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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - II - Abordagens Sobre a Burrice (continuação - II - 6)

Berta 259.jpg

Olá Berta,

Este capítulo sobre a burrice do Diário Secreto do Senhor da Bruma era, pensava eu, para ser algo mais curto do que o capítulo anterior, contudo, perante a realidade, começa é a ser difícil descrever tanta burrice que, entretanto, encontro por todo o lado. Só frases, expressões, ditados e outras verborreias sobre burros e burrices são às paletes. De longe, sem qualquer dúvida, muito mais do que aquilo que eu imaginava. Finalmente, quando penso que estou a terminar, lá aparece mais uma, depois outra e mais outra, enfim…

Todavia, não pretendo esgotar o tema, nem acho que mesmo que quisesse o conseguiria fazer. Porém, já que comecei, pelo menos as expressões mais usadas no nosso falar quotidiano pretendo deixar aqui registadas. Pode ser que tu, minha amiga te lembres de mais, não tem mal, por esta amostra já fica uma ideia. Mas vamos ao assunto, que se faz tarde:

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II

Abordagens sobre a Burrice (continuação - II - 6)

Março, dia 8:

Mais uma vez este burro figurativo, que aqui representa quem trabalha, vem em defesa dos direitos dos trabalhadores dedicados, erradamente apelidados pelo patronato de burros. O próprio provérbio é disso prova. O povo pode estar calado, mas tem a perfeita noção da sonegação dos seus legítimos direitos. A necessidade de ter de trabalhar, consoante os conhecimentos e as profissões que se conseguem, não confere a quem o faz o estatuto de burro. Pelo menos não o deveria conferir. Classificá-lo como tal é não apenas um ato de puro xenofobismo laboral, como um comportamento fascista perante o trabalho de um patronato sem valores.

Março, dia 9:

Os trabalhadores podem ser apelidados de jumentos, mas a verdadeira “jumentude” encontra-se nas classes superiores sempre preocupadas em esmifrar os animais, quer isto lhes agrade quer não. Por exemplo o tal de Ventura que já aqui referi, diz que pretende uma polícia forte para proteger e dar segurança ao povo, mas, se alguém tiver o azar de olhar para debaixo do tapete são os dólares e os euros dos mandantes quem realmente esfrega as mãos de satisfação. Todavia, às vezes, tramam-se porque o povo junta umas ortigas ao capital.

Março, dia 10:

Aprendizagem, inteligência e sabedoria nos provérbios sobre o equídeo:

No ditado “quando um burro fala (ou zurra, dependendo da versão), os outros abaixam as orelhas” embora o entendimento seja imediato quanto ao sentido, depois, ao olharmos cuidadosamente para as palavras, a coisa fica mais confusa. Não é burrice os burros que escutam baixarem as orelhas? Não as deviam empinar para escutarem o homónimo? Será que eu sempre entendi o dito inversamente ao seu sentido? Afinal, o que um burro diz não deve ser escutado?

Março, dia 11:

Fica a reflexão, pois não me parece que exista uma solução fácil para tão profundo paradoxo. Alguns comentadores entendem que provavelmente o cavalicoque (outro sinónimo de asno que, entretanto, descobri) profere apenas asneiras o que obriga as outras pilecas (mais um sinónimo desencantado) a baixar as orelhas para evitar escutarem. É do conhecimento corrente que o último asno que tentou tapar as orelhas com os cascos posteriores acabou por terra com o monumental tombo que, por via do exercício, quase lhe foi fatal.

Março, dia 12:

No entanto, provavelmente, se quando um burro fala os outros baixam as orelhas, também pode ser por incredulidade dos outros jericos, afinal o burro costuma apenas pensar e não é muito dado a falatório, basta lembrar o provérbio “a pensar morreu um burro” (ou “a julgar”, segundo algumas fontes). O que pode não indicar que asno que é asno não pensa e se pensa demora tanto tempo a fazê-lo que, entretanto, morre. Ainda existe a possibilidade do quadrupede ficar a pensar sobre o que há de pensar, sem que nenhum pensamento lhe ocorra, enquanto pensa nisso, nunca se sabe…

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Hoje, quando vi nas notícias que o Tribunal da Relação confirmou a condenação de João Rendeiro, o ex-presidente bancário do ex-BPP, com 5 anos e 8 meses de prisão efetiva, dei comigo a pensar que posso muito bem ser mais burro do que julgava.

João Rendeiro, um ano antes de ter sido acusado, foi capa das principais revistas e jornais nacionais, nelas aparecia como sendo o homem do ano, um dos melhores banqueiros de sempre na banca portuguesa. Ora eu, como tantos outros papalvos deste país, engoli as excelências e respetivas competências do homem como sendo verdadeiras. As publicações ligadas às finanças, aos negócios e ao capital não podiam estar todas enganadas. Contudo, afinal, estavam mesmo. Redondamente enganadas.

É claro que Rendeiro deve recorrer mais uma vez para o Supremo Tribunal. Ao fim ao cabo, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas… e o burro que o confirme. Entretanto, se alguma vez a condenação chegar, naquela altura em que não há mais para onde recorrer, pode ser que o referido acusado já se tenha posto ao fresco, para um qualquer sonhado paraíso onde continuará a rir dos asnos que logrou vezes sem conta. É que o acusado não está sujeito a nenhuma medida coerciva que o impeça de se pôr a milhas se, quando a coisa estiver para acontecer, achar que vai mesmo ser condenado.

Enfim, querida Berta, burros somos nós que vivemos na pacatez da nossa vida de remediados. Despeço-me de ti com um beijo virtualmente saudoso, até amanhã e, já sabes, se precisares o teu amigo está sempre ao dispor.

Gil Saraiva

 

 

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - II - Abordagens Sobre a Burrice (continuação - II - 5)

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Olá Berta,

São muitos os ditos sobre a burrice e os burros nas expressões utilizadas na língua de Camões. Cada um deles, contudo, parece querer ajudar os asnos humanoides a seguirem novos caminhos e a abandonarem a carneirada acéfala que segue modas e campanhas publicitárias, líderes populistas e outros chupistas.

