Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Gostei de saber que achaste graça à expressão de que “os olhos também bebem” da minha última carta. Como sabes todos os nichos sociais têm termos e uma linguagem própria que os carateriza. O mesmo acontece nos universos da uva e do vinho, aliás, em toda a cultura do setor. Não é, portanto, motivo de espanto que me vejas dedicar alguns capítulos de “Os Segredos de Baco” a essa temática, começando já neste oitavo capítulo.
Contudo, é certamente algo que nunca deves ter lido em nenhuma outra publicação ligada ao mundo do vinho e se te questionares sobre os porquês eu respondo-te de forma simples e sem grandes revelações. Quando estamos perante uma coisa rotineira e evidente raramente nos passa pela cabeça sistematizá-la ou até mesmo escrever seja o que for sobre ela.
Como exemplo, quando se fala de futebol ninguém pensa em discutir ou apresentar as razões da forma da bola do jogo ser redonda, esférica, e não ter uma outra forma qualquer. Trata-se de um dado assumido que não carece de muito mais explicação. Mas se isto é verídico para uma situação desta simplicidade a situação é ligeiramente mais complexa no que ao vinho diz respeito. Os termos usados no mundo vitivinícola podiam muito bem ser todos de caráter técnico ou profissional, porém, visam também transmitir prazer.
Aliás, num setor que envolve problemas no que concerne ao setor da saúde, devido a quem faz um uso excessivo da ingestão de vinho e de outras bebidas com diferentes teores alcoólicos ou até de quem, devido ao seu quadro clínico não devia beber de todo, importa ser proativo na demonstração da confiança, tradição e qualidade do produto.
Não nos podemos esquecer que morrem, só em Portugal, 13 mil e 500 pessoas, por ano, devido a este hábito de se beber, por conjugação com os problemas de saúde dos indivíduos e pelos excessos fáceis de atingir, muitas vezes causados pelo desejo de uma euforia de momento, ou até, por problemas de viciação.
Não sendo o vinho o único responsável isolado deste problema, para além dos problemas individuais de cada um, no que respeita à sua tolerância ao álcool, há ainda a ter em conta que o setor é acompanhado pelo das cervejas e o das bebidas destiladas, que têm iguais responsabilidades.
Porém, quando se analisa toda esta problemática, que pode exigir controlo ou abstinência, os produtores do vinho e toda a industria em seu redor, têm a preocupação acrescida não apenas de transmitir a confiança, a qualidade e a tradição do setor, mas envolver cada consumidor numa comunidade unida em torno da apreciação e apreço por uma cultura dos vinhos associada ao prazer e ao prestígio, ao sucesso e à degustação refinada, envolta em valores de classe e de charme, que as marcas tentam passar e promover.
É no seio desta realidade, que se tenta desenvolver a política do bem-estar, induzindo todos os envolvidos num universo subtil, quase divino, que o vocabulário e a terminologia ganham relevo, forma e importância. Continuando pelo caso português, que não difere muito daquilo que se passa nos outros países produtores, importa explicar certos porquês no que concerne à envolvente linguagem do vinho.
III) O Vocabulário da Terminologia usada nos Vinhos Nacionais e alguns Porquês…
A) Os Contornos do Prazer associado ao Conforto e ao Bem-Estar.
Há quem pense que as coisas acontecem por acaso, que são fruto de coincidências normais e aparentemente sem uma intensão nas ações, sem uma finalidade pré-definida à partida. Ainda existem aqueles que consideram que certos fenómenos são gerados pelas necessidades do marketing. Realmente pode ser verdade. Admito que as coisas se possam passar de uma ou de outra maneira. em qualquer parte do mundo aliás.
2) A Ideia Diferente:
Mas, ao olhar para todo o universo que rodeia o vinho, acho que existe uma lógica e sou levado a pensar de forma diversa. Não faz sentido no atual contexto, abordar o fenómeno em termos globais, pelo que, neste trabalho, apenas me vou debruçar sobre o caso português embora possa usar, aqui ou ali, uma imagem que fuja dos contornos nacionais.
3) Os Antecedentes:
Para não ir mais longe, e focando-me apenas na civilização ocidental, podemos reparar que desde a antiguidade grega e romana o vinho tem um papel central na vida das pessoas. Os antigos até tinham um deus para o álcool, Baco para os gregos ou Dionísio no caso dos romanos. Ele era o deus do vinho, mas também da ebriedade e dos excessos, especialmente os sexuais sendo igualmente o deus da natureza, aquela que não inclui mão humana.
a) O Prazer, o Conforto e o Bem-Estar:
É de notar que as festas organizadas em honra de Baco eram denominadas bacanais, com tudo o que isso implica de excessos quer no vinho quer nos prazeres remanescentes. Celebrar o deus implicava a existência de prazer, de vivencias sensoriais, era um apelo à natureza e à terra, à religião, à aventura e ao mistério, na senda de sentimentos plenos de conforto e de bem-estar.
b) Influências e Marcas:
Estas celebrações religiosas, porque dedicadas a um deus, a que me referi no ponto anterior, eram organizadas por quem tinha nome, família e propriedade, por quem era, logicamente dono e senhor de um ou vários locais, e, sem exceção, eram regadas com vinho, muito vinho. Coisas que influenciaram toda uma civilização, atravessando, com o correr dos tempos, todos os estratos sociais. principalmente a nobreza e realeza europeias muito ligadas aos fenómenos da antiguidade. Foram elas que, aos poucos, marcaram assim, de forma evidente, tradições geradas nesse passado que transmitia ao vinho um simbolismo de protagonismo e poder.
Deixo a segunda secção para a carta de amanhã. Por hoje despeço-me grato por ter tão paciente leitora, recebe um beijo de despedida deste teu amigo, com um curto adeus e um até às próximas linhas.
Hoje deves-te sentir como no verão aí pelo Algarve. Se aqui está excelente, imagino aí, minha querida amiga, até deve dar vontade de ir até à praia. Porém, tem cuidado com os ajuntamentos pois atravessamos momentos de crise muito sérios em termos virais. Hoje, todavia, mudando de assunto, cheguei ao ponto de te falar das caraterísticas mais relevantes dos vinhos. Aquelas que, normalmente, o ajudam a classificar.
Por isso, o capítulo VII de “Os Sabores de Baco” vai ser totalmente dedicado aos parâmetros de qualidade do vinho inseridos na classificação dos vinhos. Para não gerar confusão deixo apenas um último esclarecimento sobre a matéria. Nem todos aqueles que classificam se regem pela totalidade dos 10 critérios, embora esta devesse ser a norma. Há quem, por exemplo, não valorize o décimo ponto, aquele que se refere à apresentação.
Contudo, todos os grandes avaliadores optam por levar em linha de conta este parâmetro porque, afinal, o olhar aguça a sede e estimula o cérebro. Portanto, os verdadeiros especialistas não minimizam este ponto que pode ser fundamental, principalmente quando chegamos aos 2 mais elevados níveis de classificação. Um vinho de topo é facilmente prejudicado por uma garrafa ou um rótulo criado sem os devidos cuidados de maneira displicente. Na opinião dos críticos isso pode demonstrar descuido na produção ou falta de empenho integral no produto, ou seja, não é apenas necessário ser, mas, também, parecer excelente, para o ser.
C) A Classificação dos Vinhos - Parâmetros de Qualidade:
1) Cor: Para os vinhos brancos as cores observadas podem ir desde uma quase ausência de cor, passando por alguns tons de esverdeado até aos diversos amarelos. Paro o vinho tinto as cores podem variar por todas as tonalidades de vermelho e alguns azuis (quase violeta) até ao vermelho tijolo e ao bordeaux bem carregado e escuro, bem perto do negro.
2) Claridade: A maior parte dos vinhos não demonstra problemas de claridade, no entanto ,se o vinho se apresentar “turvo”, com uma espécie de “nevoa” que o impede de ver a outra face do copo e se essa “névoa” se mantiver mesmo depois do vinho decantado a apreciação será sempre negativa.
