. Já se tornou banal os camiões chegarem antes das 6 da manhã, como se fossem realmente os Reis da Rua. Nem sequer distingo o Minipreço, do Pingo Doce ou do Go Natural (da Sonae). São os 3 em conjunto que geram o problema. Em resumo, o direito ao descanso da vizinhança e ao respetivo silêncio, não tem lugar na ordem de prioridades destas superfícies do retalho.
Mando-te, embora tenha tapado os meus dados pessoais com uns “aliens”, uma cópia do requerimento enviado para a autarquia. Nele solicito 3 coisas:
Uma fiscalização devidamente bem elaborada que acabe, definitivamente, com os abusos praticados no que se refere aos horários de cargas e descargas presentemente em vigor na Rua francisco Metrass em Campo de Ourique, mas uma fiscalização que multe e penalize esta gente de acordo com o que a própria lei prevê;
Um esclarecimento sobre como é possível uma deliberação e regulamento camarário se poderem sobrepor aos Decretos-Lei que se encontram em vigor no que concerne ao Regulamento Geral do Ruído.
Um pedido de alteração do horário de funcionamento das cargas e descargas, para tentar que o mesmo só seja autorizado a funcionar a partir das 8 horas da manhã.
Eu sei que provavelmente esta última solicitação vai cair em saco roto. Afinal estas cargas e descargas afetam pouco mais de 200 pessoas. Um peso que pode não chegar para obrigar a Câmara Municipal a repensar o horário atribuído a estes “aliens” que, por não pertencerem ao bairro, se estão nas tintas pelo respeito de vizinhança que deveriam ter.
Contudo, se for efetuada uma fiscalização séria aos abusos no que aos horários diz respeito, pode ser que, com sorte e algum bom senso, deixem de existir cargas e descargas antes das 7 da manhã, o que, a acontecer, já era um progresso muito significativo.
Estou ainda curioso de saber como a Câmara vai ou não contornar o facto de estar a fazer letra morta do Regulamento Geral do Ruído ao colocar horários de carga e descarga de camiões, em áreas residenciais, antes da hora estipulada por aquele regulamento.
Prometo enviar-te notícias assim que obtiver uma resposta final dos serviços. Porém, caso tudo fique em águas de bacalhau, estou decidido a avançar para um abaixo assinado a enviar conjuntamente com um segundo requerimento, espero é que isso não seja preciso, mas apenas pela trabalheira que dá e pelo tempo que demora.
Por hoje é tudo, despeço-me com um abraço enorme, sempre saudoso, este que não te esquece,
Já lá vão 8 anos, desde que a 21/02/2012, uma terça-feira em dia capicua, como o que recentemente passámos, em que lancei a primeira magazine, em formato A4, denominada Centro Comercial de Campo de Ourique, que apenas durou 3 números e que, haveria de dar lugar, até 2015 à magazine Lisboa com Alma, que lançou mais 13 números, quer com publicação digital, quer em papel.
O conteúdo continuou a ser dedicado à alma de Lisboa, ou seja, a Campo de Ourique. De realçar que, no quarto e último ano, o formato foi alterado, a pedido dos leitores, de A4 para A5. A magazine só não se manteve até hoje, porque a exposição à austeridade, e a consequente falta de verbas extras no comércio do bairro, para publicidade, acabou por se tornar fatal.
As 68 a 128 páginas da Lisboa com Alma, tinham uma composição interessante, pois que a administração decidira nunca ultrapassar em publicidade mais de 50% do total do espaço da revista. Isto deu azo ao lançamento de alguns artigos de fundo sobre o bairro, as suas gentes e a sua história, que muito orgulho tive, enquanto editor, a trazer à luz.
Ao todo foram editados 48 mil exemplares da revista, a uma média de 3 mil por publicação, foram realizadas mais de 30 entrevistas com personalidades do bairro, o que foi verdadeiramente enriquecedor. Também se publicaram artigos de fundo sobre a Casa Fernando Pessoa, a Casa Museu Amália Rodrigues, o Museu João de Deus, o CACO (o clube Atlético de Campo de Ourique), a centenária Padaria do Povo e a sua capacidade de resistir ao passar dos anos, o Geomonumento da Rua Sampaio Bruno.