Não se trata de defender nenhuma moral oculta, mas sim, de combater a burrice generalizada que se espalha mais rapidamente que vírus em dia de festa clandestina. Um alastramento ventoso por entre as multidões de seres que julgam que o pensamento e o livre arbítrio, são termos bonitos para constarem na Wikipédia ou em livros, nunca lidos, que lhes enfeitam as prateleiras das salas em suas casas bonitas e ocas, porém na moda. Mas é tempo de dar continuidade ao Diário Secreto do Senhor da Bruma, ainda sob a alçada do segundo capítulo:

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II

Abordagens sobre a Burrice (continuação - II - 5)

Março, dia 4:

Analisemos agora o provérbio “a ferramenta é que ajuda, não é o pisco em cima da burra”. Com efeito, sejam os alforges colocados no animal, para que ele transporte o que necessitamos, os arreios e demais preparos, para que puxe uma carroça ou, talvez, um arado para que lavre a terra, sejam outros exemplos do mesmo género, são tudo coisas, instrumentos ou ferramentas que possibilitam que o burro cumpra o seu propósito. Já o pássaro em cima do lombo ou perto das orelhas do animal, que dedicadamente vai devorando carraças e carrapatos, apenas o alivia a ele e pouco proveito direto representa para o dono do bicho.

Março, dia 5:

Aliás, na perspetiva do burro, o pisco, embora sendo um pássaro de tamanho diminuto, é muito mais importante do que todas as ferramentas que o seu proprietário possa arranjar para que ele cumpra uma tarefa. Mais uma vez o burro, ao representar a classe trabalhadora, serve para ilustrar a consideração que proprietários, chefes e empresários costumavam ter sobre quem para eles trabalhava, ou seja, nenhuma ou, praticamente, nenhuma. Se o pisco representa o cuidador personalizado importa mantê-lo e premiá-lo.

Ao fim e ao cabo, a ferramenta não ajuda o burro, inversamente prejudica-o, obriga-o mesmo a trabalhar sem o querer fazer e ao melhorar-lhe a produtividade também aumenta a sua exploração por parte do proprietário, patrão ou superior hierárquico. Eu cá sou pela liberdade dos burros e por um sistema de saúde digno. Vivam os piscos.

Março, dia 6:

Há que dar, contudo, valor ao povo que num simples provérbio punha a nu a injustiça do tratamento que recebia, ficando sempre remetido à categoria de burro, mesmo nunca o tendo sido. É por estas e por outras que depois, a dada altura, o copo deixa de encher, para, na mais pequena gota extravasar. É assim que surgem os dias das revoluções. Muitas vezes, o burro não é tão burro como a conta que dele faz o seu dono. Coisas da vida. Viva o 25 de abril. Viva a revolução. Vivam os asnos.

Março, dia 7:

Já o ditado “há falta de um grito, morre um burro no atoleiro” tem outro intuito. Com efeito, o zurrar destes animais não atinge os decibéis necessários para servir de alarme. O provérbio assiste na explicação que grandes tragédias acontecem pela falta de precaução ou medidas simples de segurança. Ora, fala-se na morte do jerico, e não de outro animal, para dizer que apenas um idiota não se previne e protege devidamente. Se a pessoa é burra e não são os seus pedidos de socorro que a podem ajudar numa situação de perigo, então, o local, o transporte, a casa ou o posto de trabalho têm de estar apetrechados com os meios preventivos necessários para que uma situação de perigo seja evitada.

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Conforme podes observar, pela foto que hoje ilustra a tua carta, o asno encontra-se pequenino, em segundo plano numa prateleira, quase abandonado à sua sorte, enquanto eu apareço armado em Moisés, saído de um banho de vitamina D da varanda das traseiras, onde o Sol se mantém firme e quente entre as 2 e as 7 da tarde, porque isto de viver confinado não me pode impedir de tratar devidamente da saúde.

Como sabes, depois dos meus AVC de 2019, regressou o ataque da vesícula em 2020, após 3 anos de pausa, penalizada por não me ser possível uma operação, relegada para uma suspensão quase permanente, enquanto o coronavírus se passeia alegremente pelo nosso Portugal e brinca às escondidas com a ilustre Direção Geral de Saúde e o respetivo Ministério da Saúde.

Um Ministério cheio de estrelas e de gente que gosta de se ver na televisão, seja Marta Temido, Graça Freitas ou aquela alegada baronesa das olheiras permanentes, vinda de Alte, do Algarve, uma tal de Secretária de Estado Adjunta e da Saúde, Jamila Madeira, filha do grande barão algarvio do PS, Dom Luís Filipe Madeira, que, embora tenha formação em gestão e mestrado em finanças, fala de saúde com a pompa e circunstância com que os burros olham para os palácios, ao fim do dia, quando a noite chega, para que a ignorância não salte à vista.

Mas chega de choramingar o meu estado de saúde. É o que é e, se tudo correr sem muitos mais incidentes, no final, espero que essa saga termine positivamente. Por hoje, este teu grande amigo, despede-se de ti, querida Berta, enviando um fino e requintado beijo postal, pois que através destas cartas nos comunicamos. Conforme sabes, estou sempre ao dispor para o que necessário for,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - II - Abordagens Sobre a Burrice (continuação - II - 4)

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Olá Berta,

Se bem que eu aborde, ao longo deste capítulo do “Diário Secreto do Senhor da Bruma” a ideia de que nem sempre o burro é tão burro como parece ou a sua oculta sagacidade em se fazer mais burro do que realmente é, a verdade é que a humanidade continua a ter burros e bestas quadradas em demasia face aos restantes mortais. Um tio meu chamava essa gente de antas, sem qualquer relacionamento clubístico evidentemente, referindo-se unicamente à pobre da anta propriamente dita.

O meu falecido sogro, por via do meu primeiro casamento, um pintor famoso de nome Isolino Vaz, apelidado como sendo o pai do neorrealismo português na pintura, tinha uma outra expressão para apelidar as pessoas de visão curta. Chamava-lhes os acéfalos, sempre que tinha de evitar a linguagem vernácula, muito usada para os lados da invicta cidade do Porto. O que importa mesmo é que a burrice é um tema que vem há muito preocupando o pensamento nacional e os teóricos da análise do conhecimento dos povos. Voltemos, entretanto, à nossa narrativa sobre a burrice:

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II

Abordagens sobre a Burrice (continuação - II - 4)

Fevereiro, dia 28:

Avaliação de Provérbios sobre o equidno:

A expressão “Burra de sorte é felizarda sem saber porquê” alegadamente não foi criada para desculpar o gosto de Maria Vieira pelo CHEGA. Claro que há quem pense que a senhora é burra e que por isso tem a sorte de não saber a porcaria em que se meteu. Com efeito, é contraditório que alguém possa ser felizardo e não saber o porquê neste contexto. No meu entender a sociedade confunde o pequeno porte da Maria Vieira com a proporcional dimensão do seu intelecto. Dito isto, acho mais lógico pensar que a atriz não é burra apenas proporcionalmente curta de ideias.