3) Aroma ou Bouquet: Cada vinho oferece uma variedade de aromas e o nosso olfato apenas é capaz de identificar aromas que já tenha sentido anteriormente, por isso, nos cursos de vinhos usam-se kits de aromas para que os alunos se familiarizem com os diversos aromas que, eventualmente, podem existir no vinho (e cuja tabela completa contém mais de 1000). Para ajudar a identificar os aromas é necessário conhecer as castas que compõem um vinho e os aromas de cada uma delas.
4) Equilíbrio: Toma-se um gole de vinho e rola-se pela boca, algo parecido com um bochechar e antes de cuspir o vinho deixa-se entrar um pouco de ar. Embora o termo equilíbrio seja um vocábulo muito subjetivo, toda a avaliação também tem o mesmo problema. Aqui devemos ter em atenção se nenhum dos componentes do vinho sobressai sobre os restantes, por exemplo, se os elementos químicos sobressaem dos restantes a pontuação deve ser baixa, mas se existir um equilibro perfeito essa pontuação deve ser alta.
5) Açúcares: é preciso ter em atenção se estamos a beber um típico vinho seco ou se estamos a beber um vinho de sobremesa (por exemplo um vinho do Porto). Se se tratar de um vinho seco, mas sentirmos o açúcar isso não é bom. Nos vinhos de sobremesa (doces) a análise deve ser contrária. A bota tem sempre de bater com a perdigota.
6) Acidez: é um dos aspetos principais pois pode tornar um bom vinho num vinho de difícil digestão. Se um vinho for ácido, mas ao mesmo tempo é equilibrado por outros aspetos do vinho (taninos, álcool, sabores, etc.) isso é positivo, mas se a acidez desequilibra o vinho ao ponto de o tornar difícil de beber isso é péssimo.
7) Corpo: é a sensação de textura que o vinho deixa na boca. Uma boa forma de analisar o corpo de um vinho é tomar um gole de água, se, após isso, o vinho que provamos tem um maior corpo (peso), uma maior presença na boca, estamos perante um vinho com mais corpo (ou encorpado), se, por outro lado, o vinho se aproximar do peso da água na boca, é um vinho sem corpo. Quanto maior o corpo do vinho maior deve ser a pontuação.
8) Taninos: são os elementos químicos que resultam das sementes da uva e do carvalho onde o vinho pode estagiar (caso tenha estágio em madeira). Conferem estrutura aos vinhos, particularmente aos tintos, sendo indispensáveis à sua longevidade. Um vinho jovem (com capacidade de envelhecimento) deve ter uma boa presença de taninos, esse mesmo vinho, com o passar do tempo, acaba por ter os taninos mais equilibrados, por isso encontrar um vinho jovem com taninos fortes é bom sinal (principalmente é sinal de que devemos guardar o vinho e voltar a bebê-lo mais tarde), implica que estamos perante um vinho que vai crescer na garrafa por um determinado tempo, o qual até pode ser de vários anos.
9) Qualidade Geral: a melhor forma de avaliar a qualidade geral é pensar se voltaria a beber esse vinho, se for um "sim definitivo" o vinho é bom e um "não claro" também não deixa dúvidas, já os valores intermédios dependem da avaliação do vinho em causa.
10) Apresentação: muitos especialistas não classificam este item, o que é um erro. Os olhos também bebem e por muito bom que um vinho seja ninguém apreciaria vê-lo servido numa garrafa mais parecida em rótulo e forma à da lixivia de casa. Um bom design sempre ajuda um bom vinho.
Minha querida amiga, despeço-me com um beijo, este teu amigo de sempre,
Hoje, ainda na senda de te passar “Os Segredos de Baco”, chegamos ao sexto capítulo, dedicado às pontuações atribuídas aos vinhos. Para que servem? Porque são elas necessárias? Quem as faz? Começando pela última questão sobre quem cria as pontuações dos vinhos, posso afirmar que existem cerca de 4 géneros de avaliadores.
I) Os Avaliadores:
Os mestres do vinho, verdadeiros profissionais, técnicos de viticultura e de vinhos, responsáveis pelas escolhas e opções na produção, avaliando todas as variáveis, solos, clima, videiras, castas, estado das uvas, tratamentos e opções na composição de um determinado vinho, denominados por enólogos, usualmente formados em agronomia e especializados em enologia.
2) Os especialistas em vinhos, responsáveis nas escolhas do vinho e da sua harmonização com o que se come, na elaboração da carta de vinhos e outros detalhes como, por exemplo, as condições de armazenamento, temperaturas quer no armazenamento, quer na hora de o servir, ainda fazem habitualmente provas de vinhos e outros detalhes importantes na apresentação do vinho, são técnicos altamente profissionalizados e especializados, assinalados como escanções ou sommeliers.
3) Os enófilos, todos os apreciadores da cultura que envolve o vinho. São normalmente provadores, ou seja, degustam o produto, gerando anotações e apreciações sobre cada vinho provado, habitualmente integrados em confrarias, promovendo e participando em encontros vínicos, sem, contudo, terem qualquer responsabilidade na elaboração do produto final.
4) Os críticos e/ou os jornalistas do mundo vitivinícola, que podem ou não englobar uma ou mais das categorias anteriores ou serem, simplesmente, apreciadores dedicados e apaixonados pelo vinho. Eles são capazes de detetar aromas, cor, maturação, texturas e paladares do vinho, conseguindo apreciar as refinadas nuances do produto e eficientes a reconhecer castas, regiões de cultivo e outras particularidades do vinho, mas, principalmente, possuidores de um sentido crítico apurado e refinado bom gosto.
É no seio deste último grupo que me sinto integrado. Não apenas por ser jornalista desde 1981, mas por ter estado sempre perto da cultura vitivinícola toda a minha vida, participando em vindimas, feiras e provas de vinho, frequentando adegas e garrafeiras. Para além disso, mantendo-me informado no acompanhamento da evolução técnica do mercado, cobrindo o mundo do vinho, quer no terreno, quer através da literatura produzida sobre esta matéria nos últimos 40 anos. Aliado a tudo isto, ainda acrescento um paterno e hereditário faro de perdigueiro.
II) Pontuações
Muitas vezes é possível encontrar nas garrafas de vinho a referência quer a prémios conquistados pelo vinho de um determinado ano, quer sobre a sua boa classificação neste ou naquele concurso ou ainda uma ou outra referência à pontuação que lhe foi atribuída pelos especialistas, podendo esta ser o resultado de uma atribuição em concurso ou fruto de uma publicação, blog ou listagem por parte dos críticos da especialidade.
A) Ratings - Pontuações: Existem Pontuações de 0 a 3, de 0 a 5, de 0 a 10, de 0 a 20 (com ou sem décimas ou centésimas) e de 50 a 100 pontos. De realçar que algumas pontuações são apresentadas sobre a forma de estrelas, outras há que as substituem por cores e ainda existem os que preferem o uso de termos, normalmente adjetivos, para ilustrarem os pontos atribuídos ao vinho. Se os franceses preferem classificar os vinhos de 1 a 10 e os americanos de 50 a 100 o que mais importa reter é que todos têm por finalidade ajudar os enófilos a optar por um bom vinho.
B) Robert Parker: Ele é na atualidade o mais apreciado de todos os especialistas que pontuam o vinho a nível mundial. As suas classificações são publicadas na revista de vinhos: Wine Advocate. Contudo, não se pense que não tem opositores. Seria um erro imaginar que isso era possível. Os europeus, por exemplo, contestam muitas vezes as classificações de Parker.
1) Os Parâmetros Qualitativos: Usados no seu sistema de classificação aparecem parametrizados numa escala de qualidade de 50-100 pontos. De notar que o próprio Parker enfatiza que a descrição do vinho degustado é o mais importante, sendo a nota apenas um complemento. A poesia está em entender o vinho enquanto uma obra de arte. Efémera para cada garrafa, mas eterna na História Universal do Vinho.