Ainda tivemos tempo para as histórias do Ginásio Clube Português, da Sociedade Filarmónica Alunos de Apolo, da Panificação Mecânica que, situada numa esquina da Rua Silva Carvalho (números 209 a 223), já ultrapassou, também ela, o século de existência, pois que nasceu em 1902, e ainda descrevemos o nascimento do “Amoreiras Shopping Center” e do “Amoreiras Plaza”, como também dedicamos várias páginas à “Fundação Maria Ulrich”, ao Quartel de Campo de Ourique e à nossa Associação Humanitária Bombeiros Voluntários de Campo de Ourique.
Contudo, o que mais gozo me deu, foi a criação dos prémios de excelência dedicados aos serviços, comércio e restauração de Campo de Ourique. Digo isto porque, a grande maioria dos negócios do bairro premiados, na sua respetiva categoria, agraciados com o galardão e diploma -” Lisboa com Alma”, ainda hoje, seis anos depois da última entrega, continuam a ostentar, nas suas paredes, a atribuição do referido reconhecimento, com o orgulho bem vivo de o terem recebido. Mantive até hoje a propriedade intelectual do nome “Lisboa com Alma”, quem sabe…
Este quem sabe, amiga Berta, tem a ver com a minha esperança de voltar, um dia, a relançar no bairro este prémio maravilhoso que tanta alegria deu a muita gente.
Por hoje fico-me por aqui, despeço-me de ti com um beijo carinhoso, este teu amigo de todos os dias,
Fez este mês 6 anos e meio que lancei em Lisboa, no Bairro de Campo de Ourique, um jornal local gratuito, semestral, destinado ao bairro e a quem o visitava. A ideia manteve-se viva e ativa durante 3 anos e permitiu que fossem editadas 6 publicações e distribuídos um total de 18 mil jornais. Foi uma iniciativa que me ajudou imenso a desenvolver a minha relação de proximidade com as duas freguesias que compunham, à época, a zona a que me dediquei, nomeadamente a freguesia de Santa Isabel e a Freguesia de Santo Condestável. Foi um trabalho gratificante e extremamente enriquecedor para um jornalista profissional que, como eu, se dedicava pela primeira vez à imprensa local.
Hoje em dia, as duas freguesias estão unidas e tomaram o nome do Bairro, passando a chamar-se Freguesia de Campo de Ourique, pelo que constituem a mais densa freguesia de Lisboa em termos de população e de concentração de comércio e serviços, num total de quase 2.500 empresas de comércio, negócios e serviços, encaixadas numa área de 1,65 quilómetros quadrados, com uma população que ultrapassa os 25 mil residentes.
Para fazeres uma ideia mais abrangente do Bairro, basta que te dê a noção que no número de estabelecimentos ligados à restauração ultrapassam já os 250, incluindo quiosques alimentares, padarias, cafetarias, leitarias, pastelarias, confeitarias, doçarias, cafés, tascas, tasquinhas, snack-bares, bares, pubs, “bistros”, “croissanterias”, “gastropubs”, cantinas, postos sociais de refeições, mercearias com refeições, “take-aways”, churrasqueiras, hamburguerias e restaurantes.
Convém realçar que, só no campo da restauração podes encontrar mais de 25 países, das mais variadas zonas do globo, representados pelos seus pratos típicos apresentados nas ementas. Quanto à gastronomia nacional, é fácil descobrir restaurantes representativos dos arquipélagos portugueses, do Norte, do Centro e do Sul do país. Tens nessa área os restaurantes tradicionais, regionais, vegetarianos, continentais e depois os especializados. Podes comer em espaços com ementas económicas, acessíveis ou relativamente caras, podendo escolher onde ir tendo em conta o que se tem na carteira disponível para tal.