Fevereiro, dia 29:

A propósito do ditado “A burro morto cevada ao rabo”, digam lá o que disserem sobre este dito, ele não foi certamente inventado por membros do movimento LGBT Limitada. Estes, levam muito a sério as suas opções e não usam o traseiro para armazenar um cereal. Ainda por cima num animal que virou carcaça. A frase parece um ato de sodomia irracional e seria mais compreensível se tivesse sido inventada por um qualquer praticante de uma seita mórbida ou de algum culto satânico. Eu, só para me citar a mim, nunca me lembraria de traduzir o provérbio “casa roubada, trancas à porta” por algo sequer aproximado ao rabo do dito jumento. Mas há gostos assim…

Março, dia 1:

“A burro que muito anda, nunca falta quem no tanja”: - ou quem lhe toque, descobri eu depois de muito investigar. Na verdade, quando mais expostos estamos, mais riscos corremos. No entanto, podemos reparar que, na composição deste ditado, o povo esforçou-se por arranjar uma rima de forma quase contrafeita e, mesmo assim, a que descobriu parece forçada. Com efeito, até no português arcaico é difícil encontrar o verbo tanger, conjugado na primeira ou terceira pessoa a obrigar à utilização da palavra “tanja”. Talvez o aparecimento da palavra na escrita tenha origens nas tangerinas do Algarve ou onde é mais fácil arranjar à tanja outros familiares na rima. Disso é exemplo a laranja, a marmanja, e a toranja. Enfim, é o que se arranja.

Março, dia 2:

Ao compararmos os provérbios “a burro velho, capim novo” com “a burro velho, pouco verde” fica fácil detetar o antagonismo dos significados. Mas julgo que isto terá mais a ver com as medidas económicas em voga por altura do nascimento de cada um dos ditos. Assim, numa altura em que é preciso tirar proveito de todos os recursos disponíveis, o conselho implícito é dar força e energia ao burro envelhecido, através de alimento fresco e saudável, para que ele possa continuar a dar um bom rendimento ao seu dono. Já numa ocasião de poupança e aforro o conselho inverte-se, recomendando que se deixe o burro ir para o abate ou para a reforma, por força a conseguir maximizar os recursos canalizando a alimentação para os jovens e possantes burros.

Março, dia 3:

O uso de ambos os casos, a não ser se usado por elementos do partido PAN, ao comparar trabalhadores com animais de carga de inteligência limitada, reflete bem a ideia que o nosso tecido empresarial tem sobre a classe operária às suas ordens. Perante estas observações considero pertinente pensar se a introdução de certos provérbios, na conversação popular, não seria uma forma oculta, e revolucionária, de protestar contra a negação de direitos dos trabalhadores durante o regime de Salazar.

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O outro dia ouvi, no Jornal das 8, na TVI, uma fanática, frenética deputada do PAN, que, sem travão na língua, defendia o fim dos apoios do Estado a todo e qualquer evento relacionado com a lide do toiro, a tauromaquia e os toureiros. Porquê? Por serem práticas que obrigam ao sofrimento do animal. Do outro lado, estava o jornalista Miguel Sousa Tavares, a contrapor, defendendo os apoios. Embora eu não seja um apreciador tauromáquico, gosto das pegas e da audácia dos forcados, de mãos na anca, armados em fanfarrões tolos e irreverentes, de barrete na cabeça, em frente ao animal. Resolvi escutar os argumentos dos 2 lados por forma a tentar escolher por quem tomar partido no fim das defesas e ataques de ambas as posições, apresentadas pelas argumentações e explicações de cada um.

No final, não tendo sido tendencioso, somente a argumentação do Miguel fazia sentido. Se queremos acabar com a tauromaquia em Portugal, porque o touro sofre, temos de o fazer num contexto mais global e terminar com todas as práticas que façam sofrer os animais. Mas todas, em simultâneo, e sem cinismos.

Não se acaba com a tourada e se deixa o peru a fugir, já sem cabeça, depois de embebedado, pelo pátio da quinta, por altura do Natal. Não se permite a matança do porco, que é feita bem devagarinho e com requintes de malvadez, não se autoriza a criação de animais em aviários onde os bichos sofrem desde que nascem até que morrem, tiram-se os animais, usados como cobaias, dos laboratórios, sejam eles salamandras, ratos ou políticos.

Também não se admite a continuação de jardins zoológicos e mais um cem número de práticas que continuam, todos os dias, a todas as horas, a causar sofrimento aos animais. Não esquecendo o burro, que, sem querer levantar qualquer suspeita de xenofobia ou racismo, passava bem melhor sem o cigano.

Mais uma vez alonguei-me nos argumentos. Fico-me por aqui, querida amiga Berta, com uma despedida acompanhada de beijinho deste teu amigo de ontem, hoje e amanhã, sempre ao dispor,

Gil Saraiva

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - II - Abordagens Sobre a Burrice (continuação - II - 3)

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Olá Berta,

Espero que estejas a gostar deste novo capítulo. Conforme já te contei, na minha opinião a burrice deriva de um somatório de fatores. Por um lado, temos a questão hereditária contra a qual pouco se pode fazer, contudo, por outro lado, com alguma atenção e muito foco, é possível minimizar o impacto genético. Para isso é preciso combater os comportamentos de carneirada ou rebanho, evitar seguir modas, populismos ou tendências que aparentemente fazem as pessoas sentirem-se integradas. É falso!

Com efeito, esses procedimentos ajudam à instalação de elevados índices de burrice e estupidez e ao apurar do embrutecimento do individuo que, sendo burro à partida, deixa de pensar por si para seguir a manada. Contrariar essas atitudes é meio caminho para uma vida mais feliz e com menos ódios e melhores parâmetros de felicidade e alegria. Mas continuemos, pois, a nossa abordagem sobre a burrice:

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II

Abordagens sobre a Burrice (continuação - II - 3)

Fevereiro, dia 22:

No âmbito estritamente nacional há quem procure incluir o populista Ventura na categoria dos asnos, mas, indevidamente. Não existe falta de inteligência na alegada e imensa cabeça narcisista de André. Aí, apenas se encontra uma suposta aptidão rara para o oportunismo lucrativo, um invulgar dom que é difícil de desenvolver num supremacista branco demasiado vaidoso para cortar o cabelo. Aliás, eu, no lugar dos portugueses, não me preocupava com o líder do CHEGA, para quem o espelho e a sua própria imagem são possivelmente bem mais importantes que qualquer ideia. A perfeição do nó da gravata em Ventura tem uma relevância que nunca poderá ser batida por qualquer das suas ideias políticas, as quais, segunda as más línguas, vão e vêm ao sabor das manadas de asnos que lhe admiram a camisa imaculada, o casaco fechado a preceito ou o corta-palha aberto, na medida certa, para cobrar alguns dividendos publicitários à Colgate.