2) A Classificação Europeia: Do ponto de vista de Parker, os sistemas adotados na Europa, as escalas de 0-20 pontos ou pior as ainda mais curtas, não oferecem flexibilidade suficiente e, muitas vezes, resultam na avaliação de um vinho de modo mais comprimido ou presunçoso. Segundo este autor corre-se o risco de misturar alhos com bugalhos e de confundir quem consulta as classificações deste tipo de escalas de pontuação diminuta. Para combater isso, o uso da classificação de 0 a 5, de 0 a 10 ou de 0 a 20, até às décimas e, nalguns casos, até às centésimas, visa equilibrar a coisa, tornando a pontuação bem mais elástica, equiparando-as.
3) A Wine Advocate: Revista onde Parker publica, aprecia o rigor extremo no que à critica dos vinhos diz respeito, ou seja, na dúvida sobre a qualidade do vinho a nota desce em vez de subir e as avaliações numéricas são utilizadas apenas para reforçar e complementar as notas de prova, que é o principal meio de comunicação dos juízos de valor passados ao consumidor ou aos seus leitores.
4) Esta escala de pontuação traduz o seguinte (com as proporcionais equivalências para outras escalas):
a) 96-100: Um vinho extraordinário de caráter profundo e complexo, apresentando todos os atributos esperados de um vinho clássico da sua variedade. Os vinhos desta magnitude merecem um esforço especial para serem procurados, encontrados, comprados e consumidos.
b) 90-95: Um vinho de excecional complexidade e caráter. Em suma, um vinho excelente.
c) 80-89: Um vinho benévolo ou até um pouco mais do que isso. Já é, por certo, um vinho bom ou até mesmo muito bom, exibindo vários graus de requinte e sabor, bem como um caráter correto, sem falhas visíveis.
d) 70-79: Um vinho médio, com pouca variação, correto. Em essência, um vinho simples e inócuo. É um vinho que se consome sem dificuldade, mas que se encontra fora da classe daqueles que poderemos chamar de néctares. Perfeito para usar como tempero na elaboração de alguns pratos especiais da gastronomia, todavia, ainda bebível.
e) 60-69: Um vinho abaixo da média, com deficiências visíveis, tais como a acidez excessiva e taninos fora do esperado, uma ausência de sabor, ou, eventualmente, aromas ou sabores indesejados. Não se recomenda o seu consumo, nem mesmo o uso deste para temperar alimentos.
f) 50-59: Um vinho considerado inaceitável. Sobre os vinhos nesta categoria, que infelizmente ainda se consomem em demasia no nosso país, importa dizer que o uso de garrafas de vidro para o seu engarrafamento é um total desperdício de vidro e de rolha. Não devia ser usado para consumo humano nem mesmo como tempero.
Espero que tenhas apreciado, minha querida Berta, tanto como eu, mais estes esclarecimentos. Por hoje, termino com um beijo, sempre saudoso, deste teu eterno amigo,
Hoje a quinta edição de “Os Segredos de Baco” tem muito a ver com a pergunta: Como é que os vinhos se fazem notar num mundo onde existem tantas, marcas, regiões, safras, quantidades e qualidades desse néctar? A resposta foi encontrada na atribuição de prémios aos melhores, àqueles que pela sua qualidade se destacam dos outros.
Podem existir 20 vinhos diferentes numa certa localidade, mas, se um deles for galardoado e reconhecido como o melhor entre seus pares, será por certo o mais procurado por todos e logicamente o mais consumido. Existem prémios locais, regionais, nacionais e internacionais e são eles o tema desta carta que te escrevo hoje, minha amiga.
Contudo, para não me tornar cansativo e exaustivo apenas te deixo aqui o registo dos mais importantes e que mais pesam para a promoção e venda do vinho nacional. Quando comprares um vinho procura no rótulo se o mesmo recebeu algum prémio. Tem em atenção que, salvo uma ou outra exceção, um vinho, por exemplo de 2020, apenas começa a ter prémios 2 anos depois, ou seja, a partir de 2022.
Os Prémios:
As listagens que se seguem dos prémios e concursos, amiga Berta, não são para te pores a lê-las de uma assentada. Isso seria maçudo e chato. Porém, podem servir-te para verificares se esta ou aquela referência de uma garrafa a um prémio é importante ou se, pelo contrário, se trata de um destaque de menor relevância. As principais marcas concorrem aos que aqui vêm referidos, todavia, existem umas boas centenas de prémios no setor cuja interesse é de menor significado. Conseguir fazer essa distinção torna-se, por isso, significativo na hora da escolha de um vinho.
1) Finalidade: Os concursos que permeiam a qualidade do vinho, do produtor, da vinha e de tudo o que está ligado ao setor vitivinícola têm a finalidade de ajudar as marcas a vender os seus produtos, a cotá-los melhor no mercado e a incentivar o rácio quantidade versus qualidade. Em capítulo próprio destacámos os mais importantes a nível nacional e internacional. De notar que um prémio gera sempre uma maior visibilidade do produto.
2) Primeiros entre Iguais: Os concursos e os respetivos prémios são sempre organizados entre produtos da mesma gama e para um determinado ano de Concurso. Por exemplo, os que permeiam os vinhos tintos.
3) Tipologia: Os prémios atribuídos em concurso dividem-se em dois grandes grupos. Aqueles que não têm reconhecimento oficial por parte das autoridades, e que apenas ajudam o marketing dos produtores sem suporte de credibilidade, e os reconhecidos oficialmente. Nestes últimos encontramos vários níveis e patamares de importância e significado. Existem cinco patamares bem claros:
A) Concursos e Prémios Locais ou Concelhios. Os realizados no Cartaxo são disso um bom exemplo.
B) Concursos e Prémios dedicados apenas a uma Sub-Região. Como exemplo o realizado no Douro Superior.
C) Concursos e Prémios Regionais. Como exemplo tens o Concurso dos Vinhos Engarrafados do Alentejo.
D) Concursos e Prémios Nacionais. Como o efetuado pela Revista de Vinhos que permeia os melhores de cada ano nas diferentes categorias.
E) Concursos e Prémios Internacionais. Que projetam uma marca a nível internacional, aumentando a procura dos mercados e a consequente exportação do vinho. Como exemplo temos o Concurso IWC - Internacional Wine Challenge - Londres - Reino Unido realizado com Prova Cega.
4) Concursos Regionais, Nacionais e Internacionais: Só refiro concursos regionais, nacionais e internacionais. Os concursos locais como os concelhios e de uma sub-região não foram listados; no entanto é de referir que todos eles têm em vista motivar o consumidor pela escolha do mérito, dai o realce dado aos melhores numa qualquer categoria consoante o concurso.