Mas regressando ao princípio da carta, o jornal chamava-se “O Javali” porque era essa a figura que eu via quando olhava para o mapa e para os limites do bairro. Havia quem dissesse que via um elefante e quem não visse coisa alguma, mas “O Javali” foi o nome que acabou por ficar. Infelizmente a publicação nasceu no tempo da Troika e da austeridade e a administração decidiu, por motivos de viabilidade económica, encerrar o jornal ao fim de 3 anos de navegação adversa, bem como a revista do bairro que intercalava com ele e da qual te falarei amanhã ou num outro dia.
Tive imensa pena na altura. Ali se contaram, em formato A3 e em 48 páginas, em duas línguas, português e inglês, narrativas de grandes personalidades do bairro, a história de casas, ruas, monumentos, instituições e pessoas, para além da promoção do comércio e serviços locais. Também se lançavam propostas de itinerários, se destacaram os pontos de interesse e as novidades do bairro.
Lançamos receitas de culinária, fizeram-se entrevistas, ouviram-se as gentes na primeira pessoa e até houve lugar para as previsões dos astros para cada signo. Quem sabe, alguém no bairro, um dia no futuro, não voltará a pegar na ideia e a lançar uma outra publicação, agora que a austeridade já não tem o mesmo peso que na época.
E não te incomodo mais com os meus saudosismos, minha querida amiga, despeço-me com um beijo carinhoso, deste teu amigo de sempre,
Continuando a saga dos restaurantes de Campo de Ourique hoje vou-te falar, minha querida amiga, naquele que, dizendo-se um snack-bar, é para mim o melhor exemplo do que é comer bom e barato, ou seja, a genuína e verdadeira tasca de Campo de Ourique, quiçá uma das últimas de Portugal. Estou a falar do restaurante “O Bitoque”.
Uma pérola da cozinha tradicional portuguesa, um tesouro único no bairro, escondido, bem à vista de toda a gente, mas perfeitamente conhecido pelos residentes mais sábios. Não estou a falar dos novos, mas dos que, com 10 ou mais anos de bairro, conhecem bem as suas preciosidades e onde comer bem, sem perder couro e cabelo, para o alcançar com a qualidade desejada.
O bom, velho, estilo das tascas nacionais que se aprimoraram, no contexto do país, a partir dos anos 60 do passado século e que o requintaram até quase meados dos anos 90, tem aqui toda a sua mais ilustre representação. A decoração é alegre e saloia, desdenhando a necessidade da existência dos designers deste mundo. A televisão funciona, da abertura ao fecho, no tradicional canto do espaço principal, atafulhado, sem nunca se tornar claustrofóbico ou asfixiante. Qual joia da coroa, um maciço balcão corrido, de ponta a ponta, no espaço principal com, pelo menos 8 lugares sentados, forrados a lona azul, carimba a tasca.
No ar sente-se um leve odor a comida que, sem que este se torne enjoativo, aguça o paladar. Podemos começar pelas sopas, onde sempre é possível contar com um caldo verde, à moda antiga, uma deliciosa sopa alentejana, ou, porque não, a aprazível e caseira sopa de feijão verde. De realçar que todo o menu varia consoante os dias da semana, sendo que os pratos principais têm dia fixo para nos deliciar, engalanados pelo seu valor.
Nas carnes, os destaques são tantos que só vou mencionar alguns, pois encontramos desde o cozido à portuguesa, das quintas-feiras, até à dobrada à moda do Porto, passando pelo arroz de pato no forno, a carne de porco à alentejana, os escalopes de peru grelhados, as favas tradicionais, os rojões ou o bitoque à casa. Em todos eles, sem exceção, a sensação de regresso à aldeia é inevitável.
Os peixes variam conforme a oferta existente aquando das compras, efetuadas antecipadamente, pelo raiar do dia. É fácil encontrar um bacalhau à lagareiro, peixe espada grelhado, filetes de pescada fritos, perca, robalo ou dourada grelhada e, até mesmo, um delicioso arroz de gambas com ameijoa.