Fevereiro, dia 23:

Se querem chamar algo ao André, chamam-lhe “pastor belga”, ele parece atuar como qualquer bom cão pastor que reúne a carneirada e os asnos que a seguem na sua cerca de populismo narcisista, comodista, oportunista e bem engomado. Não restam dúvidas que Ventura é um animal, pode não ter a inteligência e a sagacidade de um “border collie”, mas de burro não tem nada mesmo, a não ser as hipotéticas palas que o impedem de tirar os olhos da sua imagem no espelho.

Fevereiro, dia 24:

No provérbio “burro que é burro é um animal sem chatice, nem sabe o tamanho da sua burrice”, de minha autoria, podemos verificar a gravidade da situação. Não tendo conhecimento das suas limitações o asno nada faz para as minimizar. Ora, é possível diminuir o grau de gravidade e o nível de burrice de um individuo, mas, somente, se disso ele tiver alguma consciência.

Fevereiro, dia 25:

A mula, seja ela uma fêmea ou um macho, é o animal que resulta do cruzamento de um burro com uma égua. Ora, a existência dos tais movimentos feministas, que incentivam este tipo de cruzamentos dentro da esfera humana, estão a gerar cada vez mais bestas, que, na realidade, são um sinónimo de mulas. Graças aos grandes progressos da genética e da evolução do conhecimento da esterilidade, muitas destes novos indivíduos já não nascem estéreis, como antigamente acontecia, estando a surgir cada vez mais casos de seres destes em segundas e terceiras gerações de descendência. O resultado é o do aparecimento crescente de um número substancialmente maior de bestas quadradas: as mulas ou bestas de segundas ou mais gerações.

Fevereiro, dia 26:

A besta quadrada, é muito mais difícil de ajudar no que à burrice diz respeito. Se a besta simples, a chamada mula de primeira geração, já era, por si só, mais resistente a tratamentos do que o comum jerico, por associar com mais facilidade a burrice com a teimosia, uma caraterística inata das mulas, imaginem o grau de inoperância de uma besta quadrada no que à aprendizagem e tratamento da burrice diz respeito. Pior, a besta é mais resistente e fisicamente mais forte do que o jumento, além de ter mais facilidade em executar tarefas pesadas com um muito menor esforço, o que leva à criação dos chamados “paus mandados” ou “paus para toda a obra”. Se ampliarmos estas caraterísticas para a besta quadrada é fácil pensar nas consequências.

Fevereiro, dia 27:

Analisando seriamente estes cruzamentos de asnos com éguas (mais conhecidas no universo humano como libertinas ou meretrizes), estamos a permitir a criação de indivíduos sem princípios morais, extremamente teimosos, por vezes bastante musculados e detentores de um grau de burrice muito desenvolvido.

A situação só não é mais grave porque os bardotos ou as bardotas, ou seja, os filhos resultantes de cruzamentos de cavalos, também apelidados de garanhões ou cavalões, com burras, está morfologicamente mais delimitado, principalmente, devido ao tamanho que os fetos podem atingir no ventre das fêmeas jumentas.

A quantidade de abortos destes cruzamentos é imensa e, a esmagadora maioria, resulta em nados-mortos. Os abortos que sobrevivem são aqueles seres conhecidos, na gíria humana, pelos verdadeiros abortos. Mesmo assim, ainda aparecem bastantes, na sociedade contemporânea.

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Podia, minha querida amiga Berta, dar-te aqui vários exemplos dos abortos públicos, que abundam na nossa sociedade, porém, a exposição dos casos não traz grandes benefícios. Apenas torna mais alerta o bando de cretinos a que me refiro. Dito isto, está na altura deste teu amigo se despedir com um beijo ameno e desejar-te um bom dia de verão, parto saudoso da tua companhia, sempre disponível para o que quer que seja,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - II - Abordagens Sobre a Burrice (continuação - II - 2)

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Olá Berta,

Com que então passaste o fim de semana na praia. Acho muito bem, ainda por cima porque na ilha da Fuzeta não tens que te preocupar com gente a mais. Uma praia com 8 quilómetros é um areal muito grande, o que é preciso é ter vontade de nos irmos chegando um pouco mais para o lado. Aqui, na zona de Lisboa, é bem mais complicado. As praias andam com gente a mais e o teu amigo continua a ser uma pessoa de risco. Chegará o dia.

Enquanto gozas esses dias de calor e poucos turistas no Algarve espero que aproveites os momentos de relaxe para ires lendo as minhas cartas. O tema da burrice, neste Diário Secreto do Senhor da Bruma continua visto que se trata de um tema com muito que se lhe diga. Assim:

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II

Abordagens sobre a Burrice (continuação - II - 2)

Fevereiro, dia 17:

Nota: Conforme no exemplo anterior não se deve ler de seguida o parágrafo da listagem que se segue, seria, de novo, uma burrice. (aqui deixo, para futuras consultas, a lista quase exaustiva dos sinónimos, que eu encontrei, nas buscas efetuadas para os termos brasileiros).

Sinónimos de burro, nominais ou figurativos na língua portuguesa – Versão Brasileira:

Abestado, agalegado, abobalhado, aboleimado, acetábulo, alcançadiço, alonso, alvar, apedeuta, apedeuto, amacacado, anastácio, andor, anhanho, ânsar, ansarinho, apanascado, apancado, apedeuto, asinário, asinino, asnal, asnático, asneiro, asnil, assonsado, babaca, babalhocas, babanca, babancas, babão, babaquara, baboca, baboso, badó, badoco, bailão, bajoujo, banazola, balordo, basbaque, bate-orelha, bazaruca, bernardo, bertoldo, bobalhão, boleima, bolónio, bordalengo, bordegão, bestalhão, boboca, boca-aberta, bocó, bocoió, bocomoco, bongolo, boto, bucuva, burranca, burrical, capadócio, chapetão, chosco, desengenhoso, doidarrão, doudarrão, enxovedo, estólido, estroso, galafura, geta, ignaro, inhenho, haule, jato, lambaceiro lambaz, lapardão, lapardo, laparoto, lapouço, lãzudo, lerdaço, lucas, mamote, mamparra, mandu, mané, manembro, manho, maninelo, marouco, material, matias, moço, muar, narouco, nenho, onagro, orate, orelhudo, pachocho, pai-velho, pailão, paio, paiolo, palhouco, palonço, palonzano, palúrdio, panema, panguá, pantouco, parbiça, parro, parrulo, parvajola, parvoeirão, parvoinho, párvulo, párvuo, pascácio, pascoal, pasguate, pasmão patacão, patamaz, pataroco, patau, patavina, patetinha, patetito, patola, pax-vóbis, pêco, rombudo, sambanga, sancarrão, sandeu, sànona, sebastião, soez, tarola, tatamba, telo, tolaz, toleirão,  torgueiro, touguinho, truão, troixa, zambana, zângano, zé, zé-cuecas zote, zuzuto,

Fevereiro, dia 18:

O caso parece grave. Não é incomum, nos nossos dias, ouvirmos exemplos de ideias em que, em vez de se dizerem que “errar é humano e persistir no erro é burrice” já dizem “errar é humano, persistir no erro é afirmação de personalidade” ou “errar é humano, persistir no erro é integração social”.