A) Concursos em Portugal: (apenas destaco os concursos de maior relevância):
1) Concurso Adega Cooperativa do Ano - Revista de Vinhos
2) Concurso Confraria do Bacchus de Albufeira - Nacional: Confraria de Bacchus
3) Concurso Festival do Vinho Português - Bombarral - Rotary Club do Bombarral
4) Concurso Os Melhores do Ano - Revista de Vinhos
5) Concurso (Sem inscrição) Nomeação dos Vinhos Boa Compra - Revista de Vinhos
6) Concurso Melhores Vinhos do Alentejo - Comissão Vitivinícola Regional e Confraria dos Enófilos do Alentejo - Itinerante, Alentejo, Portugal Prémio de Excelência: Talha de Ouro
7) Concurso Nacional de Vinhos - IVV (Instituto da Vinha e do Vinho) Lisboa, Portugal
8) Concurso Nacional de Vinhos Engarrafados - Itinerante, Portugal
9) Concurso Nacional de Vinhos do Clube do Vinho - Lisboa, Portugal
10) Concurso de Vinhos do Algarve - Comissão Vitivinícola Regional, AEP - Itinerante
11) Concurso de Vinhos da Bairrada - Comissão Vitivinícola Regional
12) Concurso de Vinhos da Beira Interior - Comissão Vitivinícola Regional - Itinerante, Beira Interior, Portugal
13) Concurso Vinhos Engarrafados do Alentejo - Confraria dos Enófilos do Alentejo
14) Concurso de Vinhos do Douro - Casa do Douro
15) Concurso de Vinhos Engarrafados do Douro - Associação de Vinhos de Portugal
16) Concurso de Vinhos de Lisboa - IVV, Comissão Vitivinícola Regional e Confraria dos Enófilos da Estremadura
17) Concurso de Vinhos Engarrafados da Região de Trás-os-Montes – Comis. Vitivin. Reg. - Itinerante, Portugal
18) Concurso de Vinhos Engarrafados do Tejo - Associação de Vinhos de Portugal
19) Concurso de Vinhos do Tejo (Ribatejo) - Confraria Enófila N. Sra. do Tejo - Itinerante, Ribatejo, Portugal
20) Concurso de Vinhos da Península de Setúbal - Comissão Vitivin. Reg. - Itinerante, P. de Setúbal, Portugal
21) Concurso da Região dos Vinhos Verdes - Comissão Vitivinícola Regional - Itinerante, Portugal
22) Concurso dos Vinhos Verdes e Gastronomia - Comissão Vitivinícola Regional - Itinerante, Portugal
23) Concurso Vinhos de Portugal - Wines of Portugal Chanllenge - IVV, CNEMA, IVDP, IVBAM, Revista de Vinhos, ViniPortugal - Itinerante - Portugal
24) Concurso Wine Masters Challenge (Vinho Verde) - CIPVV e Comissão Vitivinícola Regional - Itinerante – Portugal
25) Concurso Tambuladeira dos Escanções - Concurso de Vinhos do C.A. organizado conjuntamente com a AEP e reconhecimento do Ministério - Distinção: Tambuladeira dos Escanções de Portugal de Bronze, Prata ou Ouro.
26) Concurso Uva de Ouro - Atribuído anualmente por realização dos Supermercados Continente em colaboração com o JN, DN e TSF. em Prova Cega, premiando os diversos tipos de vinho no ano à venda na estrutura do Continente.
B) Internacionais: (apenas se destacam os concursos de maior relevância):
1) Concurso Berlin Wine Trophy - Alemanha
2) Concurso Brazil Wine Challange - Brasil - Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) e da União Internacional de Enólogos (UIOE), Revista Adega e Associação Brasileira de Enologia (ABE) - (Ex Concurso Intern.de Vinhos do Brasil).
3) Concurso China Wine & Spirits Awards - China
4) Concurso Challenge International du Vin - Bourg, Bordéus - França
5) Concurso CINVE - Concurso Internacional de Vinhos Espirituosos e Azeites Virgem Extra - Huelva, Espanha
6) Concurso Citadelles du Vin - Bourg, Bordéus - França
7) Conc. Conc. Internat. de Vins de Montagne - Itália
8) Concurso Concurs Mondial de Bruxelles - Itinerante
9) Concurso Mondial du Merlot - Suíça
10) Concurso Internacional do Panamá - Panamá
11) Concurso Internacional de Vinos - Madrid
12) Concurso Internacional de Vinos y Espirituosos - Sevilha (Itinerante)
13) Conc. Hong Kong Internat. Wine & Spirit - China
14) Concurso Internacional Galicja Vitis - Polónia
15) Concurso International Trade Fair Four Wines & Sirits - Dusseldorf - Alemanha
16) Conc. Internacional Prémios Bacchus - Madrid, Sp.
17) Concurso IWC - Internacional Wine Challenge - Londres - Reino Unido (Prova Cega)
18) Concurso Internacional de Vinhos da Cidade do Porto - Câmara de Agricultura do Norte com apoio de Ofício Internacional da Vinha e do Vinho e da União Internacional de Enólogos
19) Concurso International Wine Contest - Bruxelas
20) Concurso Mundus Vini - Neustadt - Alemanha
21) Concurso Vinalies International - Paris, Fr. (P. Cega)
22) Concurso (para produtores) IWSC - The International Wine & Spirit Competition - Londres, Reino Unido
23) Concurso Sommelier Wine Awars - Londres, RN
24) Concurso Decanter World Wine Awards - Revista Decanter – Londres, Reino Unido
25) Concurso The TOP 100 da Wine Spectator - Revista Wine Spectator – Estados Unidos da América.
26) Concurso do Top 100 Cellar Selections da revista Wine Enthusiast – EUA
27) Robert Parker’s 100-Point Wine da revista Wine Advocate. – EUA
Apenas destaco que aparecer nas revistas de vinho internacionais com prémios do ano é uma das mais relevantes garantias de sucesso e reconhecimento de qualquer vinho nacional. Com isto me despeço, cara Berta, espero que tenhas gostado, beijo do teu velho amigo,
Continuando com as palavras e expressões usadas para o Vinho Tinto, Branco, Rosé e Verde, vou hoje ainda acrescentar as designações referentes aos Espumantes e aos Vinhos do Porto. Esta carta será a quarta edição dedicada àqueles que são “Os Segredos de Baco”. Espero que as próximas explicações te continuem a agradar, minha amiga do coração.
A) Expressões e Palavras para Tinto, Branco, Rosé, Verde, Espumantes e Vinhos do Porto.
Seleção, Seleção do Enólogo, Selecionado, Special Selection: Palavras usadas para impor experiência e qualidade superior ao vinho. Uso de Marketing.
Sublime: Palavra usada para tentar passar a mensagem de que se trata de um vinho que apresenta características organoléticas extraordinárias. Uso de Marketing.
Superior: Vinho que apresente características organoléticas destacadas e um teor alcoólico com mais 1 grau do que o limite mínimo fixado. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Superior Garrafeira: Vinho associado ao ano de colheita que apresente características organoléticas destacadas e tenha no caso dos tintos um envelhecimento mínimo de 30 meses, dos quais pelo menos um ano em garrafa de vidro, e nos brancos e rosés um envelhecimento mínimo de 12 meses, dos quais pelo menos meio ano em garrafa de vidro, e um teor alcoólico com mais 1 grau do que o limite mínimo fixado. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Teor Alcoólico: Designação comum para traduzir o Título Alcoométrico Volúmico, ou seja, a percentagem de álcool no vinho.
Tinto: Palavra usada para denominar o vinho produzido através de castas tintas.
Tinto Escolha: Reservada a vinho que apresente características organoléticas destacas. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Tinto Velho: Vinho com um envelhecimento não inferior a 3 anos e que apresentem características organoléticas destacadas e um teor alcoólico cujo mínimo não pode ser inferior a 11,5%. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Tonel Nº.: Expressão usada para indicar que um vinho é tão especial que mereceu um específico reservatório de grandes dimensões, no caso, um recipiente de madeira formado de aduelas reunidas e presas por arcos com dois fundos planos. Uso de Marketing
Top Premium: Expressão pouco conseguida para assinalar um vinho de excelente requinte e qualidade, sujeito a critérios sofisticados de rigor e elaboração em safras nobres. Uso de Marketing.
Velha Reserva: Vinho com um envelhecimento não inferior a 3 anos no caso dos tintos e a 2 anos para brancos e rosés e que apresentem características organoléticas muito destacadas e um teor alcoólico com mais 1 grau do que o limite mínimo fixado. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Velho: Vinho com um envelhecimento não inferior a 3 anos no caso dos tintos e a 2 anos para brancos e rosés e que apresentem características organoléticas destacadas e um teor alcoólico cujo mínimo não pode ser inferior a 11,5%. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Verde: Utilizado nos vinhos produzidos na Região do Vinho Verde. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Verde Branco: Designa o vinho branco produzido na Região do Vinho Verde - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Verde Tinto: Designa o vinho tinto produzido na Região do Vinho Verde - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Vindima Tardia: O mesmo que Colheita Tardia - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Vinhas Velhas: Vinhas plantadas há muito tempo, sendo que no Douro são 40 anos, noutros lados do país 30, em Espanha e França 50 anos de idade e no resto do mundo varia. Contudo é sempre respeitado o critério mínimo de 30 anos. Quando uma vinha consegue durar 75 anos (na Austrália, por exemplo) ganham o nome de Survivor e (no mesmo país) as que chegam aos 100 anos passam a chamar-se Centurion.