Na janela vitrine, que dá para a rua, é possível ver claramente os queijos da Serra da Estrela, os enchidos, as sobremesas e toalhetes de papel, escritos à mão, a anunciar ao mundo, a boa ameijoa, o bom berbigão, ou até os caracóis, se estivermos na época dos ditos.
Muitas destas iguarias obrigam ao forte aplauso das nossas papilas gustativas. Tudo isto faz de “O Bitoque” o quarto restaurante desta minha seleção na restauração do bairro.
Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique.
4) Snack-bar “O Bitoque”:
A verdadeira tasca portuguesa de Campo de Ourique.
Contudo, a dimensão é pequena, suportando um máximo de 24 lugares sentados, já contando com os 8 do balcão. Também dá pena que, um espaço assim, não se mantenha aberto pelo menos até à meia-noite, mas o que importa é a realidade existente e não os meus desejos enquanto cliente ávido por mais. O importante é que se come bem, à portuguesa e com muito mais prazer do que seria de esperar num espaço tão acatitado.
Tipo: Cozinha Tradicional Portuguesa
Aberto: Todos os dias das 08 às 22 horas
Fecha: Domingo
Preço: Restaurante: Económico
Classificação: 5 Estrelas
Convém dar ainda realce aos petiscos, aos pequenos-almoços e aos lanches pela tarde fora. As tapas existentes em outras casas, aqui tornam-se realmente petiscos no sentido mais rústico do termo. Podemos ver um jogo de futebol na televisão, com um prato de ameijoas ou de berbigão pela frente, umas fatias de queijo e presunto, variadíssimas sandes bem tradicionais, 100 ou 200 gramas de camarão cozido e beber, por exemplo, um Cabriz do Dão, cuja garrafa apenas custa 8 euros.
Enfim, a oferta é múltipla e diversificadamente apelativa. A simpatia e acolhimento luso está bem patente no pessoal, com quilómetros de experiência nas pernas e nos braços, sempre disponível, sempre simpático e sempre atento. Vigilante aos sinais dos tempos n’ “O Bitoque” a existência de “wifi” é uma realidade e os canais desportivos ajudam a fazer conversa na sala, com os clientes mais alegres e conversadores.
Sente-se, todavia, a falta de algum espaço interior e a ausência gritante de uma esplanada. O bar é completo e até é normal conseguir encontrar um medronho, de boa qualidade, para matar a saudade das tascas das nossas aldeias.
“O Bitoque” pode passar despercebido na Rua Ferreira Borges, número 59, em Campo de Ourique, onde assenta praça, mas apenas para quem atravessa a via de carro e não conhece o local porque, para os conhecedores, ele está perfeitamente localizado e é não só referência como também ponto de encontro habitual. Ainda para mais porque, o serviço de “take-away”, permite levar para casa as inúmeras iguarias aqui confecionadas, sejam elas refeições ou petiscos. Nem é preciso lá ir encomendar, basta ligar para o 21 39 65 636 e passar, na hora marcada, a recolher a encomenda efetuada, e, claro, pagar a conta.
Como depois de pagar é hora de sair, assim eu me despeço de ti, minha querida Berta, ciente de que te agradou, por certo, esta casa bem portuguesa onde a palavra tasca é, sem margem para quaisquer dúvidas, um verdadeiro elogio isto bem ao contrário de algumas modernices que, tendo tasca no nome, mais não são do que pretensiosos sugadores da carteira dos clientes. Recebe um beijo de saudade, deste teu eterno amigo,
Deixei para hoje um restaurante e bar, quase pub, que nasceu em novembro de 2019, em Campo de Ourique. Estou a falar de um espaço, anteriormente ocupado pelo Túnel 16, snack-bar e restaurante, onde, agora, uma nova marca se assume como um dos mais inovadores e admiráveis espaços de restauração em toda a cidade de Lisboa.