Fevereiro, dia 19:

Há inclusivamente países em que as feministas estão a incentivar outras mulheres a contrair matrimónio com indivíduos comprovadamente burros, promovendo o ditado: “mais vale asno que te leve, que cavalo que te derrube” no seio das uniões mais favoráveis. Ora, do ponto de vista do desenvolvimento intelectual do ser humano, esta adoção do burro como parceiro pode ajudar, de forma perigosa, à generalização da mula, do cretino, do idiota e do parvo a curto prazo, assim como casar com um burro não aumenta, ao contrário do que se possa pensar numa abordagem primária, o prazer sexual das desaventuradas.

Fevereiro, dia 20:

Alguns países estão a levar à letra um outro provérbio: “albarde-se o burro à vontade do dono” e estamos a assistir pacificamente à ascensão meteorítica de puros asnos ao poder. Podia dar muitos exemplos, mas os mais evidentes vêm de: Nicolas Maduro na Venezuela, Aleksandr Lukashenko na Ucrânia, Andrés Obrador no México, Viktor Orbán na Hungria, Recep Erdogan na Turquia, Donald Trump nos Estados Unidos e Jair Bolsanaro no Brasil, apenas para citar alguns à esquerda e à direita. Só nesta pequena amostra temos os que publicamente acusam a TAP de pactuar com terroristas, os que dizem que o vírus se mata com vodka, os que têm rezas eficazes de combate ao coronavírus, os que sonham com a glória do Império Otomano, os que pensam que uma mulher se agarra pela vagina e os que acham que os peixes são animais inteligentes.

Fevereiro, dia 21:

É nestas alturas, em que no mundo se escutam a miude os zurrares dos puros asnos, que aparecem os saudosistas. No meio deste imenso cenário internacional, já existe quem recorde com saudade Osama Bin Laden. Porém, convém não confundir malfeitor com asno, o burro pode ser um malfeitor, mas fica longe do requinte de psicopatas como Bashar al-Assad o presidente sírio, que se imagina Califa, dos líderes do Estado Islâmico ou da raposa soviética, mais conhecida como Putin.

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A burrice é efetivamente um tema muito vasto e, tal como ontem, não se esgota nesta carta. Amanhã continuarei a enviar-te o que penso sobre esta outra pandemia silenciosa. Ela, que não mata, contudo, acaba, por ir desmoralizando muitos dos infetados. Por agora despeço-me de ti, minha querida amiga, com um beijo franco e saudoso, este teu eterno amigo do coração,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - Abordagens Sobre a Burrice - II - 1

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Olá Berta,

Depois do intervalo, na carta de ontem, regresso hoje ao Diário Secreto do Senhor da Bruma. Hoje para entrar numa temática um pouco sensível: a burrice. Sim porque se há coisa que não falta, pelo contrário abunda é gente burra neste nosso globo. Por incrível que possa parecer estes burros de cariz bem humano ocupam todo o planeta e falam, cada um em seu celeiro, todas as línguas conhecidas, pese embora o facto de cada um só falar a sua e pouco mais. Mas são efetivamente uma imensa maioria.

Atenção que ao escrever-te isto não estou a querer insultar ninguém. As pessoas são o que são, umas evoluem enquanto outras não, e, nem sempre, são culpadas da sua tendência flagrante para a asnice. Mas voltando aos jumentos, é hora de analisar o tema:

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II

 

Abordagens sobre a Burrice

(início - II - 1)

Fevereiro, dia 11:

Convém esclarecer, logo à partida, que ninguém é burro porque quer. Se a tendência gritante da humanidade para a asnice fosse uma opção, então ela já estaria extinta.

Nota: Não se deve ler de seguida o parágrafo da listagem que se segue no dia 12. Seria uma burrice. (aqui apenas pretendo deixar registado, para minhas futuras consultas, a lista quase exaustiva dos sinónimos que eu encontrei nas buscas efetuadas. Mais à frente tentarei fazer o mesmo usando, porém, os termos brasileiros).

Fevereiro, dia 12:

Sinónimos de burro, nominais ou figurativos na língua portuguesa:

Acéfalo, animal, asno, analfabeto, anta, apancadado, aparvalhado, asneirão, atónito, azêmola, babuíno, banana, bacoco, badana, beócio, besta, bestial, bobo, bom-serás, boquiaberto, boçal, bronco, borrego, bruto, burgesso, burrico, cabaça, cabeça-dura, cabeça-oca, cabeçudo, calino, cavalgadura, chochinho, choné, cretino, curto, débil mental, deficiente mental, desajeitado, disparatado, doudivanas, doido, energúmeno, enfadonho, entorpecido, estulto, estúpido, grosseiro, idiota, ignorante, imbecil, imperito, incapaz, inepto, ingénuo, insensato, jerico, jumento, lambão, lerdaço, limitado, lerdo, lérias, lorpa, lunático, manco, mentecapto, microcéfalo, molusco, néscio, obtuso, onagro, otário, pacóvio, palerma, pancrácio, papalvo, paralisado, patinho, pato, parvalhão, parvo, pascácio, paspalhão, patego, pateta, pedaço-de-asno, pequeno, perturbado, retardado, ridículo, rombo, rude, simplório, songo-mongo, sonso, sobreiro, tacanho, tanso, tapado, tantã, teimoso, toleirão, tolo, tonto, totó, toupeira, trouxa.

Fevereiro, dia 13:

Ninguém tem especial prazer em reconhecer que não passa de uma besta quadrada, de um verdadeiro asno, de um grande burro ou, simplesmente, de uma mula. Se pensarmos um pouco no assunto é normal. A burrice, seja qual for o seu grau, não só não dá currículo, como não ajuda nada no desenvolvimento pessoal e apenas se demonstra útil para aqueles que normalmente gostam de seguir a carneirada. Não se sabe a origem, mas é um facto que, todos os tipos de burros, têm um gosto especial pelos carneiros e seus rebanhos. Há quem defenda que os níveis intelectuais os aproximam mais do que as diferenças morfológicas os afastam. No entanto, não há certezas.