Vinho: Expressão que substituiu a designação de Vinho de Mesa. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Vinho de Mesa: Atualmente designa-se apenas Vinho - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Vinho Novo: Vinho com menos de um ano de idade comercializado no período compreendido entre o início e o final da campanha da sua produção. Obrigado a ter o ano de colheita. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Vinho Particular: Usado para referir vinho caseiro, não sujeito às regras gerais das diferentes denominações e especializações, nem sujeito às regiões vitivinícolas. Uso de Marketing
Vinho Regional: Atualmente designa-se por IG (Indicação Geográfica) - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Vinho Tinto Selecionado: Designa comercialmente que existiu algum tipo de escolha especial na criação do vinho referido, seja nas uvas ou seja nas misturas de castas ou de diferentes anos de produção. Uso de Marketing.
White Selection: Expressão utilizada para valorizar uma escolha cuidada de castas brancas na produção do vinho. Uso de Marketing
B) Espumantes: Para além das designações usadas nos outros vinhos temos ainda:
Champagne (Champanhe): Espumante exclusivo da Região de Champagne em França - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Espumante: Vinho com um nível significativo de dióxido de carbono, borbulhando quando servido.
Blanc de Blancs: Espumante produzido somente a partir de uvas brancas (normalmente de casta Chardonnay).
Blanc de Noir: Espumante Branco produzido através de castas tintas.
Extra Brut(o): Tem até 4,5 gramas de açúcar por garrafa de 750 ml
Brut(o): Tem no Máximo 11,25 gramas de açúcar por garrafa de 750 ml
Seco: Tem entre 12,75 e 26,25 gramas de açúcar por garrafa de 750 ml.
Meio Seco (ou Meio Doce): Tem entre 24,75 e 37,5 gramas por garrafa de 750 ml.
Doce: Tem um mínimo de 37,5 gramas de açúcar por garrafa de 750 ml
C) Vinhos do Porto: Para além de designações usadas nos outros vinhos temos ainda:
Porto Lágrima: Produzido a partir do mosto da gota que se obtém com o primeiro esmagamento ou com a primeira prensagem das uvas.
Colheita: Vinho de elevada qualidade de uma só colheita, estagia pelo menos 7 anos em madeira, tem sempre ano junto à palavra colheita no rótulo. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Crusted: Mistura de bons vinhos de vários vintages engarrafados depois de 3 anos na madeira. Tem de ser decantado. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
No Porto Branco: Branco Seco, Branco Meio Seco e Branco Doce: Classificações pela doçura. Vinho Jovem e frutado. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Porto Tawny: Vinhos Tintos com poucos anos de envelhecimento em balseiro (2 a 3 anos). - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Porto Ruby: Vinhos Tintos que envelhecem em balceiros, podem ser classificados como:
a) Reserva: uvas selecionadas com cerca de 7 anos de maturação em madeira sendo depois engarrafados. Não envelhecem em Garrafa. A Garrafa deve ser mantida em Pé. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
b) LBV (Late Bottled Vintage): Produzidos de uma só colheita excecionalmente boa, ficando a envelhecer 4 a 6 anos em balceiros, evoluindo pouco em garrafa. A Garrafa mantida deitada. Envelhece pouco em Garrafa. Pode ser consumido de imediato após engarrafamento. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
c) Vintage: Vinhos de um só ano, casta e vinha, atribuídos a anos de excecional qualidade, envelhece em casco de madeira por 2 anos e meio e continua o envelhecimento em Garrafa. A Garrafa mantida deitada. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
E assim termino mais uma abordagem àqueles que são “Os Segredos de Baco”, como tu, querida Berta, não te queixaste dos últimos estes também não te serão adversos. Com um beijo grande me despeço,
Não é difícil notar, mesmo para um consumidor desatento, que muito do vinho que se compra tem junto ao nome, no rótulo da garrafa, outra palavra ou palavras com a finalidade de atrair a atenção do comprador valorizando o produto em venda.
Maioritariamente são adjetivações derivadas do marketing na senda de angariar mais interessados, mas estes superlativos têm normalmente, e em teoria, uma origem mais profunda e onde muita vez encontramos outro tipo de raízes.
É desses detalhes superlativos de que te vou falar, minha amiga, nesta terceira carta dedicada a “Os Segredos de Baco”. Porém, antes de generalizar para outros tipos de vinhos, começo pelas palavras e expressões mais usadas para os vinhos tinto, branco e rosé no ponto A) até à letra R. Na próxima carta virão o resto dos termos e as outras expressões usadas para os restantes tipos principais de vinho.
A) Expressões e Palavras para Tinto, Branco e Rosé (e algum do Vinho Verde).
17: Indicação utilizada para destacar o teor alcoólico de um vinho na casa dos 17%.
Branco: Palavra usada para denominar o vinho produzido através de castas brancas.
Caves Velhas: Expressão usada para dar tradição e experiência ao vinho. Uso de Marketing.
Coleção e Collection: Palavras usadas para proporcionar valor e qualidade ao vinho. Uso de Marketing
Colheita e Colheita do Sócio(s): Expressões usadas para valorizar um determinado vinho, normalmente acompanhadas do ano de produção, especialmente se a safra foi boa na região. A palavra sócio gera familiaridade. Uso de marketing.
Colheita Tardia: Vinho produzido a partir de uvas com sobre maturação nas quais se desenvolveu a “Botrytis cineria” (o aparecimento e desenvolvimento do fungo que provoca o apodrecimento da uva de forma controlada), em condições que provocam a podridão nobre com um teor alcoólico natural mínimo de 15%. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Colheita Selecionada: Vinho com características organoléticas destacadas e mais um grau que o normal no Teor Alcoólico. com a obrigação de publicar o ano de colheita. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Colheitas Antigas: Pretende acrescentar status e carisma ao vinho. Uso de marketing.
Designações usadas resultantes de menções em revistas ou de prémios nacionais ou internacionaisrelativos ao vinho ou ao produtor em concurso: 1º. Prémio, Boa Compra, Classificação x ou y, Recomendação, Recomendado ou Commended. Menção Honrosa, Medalha de Bronze, Medalha de Prata, Medalha de Ouro, Tambuladeira de Ouro e Uva de Ouro.
DOC: Denominação de Origem Controlada. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
DOP: Denominação de Origem Protegida. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
IG: Indicação Geográfica, comummente chamado por Vinho Regional seguido do nome da região ou do seu adjetivo
Edição Especial e Edição Limitada: Expressões usadas para traduzir a produção criteriosa e de qualidade, em detrimento da quantidade, de um determinado vinho. Uso de Marketing.
Escolha: Vinho que apresente características organoléticas destacadas. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Estágio: Palavra usada para explicar que o vinho passou um determinado tempo em barrica ou em garrafa antes de ser comercializado.
Frisado, Frisante ou com Agulha: Palavras usadas para definir vinho que contenha anidrido carbónico e que possua uma sobrepressão inferior a um bar quando conservado à temperatura de 20 graus Celcius e em recipiente fechado.
Garrafa: Recipiente vulgarmente utilizado para o acondicionamento do vinho.
Garrafeira: Vinho associado ao ano de colheita que apresente características organoléticas destacadas e tenha no caso dos tintos um envelhecimento mínimo de 30 meses dos quais pelo menos um ano em garrafa de vidro e nos brancos e rosés um envelhecimento mínimo de 12 meses dos quais pelo menos meio ano em garrafa de vidro. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Garrafeira Especial, Garrafeira Particular, Garrafeira dos Sócios: Vinho associado ao ano de colheita que apresente características organoléticas destacadas e tenha no caso dos tintos um envelhecimento mínimo de 30 meses dos quais pelo menos um ano em garrafa de vidro e nos brancos e rosés um envelhecimento mínimo de 12 meses dos quais pelo menos meio ano em garrafa de vidro. O uso das palavras Especial, Particular e dos Sócios tem como finalidade valorizar ou tornar o vinho mais familiar, Uso de Marketing. - Nota: A primeira palavra da Menção está definida na legislação.