A decoração, minha saudosa amiga, a lembrar velhos tempos, é paradoxalmente refrescante. O jogo de ornamentação varia entre espelhos, discos e capas de vinil, protegidas do ambiente por um acrílico transparente ou molduras com vidro frontal, que facilitam a limpeza e manutenção das paredes primorosamente alindadas, dando à limitada área de apenas 24 lugares sentados, uma dimensão que esta, efetivamente, não tem. É, portanto, altura de entrar no terceiro restaurante desta minha seleção de restaurantes do bairro.
Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique.
3) Dali, Cozinha Surreal:
O espaço culinário mais original de Campo de Ourique.
Estou, repito, a falar do Dali, Cozinha Surreal, na Rua Infantaria 16, no número 43, a pouco mais de 20 metros da Rua Ferreira Borges, mesmo em frente ao Quartel de Campo de Ourique, à direita de quem sobe, em direção à Rua Silva Carvalho. O local é notoriamente digno de elogios, mas, cara Berta, o que mais surpreende, não é o bigode, à Dali, de um dos coproprietários e barman do recinto, o senhor Victor Cavalheiro, um verdadeiro gentleman na arte de bem servir, mas o menu surreal com que somos brindados, de uma imaginação como não me lembro de ver outra.
É que, se os preços da carta de bar visam afastar, logo à partida, clientes de fraco nível económico, a ementa apresenta valores acessíveis e pensados para nos surpreender, deliciar o palato e confortar o estômago com as iguarias apresentadas. São 8 as regiões do globo contempladas em outros tantos pratos no menu.
Entre a seleção de comidas do Brasil apresentada encontramos a “Moqueca Brasileira de Peixe e Camarão”, do Oriente aparece o “Tartar de Salmão Maçaricado” e dos Estados Unidos da América podemos saborear as famosas “Asas de Frango Picantes”. Depois de Itália aparece o “Carpaccio de Vitela”, da vizinha Espanha é sugerido encomendar o “Polvo à Galega”, já do país dos mestres da culinária, ou seja, de França, vem o “Boeuf Bourguignon”. Por fim, as mil e uma noites da Arábia suportam um “Quibe Vegan de Abóbora e Quinoa”, bem dentro dos teus gostos, querida Berta, enquanto, de Portugal, não se pode perder o “Pica-Pau na Panelinha”.
Mas há mais, muito mais, a “Picanha Brasileira” um bom naco alto e malpassado de carne suculenta e deliciosa, o “Cachorro Quente” e o “Hambúrguer Dali”, ambos de inspiração americana, o “Camarão no Varal” das terras de Shiva, as espanholas “Gambas al Aguillo” ou o “Presunto Ibérico Genuíno”, o prato italiano de “Duo de Bruschettas de Pomodoro e Brie com Parma”, as francesas “Ostras Gratinadas” e o tradicional “Bacalhau à Gomes de Sá”, feito de forma irrepreensível.
Posso ainda destacar-te, cara amiga, como entrada os “Corações de Frango Grelhados” inspirado em Terras de Santa Cruz, as sobremesas “Brownie de Nozes” com gelado, uma tradição americana, a “Cartola” brasileira, de banana e queijo, ou o “Queque de Cacau” e o “Bolo de Rolo”.
A cozinha, aberta de segunda a sábado, com o mesmo horário do estabelecimento, do meio-dia à meia-noite e ainda aos domingos do meio-dia às 17 horas, tem num duo feminino o segredo das iguarias apresentadas, ambas sócias do Dali, ambas vindas do Brasil, Jaqueline Leite e a chef Carol Silva.
Os vinhos de reserva têm todos rótulo português e são de curadoria especial da Wine Concept, de Lisboa. Terias muito que provar ali, Berta, tu que és uma fã incondicional do vinho tinto. Todavia, voltando ao Dali, o restaurante faz, desta forma, um esforço em possuir uma adega que represente os principais vinhos de todas as regiões do país, com uma carta pronta a proporcionar excelentes descobertas aos apreciadores, principalmente, no que aos vinhos tintos diz respeito.