Fevereiro, dia 14:

Está, contudo, provado que a burrice não é uma mera condição hereditária. No final destes últimos anos do primeiro quartel do século XXI já sabemos, inclusivamente, que existem vários fatores externos ao individuo burro que contribuem sobremaneira para o seu desenvolvimento, disseminação e expansão exponencial. Os primeiros grandes contribuintes são, logo à partida, a sociedade e os países, com cada Estado a tentar convencer os seus cidadãos que as regras, leis e ordem do território são premissas inquestionáveis. O mesmo acontece com a religião, a filosofia, o associativismo e a política, só para abordar alguns dos gigantes.

Fevereiro, dia 15:

Todavia, o século passado juntou alguns ingredientes indispensáveis à massificação do idiota, quero dizer, do burro. Entre eles a rádio, a televisão, o cinema e todos os meios de comunicação do telefone aos telemóveis, até à internet e aos jogos eletrónicos. Depois somou-se-lhe a publicidade e a moda, e, já no nosso século, a globalização à séria, o capital desregulado, as redes sociais e a desinformação descarada. Um caldo perfeito para o mundo civilizado poder ser alarvemente invadido por gente burra.

Fevereiro, dia 16:

Estamos na era do asno moderno, mas que permanece em total negação da sua absoluta burrice. No final do segundo milénio era comum escutar provérbios sobre o assunto que sugeriam coisas do género: “À primeira cai qualquer, à segunda cai quem quer e à terceira só cai quem é burro”. Ora, esta fraseologia está totalmente obsoleta. O burro moderno cai logo à primeira e o mais espantoso, dizem alguns teóricos da burrice, é que muitos deles já nem caem, atiram-se.

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Mais uma vez não tenho remédio e já me estou a alongar na minha carta. Terás de reconhecer, amiga Berta, que a burrice é um tema fascinante. Contudo, amanhã também é dia. Despede-se este teu saudoso amigo, com um beijo, sempre ao dispor, caso seja necessário, e com um sorriso nos lábios

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - Os Primeiros Apontamentos - I.7

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Olá Berta,

O “Diário Secreto do Senhor da Bruma” continua a sua análise da Teoria do Suicídio. Ao fim ao cabo, quem se quer matar tem todo o direito de o fazer com a máxima segurança e com a consciência plena daquilo em que se pretende envolver.

Afinal, caso seja bem-sucedido não é propriamente fácil conseguir voltar atrás. Há que ter todas as certezas, por forma a evitar falhas clamorosas que nos podem, dependendo da sua gravidade, acabar por nos deixar vivos e pior ainda dependentes da boa vontade e paciência de terceiros. Um verdadeiro pesadelo, se queres que seja franco, minha querida Berta. Sem perder mais tempo aqui fica mais uma análise:

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I

Os Primeiros Apontamentos (final - I-7)

Fevereiro, dia 7:

A Teoria do Suicídio – Métodos e Processos:

213) Escute atentamente, durante 15 minutos, um debate político entre Ventura e Chicão. De seguida tente imaginar um país governado por estes 2 indivíduos. Se dez minutos depois ainda não sentir que vai morrer de vergonha por ter esta gente como líderes de partidos ditos democráticos, porque elegeram deputados numa democracia, que ainda por cima é a nossa, relaxe. Você não tem qualquer tendência para o suicídio. Esta experiência não tem validade prática se testada em idiotas, cretinos, malfeitores, criminosos, xenófobos, racistas, homofóbicos, pedófilos ou outros insetos.

Fevereiro, dia 8:

203) Tome um veneno eficaz para morrer e parta em paz. Todavia, antes de o fazer recomendo 3 passos essenciais. Depois de os ter seguido de um modo preciso e rígido terá a certeza de que tomou, sem dúvida alguma, a opção mais acertada.

1) Na escolha do tal veneno infalível, depois da sua pesquisa profunda sobre qual a melhor opção, informe-se meticulosamente de todos os seus efeitos. Não apenas enquanto tempo o vai matar ou as dores que sentirá quando este começar a fazer efeito, mas, também, o que acontece pela toma, a cada um dos seus órgãos internos. Depois tente averiguar a forma como essa poção afeta o seu corpo sem vida, isto é, se retarda o apodrecimento dos órgãos ou se pelo contrário o acelera, que tipo de bicharada atrai e assim por diante. Já agora tente descobrir quanto tempo poderá levar até só restar de si cinza ou pó.

Fevereiro, dia 9:

2) De seguida faça um demorado estudo comparativo entre o veneno escolhido e os outros, que, entretanto, tinha relegado para segundo plano, pelo menos avalie mais outros 9. Verifique igualmente qual é a margem de erro do seu veneno. Se o fizer pode descobrir que apenas fulmina 80 ou 90% das vítimas e que as outras acabam por ficar em estados mais ou menos vegetativos, deficientes ou dolorosos para o resto da vida. Tem de ter a certeza que isso não acontece consigo.

Fevereiro, dia 10

3) Pense aquilo que sentirão, pensarão e dirão de si amigos, colegas, parentes, familiares próximos e, não esqueça de avaliar também os mexericos dos inimigos.

3.1) Se, no final de tudo isto, ainda se mantiver resolvido a suicidar-se pelo método 203, não se atreva a dizer que teve o meu apoio. Apenas acho que, enquanto pessoa, você não passa de uma vulgar beterraba, com sabor a nabo e um absurdo cheiro a alho.

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Não entendo, minha querida Berta, porque é que alguém há de querer terminar com a sua própria vida, a não ser em casos absolutamente extremos de doença e dor. Mesmo esses só os considero aceitáveis se forem irreversíveis.

Contudo, para meu espanto, a teoria do suicídio é um tema que parece despertar interesse no seio de algumas camadas mais jovens da população. É claro que não vou dizer, como os meus pais diziam, ou seja, que os valores estão todos em decadência. Pelo contrário, acho que muitos deles melhoraram incrivelmente, de tal modo, que alguns deles são direitos, enquanto antes eram meras ideias de alguns idealistas. Tempos estranhos estes em que vamos vivendo, muito estranhos mesmo.

 

Por hoje é tudo minha adorada amiguinha. Espero que tudo continue bem por esses Algarves e que tu, principalmente, continues de saúde e alegre. Despede-se este que te considera e admira, com um beijo terno, sempre ao teu dispor, caso precises,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - Os Primeiros Apontamentos - I.6

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Olá Berta,

Perguntaste-me tu, na resposta à minha última carta se o Diário Secreto do Senhor da Bruma vai ser todo assim e se te o vou enviar de seguida de fio a pavio. A resposta é negativa para ambas as questões. Se reparares na carta do dia 28 de junho, eu início o primeiro capítulo com apontamentos e escrevo, a negrito, logo no início: “Um capítulo avulso, ao sabor dos dias, sem grande linha condutora.”