Grande Escolha: Reservada ao vinho que apresente características organoléticas destacadas. Sendo obrigatório o ano da Colheita. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Grande Reserva: Vinho que apresente características organoléticas muito destacadas e um teor alcoólico com mais 1 grau do que o limite mínimo fixado. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Late Harvest: O mesmo que Colheita Tardia. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Ligeiro ou Baixo Grau: Vinho que apresente um título alcoométrico volúmico adquirido mínimo igual ou inferior a 10,5% devendo a acidez total expressa em ácido tartárico ser igual ou superior a 4.5 gramas por litro. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Magnum: Vinho embalado em garrafas de litro e meio, normalmente usadas em situações comemorativas. Usa-se ainda em conjunto uma das palavras Duplo, Triplo, 4X, 5X, 6X, para designar engarrafamentos até 9 litros.
Maior: Palavra evidentemente usada para valorizar um determinado vinho. Uso de Marketing.
Monocasta ou “Varietal”: Expressões usadas para vinho quer seja produzido com base numa casta apenas ou maioritariamente constituído por ela. No caso de Portugal em mais de 85%.
Multicasta: Expressão usada para vinho que seja produzido a partir de várias castas.
Premium: Vinho proveniente de um lote que apresente uma qualidade superior e evidencie características organoléticas destacadas. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Premium Collection: Vinho proveniente de um lote que apresente uma qualidade superior e evidencie características organoléticas destacadas. A palavra Collection é acrescentada para proporcionar valor e qualidade ao vinho. Uso de Marketing. - Nota: A primeira palavra da Menção está definida na legislação. A segunda é uso de Marketing apenas.
Prestige, Primio, Private Selection: Palavras usadas para indicar uma qualidade superior do vinho sem que isso implique maior graduação. Uso de Marketing.
Red Selection: Expressão utilizada para valorizar uma escolha cuidada de castas tintas na produção do vinho. Uso de Marketing
Reserva: Vinho associado ao ano de colheita que apresente características organoléticas destacadas e um teor alcoólico com mais 0,5 graus do que o limite mínimo fixado. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Reserva dos Amigos, de Aniversário, do Chefe, Particular, Velho, Selecionada e do Patrão: São Reservas com uma palavra de marketing acrescida tentando indicar uma qualidade superior à própria Reserva. - Nota: A primeira palavra da Menção (Reserva) está definida na legislação.
Reserva Especial: Vinho associado ao ano de colheita que apresente características organoléticas muito destacadas e um teor alcoólico com mais 0,5 graus do que o limite mínimo fixado. - Nota: Esta Menção é definida pela legislação.
Rosé e Clarete: Palavras usadas para denominar o vinho produzido através de castas tintas, mas mais claro e normalmente perto dos limites mínimos dos teores alcoólicos definidos.
Por hoje é tudo, minha querida Berta, espero que te tenha agradado com estes esclarecimentos. Deixo um beijo de adeus com a amizade habitual, este teu amigo,
Regressando ao prometido, ou seja, voltando ao tema de “Os Segredos de Baco” vou abordar hoje as publicações em papel dos mais prestigiados magazines a nível mundial e nacional sobre a temática em causa. Contudo existem mais, muitos mais, mas, aquelas publicações que aqui refiro levam a dianteira face às outras.
Para a coisa não ficar incompleta, acrescento igualmente os respetivos sites ou sítios onde se podem encontrar digitalmente as referidas publicações. Algumas delas, porém, podem, sem aviso prévio, mudar o endereço pelo que é conveniente, para quem consulta, ir atualizando e verificando se existem alterações. Contudo, minha amiga, os endereços abaixo indicados não estão ligados ao link, pelo que te recomento o habitual copiar/colar para chegares a eles.
Publicações e Sites sobre Vinhos e Classificações:
1) Revista de Vinhos – https://www.revistadevinhos.pt/- (RV): A Revista de Vinhos atribui de 0 a 20 pontos (com uma casa decimal) aos vinhos avaliados.
2) Wine Spectator – https://www.winespectator.com/ - (WS): Talvez a publicação mais famosa e reputada do mundo, ao lado da Decanter inglesa, a Wine Spectator publica uma revista de circulação mundial e também vende acesso às áreas exclusivas de seu site, onde milhares de fichas de degustação de vinhos estão disponíveis. Anualmente a WS publica uma relação de vinhos escolhidos, o famoso TOP 100, aguardado pelos enófilos e críticos de todo o mundo. Esse ranking não seleciona os vinhos de melhores notas apenas, mas premeia uma conjugação de pontuação + preço + disponibilidade, o que gera premiações (e ausências) surpreendentes. A Wine Spectator atribui notas de 50 a 100 pontos aos vinhos avaliados.
3) Decanter – https://www.decanter.com/ - (DEC): Revista Inglesa, editada no Reino Unido e nos Estados Unidos A Decanter atribui de 50 a 100 pontos aos vinhos avaliados.
8) The Wine Advocate – Robert Parker – https://www.erobertparker.com/ - (RP): O Advogado Robert M. Parker Jr. abandonou a carreira quando descobriu que possuía duas apuradas capacidades, a de degustar vinhos com incrível discernimento e a de se lembrar de cada um deles no futuro. Provando milhares de vinhos por ano, Parker tornou-se uma referência mundial que balança o mercado cada vez que emite sua opinião. Robert Parker atribui de 50 a 100 pontos aos vinhos avaliados.
9) Jancis Robinson – https://www.jancisrobinson.com/ - (JR): A inglesa Jancis Robinson (Master of Wine), tornou-se uma referência mundial com seu estilo franco, por vezes irônico, de comentar vinhos e seus produtores. Muito séria e totalmente isenta, Jancis publica reportagens, avaliações e notas sobre vinhos de todo mundo em seu organizado e atraente site, onde os interessados podem pagar uma anuidade para ter acesso ao conteúdo completo de suas avaliações de vinhos. Jancis Robinson atribui de 0 a 20 pontos aos vinhos avaliados.
10) Veronelli – https://www.veronelli.com/- (VE): O Guia Veronelli atribui notas de 0 a 100 pontos aos vinhos avaliados.
11) Gambero Rosso – https://www.gamberorosso.it/- (GR): Guia de Vinhos da Itália, o mais completo e reputado trabalho sobre vinhos no mundo. No formato de um pesado livro de capa dura, O Gambero Rosso comenta e pontua a quase totalidade dos vinhos produzidos na Itália, incluindo particularidades de produtores e microrregiões. O Gambero Rosso atribui de 0 a 3 Bicchieri (taças) aos vinhos degustados, e premeia com uma Stella (estrela) os produtores que obtiverem por 10 vezes os "tre bicchieri" em seus vinhos.
12) Guia de Vinhos de Portugal - João Paulo Martins – https://www.joaopaulomartins.com/- (JP): Importante: O último guia de vinhos do crítico é o referente a 2018. Terá de ser encomendado online e pode ser pedido através da wook, por exemplo. O crítico mantém vários artigos com a imprensa e tem alguns blogs sobre vinho.
Pioneiro na avaliação de vinhos em Portugal, João Paulo Martins edita anualmente o Guia de Vinhos de Portugal. Com um estilo um pouco polêmico e várias vezes contestado pela comunidade portuguesa, João Paulo comenta os vinhos a cada ano com objetividade às vezes mordaz. É redator na Revista de Vinhos. João Paulo atribui de 0 a 20 pontos aos vinhos avaliados.
Espero que esta primeira curiosidade te possa ter sido útil, amiga Berta, prometo que amanhã há mais. Recebe um beijo de despedida deste teu amigo,
A carta de hoje serve para te informar que, já a partir do próximo dia 6 vou dedicar algumas das cartas que te escrevo aos Segredos de Baco e à Fina Arte deste deus romano da antiguidade clássica. Estou a falar do vinho. Principalmente do vinho tinto, mas não só. Prepara-te para a série “Os Segredos de Baco”, servindo esta carta de introdução temática da série.
