Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Antes de começares a ler as memórias de hoje não te esqueças que são referentes a factos todos passados já lá vão mais de 4 anos, no mínimo, não me recordo se as escrevi em 2016 ou antes, mas foi algures entre 2012 e 2016. Mas, vamos a elas:
Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte VIII
“Não basta falar apenas de comentadores e políticos, há mais mundo por aí. Se certas personalidades do jet-set fizessem Trios de Canto eu podia não os achar mais interessantes do que antes, mas considero que a coisa seria animada, principalmente se apresentada por um daqueles eternos rostos da RTP, acho mesmo. Esclareço que nada me move contra o jet-set ou outros ilustres da ribalta (alegadamente inútil), no que ao seu trabalho, enquanto profissionais, diz respeito, e que até prefiro nunca ter de vir a escrever sobre eles, mas faz-me confusão que se valorizem pessoas pelo simples facto de aparecerem em eventos sociais. Porém, nem sempre fazemos o que queremos e eu não sou ninguém para vir para aqui falar de Castelos Brancos ou de quaisquer outras cores monárquicas, nem de outras figuras tornadas intervenientes e famosas, sem que para isso se lhes descubra o mérito próprio, que lhes devia ser devido.
Mais a Norte e para um dia bem passado recomendo o Mercado do Bulhão. Porque, se um dia ele fechar para obras ou remodelação, só nos restará a Assembleia da República que pode ser até mais garrida, mas faltar-lhe-á sempre algum vernáculo característico.
Falando do tema da Presidência da República, nesta altura representada por alguém que prefere a palavra fonte a poço, sou da opinião que não se mexe no que está no seu devido lugar. Eu sempre disse, quando estava um outro naquela cadeira, que o impossível apenas levava mais tempo a acontecer, mas que acabaríamos por lá chegar. A única conclusão a tirar é que há quem nasça para nos representar e quem tenha uma excelente vocação para pastor de cabras ou para protagonista de filmes de místico mistério em peliculas sobre o Antigo Egito. Como já expliquei anteriormente, chama-se a isso progresso. Tempos virão em que o cargo terá um representante que verdadeiramente o dignifique e que nos conforte o espírito e a alma. Há que acreditar.”
Atualmente, em plena pandemia, é quase paradoxal comparar os nossos 2 últimos Presidentes da República. Ainda mais tendo em conta que ambos vieram da mesma área política e que deveria ser possível notar certas semelhanças nas atitudes e nos comportamentos. Porém, os factos revelam uma verdade completamente oposta. Compará-los é um exercício que até se torna penoso.
Tentando arranjar exemplos, seria como dar a escolher a alguém entre bofe (pulmão de vaca) e bife do lombo, isto não contando com os vegetarianos e os vegans que excluiriam ambos, ou entre Frankenstein e Charlie Chaplin, ou ainda entre Ana Gomes e Angelina Jolie quando ambas tinham menos 20 anos.
Passou-me pela cabeça compará-los com o vinho tinto. Fiz mal. Nesse campo, seria o mesmo que estar a tentar escolher entre um vinho velho, de uma marca desconhecida, que se passou e nem para vinagre serve, sendo uma total zurrapa e um Barca Velha em ano de absoluta excelência. Incomparáveis sobre qualquer espécie de parâmetros.
Já me alarguei no alegadamente imaginário, este teu amigo despede-se, amiga Berta, com o beijo e os mimos habituais até amanhã,
Com que então tens-te divertido com as minhas antigas viagens entre a cama e o computador. Pelo menos, enquanto faço esta repescagem, já não me lês a falar de pandemia, de coronavírus, de óbitos, de Donald Trump, André Ventura ou Bolsa-aí, digo, Bolsonaro, ou do raio da palavra feminina “doença” que, por o ser, me querem convencer que a palavra Covid também se deve ler como um termo feminino. Não é nada disso. Não concordo em absoluto.
Recuso-me mesmo a aceitar. Não, não e não. Aliás, Sarampo é uma doença altamente contagiosa causada pelo vírus do sarampo e não dizemos a Sarampo só por estarmos a falar da doença. Essa agora. A palavra cancro, designa quer o tumor (masculino) como a doença (feminina), mas sempre dizemos o cancro, para ambos os casos. Teimo que a doença provocada pelo cororavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2 (SARS-CoV-2), deve e pode ser uma palavra masculina, o Covid-19.