Quanto ao envio do diário, para já, apenas te envio o primeiro capítulo. Senão a coisa arrisca a tornar-se chata. Mesmo sendo um diário, afinal é um livro enviado à prestações. Uma nova série será enviada, mais tarde, quando o intervalo te tiver permitido descansar da primeira leva deste diário secreto. Mas vamos continuar:

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I

Os Primeiros Apontamentos (continuação I-6)

Fevereiro, dia 3:

Chicão:

  • Termo usado como diminutivo (aumentativo) de Francisco com a finalidade de proporcionar ao seu utilizador um ar de virilidade e perigo, independentemente de ele ser ou não alguém a respeitar, por bons ou maus motivos. Recentemente muito falado por ser alcunha de um líder partidário com assento parlamentar (não confundir com para lamentar). No caso concreto, o seu uso tenta dar volume e dimensão a um individuo franzino, magro em suma, de fraca figura, atormentado por tremores de terra, cuja inteligência nada fica a dever se comparada ao intelecto normalmente atribuído àqueles que usam a mesma alcunha ou outra do mesmo calibre. Este é um caso típico do velho ditado que diz: “a montanha pariu um rato”.

Fevereiro, dia 4:

O problema da linguagem dentro da língua:

  • Há as pessoas que falam, para se fazerem entender, e as que o fazem precisamente na busca insana do seu contrário.

Dou um exemplo simples:

“Pesquisas sem elevado epítome:

  • Análise zodiacal na perspetiva metafísica, no âmbito interativo entre os vetores ontológicos e os fatores cosmológicos reagentes, enquanto enquadrados na visão astrológica, e a sua direta aplicação antropomórfica nos procedimentos cognitivos dos seres humanos, se constituintes de um mesmo signo, no prisma do seu influxo no desenvolvimento do carácter globalizante apenso a um grupo circunscrito (como acontece no espetro conjuntural de um signo específico):
  • Explicada a abordagem, o quesito a esclarecer é o de concluir, pelo eruditismo, se, na análise proposta: existem estudos liquidantes da asserção reacionista entre zodíaco e personalidade, podendo-se afirmar tal sem mais circunstancialismos de correlação?
  • Por outras palavras, bem mais baratas e populares, os 2 parágrafos de cima podem ser resumidos por:
  • É verdade que os signos do zodíaco influenciam as pessoas?”

Fevereiro, dia 5:

Explicações lógicas sobre o uso das linguagens, na própria língua:

1)   Este tipo de questões, elaboradas de forma complexa, são usadas pelas diferentes linguagens, de setores que pretendem manter-se herméticos, ou seja, completamente fechados, para a população em geral. Basta pensarmos no vocabulário e construção textual de clusters ou setores como o da medicina, do direito, das engenharias, entre outros.

1.1) Em resumo: as linguagens próprias de certos campos sociais ou profissionais, etc., não servem apenas para ajudar o grupo a entender-se, mas, também, para dificultar a entrada de “turistas de pé descalço” no seio do seu nicho de mercado.

1.2) É assim entre filósofos, matemáticos, cientistas e todo o tipo de pensadores, compartimentados nos seus restritos e protegidos conhecimentos. Não passam globalmente de pretensiosos xenófobos do falar ou do escrever, digam o que disserem. Disfarçados na hermenêutica cooperativista e sectária da sua linguagem.

Fevereiro, dia 6:

2) Para esta gente, a ralé somos todos nós, os que, vindos de fora, ignoram o significado da sua linguagem. Ora eu, como ralé e pé descalço, quero que os ditos especialistas vão todos ter muitos meninos. Há que desmitificar de uma vez por todas estas linguagens, cuja tradução tem sempre um equivalente na nossa conversação corrente.

2.1) Se um qualquer pensador me disser, do alto da sua sabedoria, “in vino veritas” eu tenho é que lhe perguntar porque raio não me disse ele antes: “- Bebe pá, vais ver como confessas”.

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É com o escrito de 6 de fevereiro que termino a carta de hoje. Recebe um beijo de saudades, como despedida longínqua deste teu amigo que jamais te esquece,

Gil Saraiva

 

 

 

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - Os Primeiros Apontamentos - I.5

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Olá Berta,

Fico muito contente em saber que já te riste algumas vezes e sorriste outras tantas. Conforme dizes, e bem, o humor e “non sense” juntos, para quem não é britânico ou psicologicamente desarranjado nem sempre é fácil de apanhar à primeira.

Embora tenhas escolhido muito bem as palavras, fiquei na dúvida se me estás a elogiar ou a chamar maluquinho. Mas não importa. Continuemos com o Diário Secreto do Senhor da Bruma”.

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I

Os Primeiros Apontamentos (continuação I-5)

Janeiro, dia 29

Máscara:

  • Para além de designar o adereço usado para esconder algo ou alguém, a palavra ganhou, recentemente o significado de adereço de vestuário para proteção viral em situações de falta de confinamento ou de desconfinamento, permitindo, com as devidas distâncias, algum convívio social mais controlado. É totalmente falsa a afirmação de que a máscara protege, seja quem for, da prática de relações sexuais, sodomias e outras tropelias.

Máscara - Advertências:

  • Nunca use a sua máscara para se assoar, limpar qualquer tipo de secreções, fluidos orgânicos, urina ou fezes. A utilização de perfumes, à posteriori, para disfarçar esse uso, não desinfeta, em caso algum, o produto.
  • O uso deste acessório no pescoço não o protege de qualquer tipo de contaminação, como também não o impede de ser estrangulado por um maníaco qualquer.

Janeiro, dia 30:

Máscara cirúrgica:

  • Proteção das vias respiratórias, nariz e boca, habitualmente usada em procedimentos cirúrgicos, composta por tecidos filtrantes do ar, mais concretamente em contexto médico ou hospitalar operatório, como proteção viral ou bacteriológica, ou seja, para evitar contaminações, e, nos dias de hoje, com aplicação corrente na proteção e combate à propagação de uma epidemia no meio humano e social. Esta máscara, contudo, não impede um cretino de continuar a sê-lo.

Janeiro, dia 31:

Máscara Social:

  • Adereço de moda, que hipoteticamente deveria ter as mesmas caraterísticas filtrantes da sua congénere cirúrgica, mas que, muitas vezes, apenas cumpre o seu propósito de acessório de luxo.
  • Embora possa ser utilizada também de forma eficaz contra o mau hálito, este elemento decorativo não nos defende contra a má língua que um seu utilizador possa ter.