Podes pensar que será um exagero enviar-te várias cartas sobre o tema, mas, em vez de te ir falar sobre esta ou aquela pomada, aquilo a que vou dedicar é a alguns capítulos relacionados com o vinho em geral, as suas diferenças, aromas, por que tipo de copo beber, um glossário realizado sobre a temática, os superlativos usados neste campo, etc.. Enviar-te-ei, por exemplo, os tipos de copo aconselhados para cada género de bebida, os aromas, com as respetivas rodas aromáticas, que se podem detetar no vinho branco ou no tinto ou em ambos.
Porém, ficar por aqui seria muito curto, pelo que receberás igualmente a tabela de safras vitivinícolas em Portugal, para todas as regiões demarcadas do país, com início em 1982 até 2017, uma vez que as de 2018 e 2019 ainda estão em elaboração e seria precipitado referi-las. Esta tabela levou-me mais de um ano a elaborar e obrigou a um tremendo trabalho de investigação, porque algumas das regiões ainda não existiam em 1982. Para além disso, as opiniões e classificações dos enólogos e especialistas divergem entre si.
Dito de outra forma, e não te rias, pensa nestas cartas como uma iniciação à arte de bem beber. Aliás, também receberás uma tabela sobre o que se deve comer com cada tipo de vinho, a que temperatura se deve ingerir cada uma das várias pomadas, consoante as suas caraterísticas específicas, para além disso também refiro o teor alcoólico respeitante às diferentes especificidades de cada néctar e até as “vino-calorias” e calorias de cada tipo de vinho. Também ficarás a entender o tempo que, teoricamente, terás para beber, segundo as recomendações dos especialistas, cada um dos diferentes vinhos depois de abrires uma garrafa.
Sei que algumas das coisas que vou referir são apenas meras curiosidades, mas, também são coisas que raramente se vêm referidas e que, por isso mesmo, têm o seu interesse ou graça. Dou-te mais um exemplo: poderás constatar, facilmente, numa das tabelas, que as calorias provenientes do açúcar existente no vinho não é a mesma coisa que as calorias do próprio vinho em si. Perguntarás se isso tem algum interesse e a resposta é, claro que sim. Tenho uma amiga nutricionista que usa a minha tabela para recomendar aos seus clientes que consomem vinho, os mais apropriados e que quantidades lhes são recomendadas numa base diária ou semanal.
Enfim, espero que te divirtas com esta nova temática dos Segredos de Baco. Despeço-me com carinho, este teu eterno amigo,
Já te estava a escrever outra carta quando recebi um aviso no meu correio eletrónico. Fui ver. Ao abrir deparei-me com o anúncio da realização de um evento que me tinhas pedido para avisar quando voltasse para uma nova edição. Não sei se ainda te lembras, mas quando te enviei o resumo dos eventos do primeiro trimestre do ano passado em Campo de Ourique, falaste no interesse que tinhas em saber quando se voltaria a realizar este ano e pediste para te prevenir. Infelizmente a minha notícia parte um pouco tarde, começou hoje e termina amanhã. De qualquer maneira e como o prometido é devido, aqui fica o anúncio.
Estou certo que já adivinhaste do que estou a falar. Com efeito, começa hoje a Quinta Edição do Mercado do Vinho e Enchidos no Mercado de Campo de Ourique. Como já é habitual, serão 2 dias dedicados a quem aprecia os aromas e as degustações de Baco enquanto prova ou compra alguns dos melhores enchidos nacionais. Não faltará o paio, o chouriço, a linguiça, a farinheira, a morcela e a tradicional alheira, mas há mais surpresas, se te apetecer fazer uma visita a Lisboa, de preferência amanhã, uma vez que será esse o dia principal do evento. Serás, obviamente, muito bem acolhida por este teu amigo.
O primeiro dia, hoje, 28 de fevereiro, conta, a partir das 21 horas, com o acompanhamento musical do grupo Groovelanders, banda sobre a qual já te falei noutras vezes, que inclui os elementos habituais, nomeadamente, Robert Light, Sescon, Mano e Felippe. Quanto às sonoridades, minha querida, eles começam nos anos 50 e, sem esquecer os 60, 70, 80 e 90, chegam mesmo até alguns dos maiores sucessos da atualidade. Os géneros são variados, desde o pop ao rock, jazz, soul, funk e disco. Uma excelente banda para ouvir enquanto, sentados numa das mesas da praça central do Mercado de Campo de Ourique, se bebe um bom copo de vinho tinto e nos deliciamos com um delicioso paio fumado concebido na mais genuína tradição nacional.
O dia 29 conta com o principal cartaz desta edição do Mercado do Vinho e Enchidos. Podes acompanhar as variadas provas de vinho de marca, como, por exemplo, Vinalda, Felix Rocha, Iberica Wines, Família Carvalho Martins, Casa Santos Lima e José Maria da Fonseca. Por outro lado, vão haver 2 workshops a não perder. O primeiro, pelas 5 da tarde, organizado pela Adega Caminhos Cruzados e logo de seguida, pelas 18 horas, com o patrocínio da Best Wine Team, que é uma empresa de produção, distribuição e exportação de vinhos nacionais, terá lugar o segundo e último workshop do dia.
Não te referi, por me parecer óbvio, mas onde há vinho e enchidos também se encontram os azeites e os queijos de diferentes regiões do país. Aliás, nenhum evento deste género estaria completo sem a prova dos queijos portugueses a acompanhar os enchidos. O realce para os enchidos deve-se não só ao seu maior peso neste evento, mas, principalmente, pela importância que têm tido ao longo destas 5 edições do Mercado do Vinho e Enchidos, neste local tão característico, moderno e tradicional como é o Mercado de Campo de Ourique.
Quanto à animação do dia 29 podes acompanhar os sons e a dança do Rancho Folclórico do Bairro da Fraternidade, bem na hora do almoço, pela uma e meia da tarde e, depois, para abrir o apetite para o jantar é hora de se fazer silêncio porque se vai cantar o fado. Em palco estarão Maria Carvalho Silva, António Duarte Martins e Jerónimo Mendes.
Francisca Costa Gomes inicia o seu espetáculo pelas 21:30. A cantora nacional da Música Soul, uma voz ímpar no panorama português, é, a meu ver, razão necessária e imperativa para não se perder esta 5.ª edição do Mercado do Vinho e dos Enchidos no Mercado de Campo de Ourique. Recomendo-te que procures uma das suas músicas no youtube, vais ficar espantada, amiga Berta, com o que vais ouvir. Recomendo especialmente a música original da cantora, denominada “Gaducho”. Ninguém diria que estamos a escutar a mesma menina que aos 17 anos foi rejeitada no concurso “Ídolos”. Agora, 10 anos mais tarde, dá gosto ouvir a sonoridade e o timbre únicos de Francisca Costa Gomes.
Com esta panorâmica do que podes encontrar neste final de fevereiro no Mercado de Campo de Ourique me despeço, com um beijo amigo,
Obrigado por me teres informado que estavas curiosa em saber o final da peça do chinês, mas só amanhã é que termino. Hoje, porém, apenas te envio a quinta parte desta história, intitulei-a de “e esta; hem?...”.
Acordei no sábado de manhã, não sei a que horas, mas era bastante cedo, principalmente para mim que, como bem sabes, minha amiga, sou um notívago ferrenho. O dia serviu para me tirarem sangue para análises, testarem o nível de glicémia, medirem a pressão arterial, o ritmo cardíaco e a temperatura, no que à parte médica diz respeito.
Já pelo meu lado, aproveitei a conquista de uma cadeira de rodas para me poder deslocar, pois desde que ali chegara que não tinha o mínimo equilíbrio. Andar a pé era uma aventura que terminava, um ou 2 passos depois de começar, comigo esparramado no chão, ou de 4, que não considero uma posição que me dignifique. Para se ter uma ideia de como eu me sentia, no que ao equilíbrio dizia respeito imagina, amiga Berta, um hipopótamo na corda bamba. Agora pensa nele a correr na dita corda enquanto atende uma chamada no telemóvel. Parece-te impossível que se equilibre, certo? Assim estava eu. Desprovido desse sentido, mas ainda viciado em nicotina o que, face à minha mobilidade medíocre, me fizera usar de engenho para pôr as luvas numa cadeira de rodas.