Contudo, aqui ficou-me a dúvida, pois sei que o sócio Tavinho Viera, é o responsável pelas opções vinícolas do Dali, estará este senhor também ligado à Wine Concept, deixo essa descoberta para os mais curiosos, uma vez que o que aqui me interessa é apenas e só aquilo que, como cliente, consigo desfrutar numa casa.
A não perder a recente criação da “Happy Hour” que se inicia pelas 17 horas. Caso o cliente não tenha preocupações económicas, recomendo ainda que não deixe de beber o “Cognac Especial” da casa, um “Camus” de ir às lágrimas e chorar por mais. Antes que me esqueça, recomendo a quem aqui deseje vir, principalmente, às horas das refeições, que faça marcação pois os lugares, como já referi, não são abundantes. Basta ligar para o número 966 259 945 e dizer o dia, hora e quantas pessoas são.
Se a habilidade e mestria das cozinheiras Jaqueline e Carol, é fundamental para a genialidade da casa, o atendimento, serviço e simpatia de Victor, um vero Cavaleiro feito Dali, é, sem qualquer margem para dúvida, o maior segredo daquele que considero ser, à distância, o espaço culinário mais original, desconcertante e arrojado de Lisboa.
Tipo: Especialidades / Cozinha do Mundo
Aberto: Todos os dias das 12 às 24 horas
Fecha: Domingo depois das 17 horas.
Preço: Restaurante: Acessível / Bar: Puxado
Classificação Única no Género: 5 Estrelas
Termino por aqui o meu discurso. Julgo que quando vieres a Lisboa, minha querida amiga, desejarás passar pelo Dali. Despeço-me com um beijo, este que não te esquece e muitas saudades sente,
Sabes, coloquei ontem online, no Facebook, o primeiro restaurante dos que classifiquei, aqui do meu bairro. Ainda estou abismado com o número de pessoas que foram ler a minha opinião. Ao que parece não sou o único a gostar de comer e de ver o que os outros acham dos locais escolhidos. Fiquei bastante satisfeito. Aqui vai mais um do meu registo pessoal. Irei pôr até os que gostei menos, mas isso não quer dizer que sejam maus, apenas direi que, por um ou outro motivo, não se coadunam tanto comigo.
Série: a Arte de Bem Comer em Campo de Ourique.
2) Verde Gaio:
A melhor grelha a carvão de Campo de Ourique.
Quando falo em restaurantes familiares, minha amiga, estou logo a querer dizer que o local me faz sentir em casa ou que este é um ambiente acolhedor. Ora, no Verde Gaio, para além disso, a família faz realmente a diferença. O senhor Jorge é um especialista nos grelhados, a acompanhá-lo, na cozinha, a esposa dirige a equipa dos tachos e na sala o filho, Rafael, e a nora, Verónica, fazem as delícias de todos no simpatiquíssimo atendimento aos clientes. O restante pessoal varia mais, embora tenham tendência a ficar bastante tempo na casa. Chego a pensar que a comida é confecionada como se fosse para eles.
Sou um fanático, embora a preferência não seja muito ecológica, pela grelha a carvão. Normalmente, amiga Berta, corro o risco de comer as coisas secas e queimadas ou malpassadas e sem sabor. Porém, tal nunca me aconteceu no Verde Gaio. A mestria do senhor Jorge, nesse departamento, faz do restaurante um ponto de paragem obrigatório para quem vive ou passa por Lisboa.
Conforme já descrevi, aqui trabalham, lado a lado, marido e mulher, filho e nora, gente próxima da família e, mais raramente, um ou outro elemento mais afastado deste padrão. Mesmos os poucos desacatos familiares a que por vezes assistimos no espaço dão ao estabelecimento o seu ar mais genuíno e verdadeiro, marcadamente “made in Portugal”. Aliás, querida amiga, os pequenos conflitos são gerados pela razão última de fazer com que o cliente desfrute de uma refeição de topo, a preços que sempre nos parecem de promoção ou de saldos.