Fevereiro, dia 1:

Máscara Caseira:

  • Criação muito baratucha de um objeto simples que nos possa defender socialmente, em grupo, da transmissão comunitária de vírus ou bactérias de origem respiratória.
  • Inventada pelo povo, para o povo e porque o povo tem de ter uma alternativa minimamente aceitável feita à medida do seu bolso.
  • Todavia, a sua utilização não garante uma proteção 100% eficiente, salvo raras exceções, e de nada serve se, como todas elas aliás, for usada como gargantilha.
  • Não se conhecem casos reais em que a mesma seja determinante contra a verborreia de certos imbecis.

Fevereiro, dia 2:

Máscara Certificada:

  • Peça aprovada, como eficaz nos seus prossupostos de proteção e filtragem, pelos responsáveis oficiais do setor a nível dos respetivos órgãos de poder. Exige candidatura dos fabricantes à sua certificação, pagamento das devidas taxas e só é eficaz nos países onde o setor de autenticação não sofre já de contaminação por corrupção.
  • É uma das máscaras mais caras do mercado, só superada por certas máscaras sociais da alta roda da moda.
  • Normalmente pouco estéticas, porque certificação não implica bom gosto, em países civilizados podem ser realmente eficazes.
  • Porém, para além de ser um produto muito sujeito à contrafação, são totalmente inúteis em termos estéticos, não oferecendo benefícios de beleza a nenhuma cara de cavalo que a possa querer usar, pese embora se reconheça que pode ajudar as pessoas feias a passarem mais despercebidas em sociedade, evitando o seu isolamento social.
  • É a máscara de eleição do novo rico, do idiota chapado e dos hipocondríacos.

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Por hoje termino e me despeço com um beijo, deste teu eternamente amigo, repleto de saudades de ti, amiga Berta, e esperançoso de te rever em breve,

Gil Saraiva

 

 

Carta à Berta: Livro - O diário Secreto do Senhor da Bruma - Os Primeiros Apontamentos - I.4

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Olá Berta,

Na verdade, respondendo às tuas questões sobre o “Diário Secreto do Senhor da Bruma”, este é realmente um somatório daquilo que me chama a atenção numa ou noutra situação pela qual eu vou passando.

Muitas vezes ficam omissas as razões desta ou daquela observação, apontamento, pensamento ou raciocínio, mas também não é esse o objetivo de algo que se escreve só para nós mesmos e que, a dada altura, resolvemos partilhar com mais alguém.

Contudo, está à vontade para colocares todas as dúvidas que tiveres sobre seja o que for que eu por aqui escreva. Não terei qualquer problema em te esclarecer. Voltemos, pois, à nossa temática:

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I

Os Primeiros Apontamentos (continuação I-4)

 

Janeiro, dia 25:

Desconfinado (a):

  • Aquele indivíduo que regressa ao convívio social. Importa salientar que, como no caso contrário, o seu uso é indevido nos antónimos inapropriados da palavra de que deriva. Como esclarecimento adicional também se clarifica que, em caso algum, a palavra pode indicar “aquele que tirou algo do rabo”.

Janeiro, dia 26:

Confinamento:

  • Designação que indica o ato de estar confinado (já explicado).

Desconfinamento:

Designação que indica o ato de deixar de estar confinado (já explicado).

Reconfinar:

  • Voltar a repetir, de forma involuntária, mas legalmente exigível, o ato de confinamento já efetuado em, pelo menos, uma situação anterior. Nunca se aplica a expressão para se explicar uma qualquer reintrodução anal.

Reconfinamento:

  • Voltar à situação anterior de Confinamento. Mais uma vez se esclarece que não se trata de ajustar qualquer tipo de pacote num local onde este já esteve de forma apertada e claustrofóbica.

Janeiro, dia 27:

André Ventura:

  • Nome como é socialmente tratado um político de direita português, erradamente utilizado para significar ignorante, estúpido, cretino, falso, vira-casacas, idiota, fascista, homossexual não assumido e preconceituoso para com os seus semelhantes, entre outros impropérios vários, que, nalguns casos, entram no domínio do palavrão.
  • Etimologicamente, nenhuma destas 2 palavras, nem mesmo enquanto conjugadas por esta ordem (André Ventura), têm qualquer pista na sua génese que justifique a sua associação aos referidos classificativos. Pelo que, daí se conclui que o seu uso é por demais indevido no contexto onde tem aparecido aplicado.
  • Tanto assim é que chamar de “André Ventura” a um paciente com trissomia 21 pode ser considerado um insulto, principalmente, para o individuo portador dessa terrível deficiência genética ou malformação por qualquer problema desse teor.
  • Contrariamente a algumas teses, a expressão ou nome composto “André Ventura” também não se refere a qualquer tipo de troglodita ou mesmo de um género de vírus, bactéria ou a uma específica espécie de excremento malcheiroso, especialmente desagradável.

Janeiro, dia 28:

CHEGA:

  • Escrito assim, só com maiúsculas, designa o nome de um partido político português com representação parlamentar, cuja sigla adotada é CH.
  • Neste caso concreto convém esclarecer que a palavra não significa o mesmo que a homónima “chega” que é uma expressão usada para mandar parar uma ação ou para fazer calar, não sendo, no caso concreto sinónima de basta;
  • Nem tem nada a ver com a conjugação do verbo chegar, indicativo de alguma deslocação ou mobilidade de um determinado local para outro.
  • Independentemente de outras fontes, que desconheço, não existe qualquer confirmação, que se possa considerar provada ou verdadeira, que a palavra possa igualmente significar: um bando de populistas, malfeitores e de gente sem caráter ou que até seja utilizada como sigla para uma congregação de racistas, xenófobos, machistas, homofóbicos e fascistas;
  • Também me parece totalmente falsa a afirmação de que o uso deste nome pode ocultar uma aglomeração de vigaristas, oportunistas, mentirosos e cretinos, com ares de supremacia seja de que espécie for.
  • Igualmente está por provar que represente, de alguma forma, os inadaptados, os revoltados, os invejosos, os filhos de pai incógnito, os pedófilos, os sádicos, os totalmente idiotas e os torturadores, bem como alguns assassinos, sendo, no meu entender, perfeitamente legitimo que este partido possa interpor toda e qualquer ação judicial sempre que indicações deste tipo, se não comprovadas, possam ser, de alguma forma, a si associadas.

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Ena, ena, já ia por aqui lançado nestas definições, entusiasmado com a temática. Peço perdão, amiga Berta. Despede-se este teu bom amigo, com um beijo repimpado e sorridente, que só pode ser entregue à distância de uma carta, sempre pronto para o que possas necessitar, feliz pela presente amizade,

Gil Saraiva

 

 

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