Aliás, o tabaco foi, naqueles dias, a minha tábua de salvação. Por muito que o Governo advirta que fumar mata, não deixa de encher os bolsos, com impostos, à custa da minha caminhada para esse cadafalso, que tão hipocritamente anuncia. A coerência governativa deveria obrigar este nosso Estado a encher de caveiras e avisos de morte as garrafas de cerveja, vinho e bebidas destiladas que continuam a matar mais em Portugal que o cigarro. Ah, e já agora também este setor devia estar interdito à publicidade. Mas isso já não dá dinheiro. São uns hipócritas.
O domingo começou bem. O amigo Bonifácio continuava a animar as hostes e a fazer toda a gente rir a cada nova piada que dizia. Para quem tinha o Síndrome de Crohn, eu achava aquele homem um exemplo de resiliência. Pelo meu lado só não agredi uma enfermeira novata, porque a minha deslocação estava bastante condicionada. A jovem mulherzinha, de cada vez que ia tratar os 2 velhotes da enfermaria, passava o tempo a insultá-los, a gritar com eles e a queixar-se que tinha mais que fazer.
A megera era de tal calibre que até o Bonifácio se sentia intimidado na sua presença. Também tentara embirrar comigo, mas proibira-a de se aproximar de mim, nem que ela fosse a única enfermeira de todo o hospital. Quando me desafiou, e quase levou com a arrastadeira em cheio no focinho, resolveu que era melhor evitar aproximações o que eu achei um ato muito inteligente.
Quando ela saiu é que fiquei a saber que, quando o Bonifácio estava pior, e tinha crises que o deitavam completamente abaixo, era tratado da mesma maneira por aquela espécie de gente. Empenhado em resolver o problema, levei parte do dia a convencê-lo a chamar-me a enfermeira que chefiava o piso 3. Por fim, com a promessa de que não diria a ninguém que ele sabia para que é que eu queria falar com ela, lá acabou por a ir buscar.
Quando a veterana chegou pedi-lhe o livro de reclamações, pois precisava fazer uma participação grave, a chefe sentou-se na borda da cama decidida a evitar uma queixa escrita no seu piso. Ouviu-me quase 20 minutos a descrever os atos da malvada incompetente. Por fim, lá me pediu, com um jeitinho muito próprio das mulheres experientes e calejadas na liderança, se, antes de eu escrever no livro, podia ser ela a tentar resolver o assunto. Acedi de bom grado. Eu estava num estado meio almareado, nem as letras via bem, a não ser que fossem garrafais.
Aquela manhã foi a última vez que vi a víbora da bata branca. Consegui saber pelo Bonifácio, de quem muito do staff do hospital parecia gostar bastante que, segundo lhe tinham ido contar, a jovem fora alvo de um relatório escrito e que tinha sido mudada para outra zona do piso 3. Assunto resolvido. O domingo terminou para mim com a já esperada dieta zero, nesse dia, não sei porquê, designada por jejum. Todavia, desta vez, eu estava alerta e prevenido.
Lá me colocaram o papel plastificado, por cima do leito, com o aviso fatal, não fosse uma auxiliar distraída alimentar-me o ego ou o bandulho.
Faço aqui um pequeno desvio da narrativa para elogiar a dedicação de todos os trabalhadores do piso 3 em particular e do hospital em geral. Fiquei deveras impressionado pelo modo como se dedicavam, principalmente aos acamados sem a independência para tratarem de si, muito para além das normas, do dever e da obrigação.
A única exceção, como em toda a regra, fora a enfermeira idiota, catraia demais para saber e entender o que significa dignidade e respeito, que já te referi atrás, minha amiga, mas a coitada nem conta, nesta incrível estatística hospitalar.
Por volta da meia-noite, mais minuto, menos minuto, acordei com uma fome brutal. Abri a gavetinha da mesa de cabeceira, tirei um chocolate Mars, que comi rapidamente e depois um segundo. Depois bebi uma lata de Sumol de ananás, e fiquei bem. Tinha trazido um abastecimento de comes e bebes do quiosque-snack que ficava perto da entrada do hospital e onde eu, de cadeira de rodas, ia umas 5 ou 6 vezes por dia para fumar. Perfeitamente consolado e tendo escondido as evidências do repasto, deixei-me levar calmamente para o outro lado. O mundo dos sonhos parecia-me bem mais nítido e equilibrado, naquela altura, do que a vida real que por agora atravessava.
Segunda-feira desci às profundezas do piso zero para a muito aguardada intervenção. Soube que seria o segundo daquele dia a ser intervencionado. Era para ser o primeiro, mas, para minha pouca sorte, aparecera um caso ainda mais urgente do que o meu. Ia lindo, na cama, com uma bata branca, que pela frente parecia mais um vestido em minissaia e que pela parte de trás tinha um decote imenso até aos calcanhares.
Acordei da anestesia geral pouco depois de terem passado duas horas desde que partira do universo consciente da realidade para o sonho cirúrgico dos especialistas. Despertei irritadíssimo, a arrancar tudo, cateter, oxigénio, pulseira identificativa, soro, roupa da cama, eu sei lá. Parecia que fugia de alguém com intenções pouco católicas, que apreciara o meu referido decote traseiro. Foi uma coisa perfeitamente indescritível.
A enfermeira do bloco acalmou-me. Falou comigo muito pacientemente, lá me disse que havia pacientes que acordavam assim alvoraçados da anestesia geral. Contudo, que ela tivesse visto até àquela data, nunca lhe aparecera um com tanta genica. Não sei bem se me recordou que o Passos Coelho já não era Primeiro-Ministro, mas também não importa para o caso. Não devia ter falado sobre isso que eu estava estupido demais para análises políticas. O que realmente foi importante foi a informação que me deu sobre a minha intervenção.
Lá me contou como correra toda a operação. Infelizmente ficara a meio. Achavam que tinham partido a pedra, mas sem certezas, nem tinham tido tempo de colocar o tubo no canal biliar, um tal de stent, nem conseguido rever convenientemente se eu estava livre da pedraria clandestina que me invadira, o tal de calhau, como eu habitualmente lhe chamava.
Espantado fiquei a saber que a peça da China avariara de novo (talvez não fosse da China pensei eu, mas sim uma Peça do Chinês, com a devida qualidade que lhe deu a fama). Enfim, teria de voltar dali a um mês. Iam pedir nova peça à China. Normalmente era uma coisa de 30 dias.
Puxando pela conversa, preocupado com o sucedido, lá fiquei a saber que era normal a peça avariar e que não havia peças em stock. Sem a dita cuja não era possível fazer CPRE, ou seja, mais ou menos de 2 em 2 meses o hospital ficava privado da única máquina que tinha para o efeito por 30 dias. Uma coisa totalmente absurda tendo em conta a quantidade de gente a necessitar do equipamento.
Na terça-feira deram-me alta, esquecendo-se de me medicar para o fígado, uma vez que a CPRE me tinha deixado com um fígado a funcionar em péssimas condições. O médico gastroenterologista, que me estava indicado, apenas falou comigo depois da intervenção e nem me entregaram os exames que tinha efetuado, nem me receitaram medicação para tomar em casa.
Como consequência de tudo isso, querida amiga Berta, passei quase 4 meses terrivelmente maldisposto, sem grande equilíbrio, completamente zonzo e sem saber o que tinha. Pior do que isso, a pensar que parte do calhau ainda tinha ficado no canal biliar. Só quando fui buscar os exames e análises passados 4 meses é que descobriram que o médico se esquecera de me medicar. Nesses 4 meses estive 2 vezes com a conclusão da minha intervenção marcada, mas nas 2 vezes voltaram a desmarcar por novas avarias na peça do chinês. Foi nessa altura que me lembrei do velho Fernando Pessa: E esta, hem???
Por hoje fico-me por aqui, amanhã envio-te a conclusão desta história que não lembra ao diabo. Fica com um beijo saudoso, deste que não te esquece,