Um achado, dirão, por certo, os que o experimentarem pela primeira vez. Pena o orçamento não dar para cá vir todos os dias, pensarão outros. Mas passando à comida, ou seja, àquilo que realmente importa quando se pensa em comer fora. Imagina, minha saudosa amiga, uma paleta de tintas, com as mais variadas cores e tonalidades, com que um artista pinta um quadro. Agora, transpõe a paleta para a grelha e esta vira protagonista de relevo, de uma panóplia de sabores, para as tuas papilas gustativas.
Será escusado dizer que o peixe e a carne são sempre frescos e que se encontram bem expostos nas duas vitrines, logo na entrada do restaurante, quase parecendo sorrir para quem entra, acho que ias adorar o aspeto, Berta. Contudo, grelhar é uma arte e o maior segredo do Verde Gaio é a mestria do verdadeiro artista, o Grão-Mestre Grelhador, da Ordem Culinária da Antracite, o Mestre Jorge. Pode até parecer que me estou a repetir, mas há coisas cuja importância não pode ser descorada. Pois a verdade é que, para mim, esta é a melhor grelha de Lisboa, bem na frente do Mercado de Campo de Ourique, na rua Francisco Metrass, no número 18.
Como a casa também trabalha com a Uber, e os demais distribuidores, e com Take-Away, convém dizer que poderias, cara amiga, se não estivesses a morar no Algarve, fazer diretamente as encomendas pelo número de telefone 213 96 95 79 ou, em alternativa, para os diferentes canais de recolha. Como conselho, recomendaria que ligasses a saber quais são os pratos recomendados para o dia, pois poderias ter a sorte de apanhares umas deliciosas ovas cozidas ou uma garoupa, linguado, e muito mais, como bónus extra à ementa do dia-a-dia.
Embora já tenha referido alguns pratos, destaco, ainda, o melhor piano grelhado de Lisboa, quiçá do país, os legumes grelhados com broa de chorar por mais, peixe ao sal (desde que encomendado previamente), joaquinzinhos fritos, rins fritos ou grelhados, iscas de porco à portuguesa, franguinho frito à ribatejana, costeletas de porco preto grelhadas, robalos ou douradas ou salmonetes grelhados, salmão na grelha à posta, garoupa grelhada, bacalhau assado à lagareiro, lulas grelhadas, camarão na brasa, enfim, podia estar a escrever mais 2 páginas, Berta, que não terminava. Todavia, alguns dos pratos só existem quando o Mestre Jorge os arranja frescos, pelo que convém ligar a combinar previamente, certas iguarias mais especiais.
Destaco ainda as entradas e as sobremesas, com ameijoas à bulhão pato, cogumelos recheados, empadas de frango, de legumes ou de atum, entremeadinha frita, gambas fritas “al ajillo”, linguiça assada, mini alheira grelhada, rissol de camarão, morcela assada com laranja, ovos mexidos com farinheira, “pimentos padron”, paio do lombo fatiado, pica-pau, favas salteadas e até salada de polvo. Continuando para as sobremesas, para além da fruta da época, recomenda-se a sericaia com ameixa, bolo de bolacha ou de mousse, mousse de manga ou de chocolate, tarte de limão “merengada”, pudim de ovos e torta de laranja.
Tipo: Grelhados / Cozinha Portuguesa / Take-Away
Fecha: Domingo ao Jantar e Segunda
Preço: Acessível
Classificação no Género: 5 Estrelas
Sugiro ainda que se experimentem os vinhos tintos do Douro, Alentejo, Lisboa ou Dão, mas aconselho e destaco especialmente o Dão “Quinta de Cabriz” 2015, cuja garrafa sai a 9 euros. Tu ias adorar, Berta.
Bem, minha amiga, por hoje é tudo, despeço-me de água na boca, sempre saudoso, com um beijo, este teu eterno amigo de longa data,