Mas é melhor regressarmos, sem mais demora, à minha revolução. Bem pacífica, por sinal. Nela, todas as pessoas sobrevivem, ninguém sai doente de cena. Afinal, é sobre a revolução, e onde se inicia, que esta carta segue a saga, por isso mesmo, e para já, a minha teima terá de ficar de lado, reservada para um dia mais erudito, em que a temática da língua e das palavras esteja em cima da mesa. Assim:
Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte VII
“Há mais coisas do mesmo género da caixa do correio com as quais tenho o mesmo tipo de relação visceral. É o caso do meu correio eletrónico que, todos os dias, recebe mensagens de vendedores de viagra, da Autoridade Tributária ou dos Dadores de Sangue e Companhia (não tenho nada contra os dadores, mas eu não posso doar sangue, infelizmente). Não entendo a insistência e irrita-me. Já sobre as minhas potencialidades e virilidade gosto de manter a situação privada, quanto à AT prefiro distância, até porque me tem sido difícil evitar não ter problemas com eles e no que concerne aos dadores abomino o tipo de abordagem, fazem-me sempre lembrar uma música do Zeca, lembras-te, Berta? <<Os Vampiros>>.
Outros temas para os quais já não há paciência: Primeiros-Ministros, bem como outros altos políticos, com casos de corrupção em tribunal. Incomoda-me o facto de se atirar com alguém para a cruz sem culpa formada, por isso não me peçam para ser eu a pôr os pregos; Também não dou para ressuscitar antigos Presidentes da República, com vocação para pastores de cabras, que saem das catacumbas para anunciar sábios e doutos bitaites. Digo sempre o mesmo: quem? Como? Quando? Onde? Porquê? Fiz mal a alguém, eu? Em resumo, e como não me resta mais nenhuma alternativa, mudo imediatamente de tema.
Porém, há outras situações ou coisas que, com um pequeno toque, ficariam aceitáveis. Dou o exemplo de certos comentadores desportivos e ou políticos que podiam ser perfeitamente reaproveitados para um repescar da série Morangos com Açúcar, bastava acrescentar, os Anos Dourados ou Brancos, que iria ser um êxito de audiência. Estou a pensar em Paulo Portas, Luís Filipe Meneses, Marques Mendes, Fernando Seara, Santana Lopes, enfim, a lista é infindável. Marques Mendes, por ser pequenino e, que se saiba, não ser bailarino, podia fazer o papel do velhaco da trama, ajudado, na sombra, pelo dissimulado José Miguel Júdice.”
Se fossem hoje, esses Morangos com Açúcar podiam ainda ter esses e outros intervenientes notáveis, como o viperino André Ventura, o santo incontestável José Sócrates, cujo único crime se baseia nas suas fortes e duradouras amizades, e talvez repescar, de outros setores bem próximos, gente como Joacine Katar Moreira, Ana Drago, Joana Amaral Dias e Ana Gomes.
Como estou a enviar-te, minha amiga, estas recordações aos bocadinhos, por favor, não te zangues se, às vezes, um tema específico passar de uma carta para a outra, pois pode acontecer, mesmo que por mera disposição dos textos selecionados para cada carta.
O que importa aqui é dar-te uma ideia da mente humana que, numa simples análise pessoal e em privado, no seu mundo exclusivo de pensamentos e raciocínios, pode ser bem diferente daquela que observamos em contexto social e comunitário, pese embora se trate, no fundo, da mesmíssima mente. Apesar de tudo, é engraçado constatar como um simples habitante da aldeia lisboeta de Campo de Ourique, pode ter, em si mesmo, realidades tão distintas no que ao seu comportamento diz respeito, como se calhar, é bem provável, que o mesmo possa acontecer com todos os outros residentes do bairro, da cidade ou do país. Pensa nisso. Por hoje é tudo. Despede-se este teu amigo com um beijo franco,
Não sei o que achas tu destas minhas divagações entre a cama e o computador, mas são coisas que me vão passando pela cabeça. Coisas para fazer, outras que gostaria de ver feitas ou aquelas que faria se tivesse a capacidade, o poder ou a influência para isso. Coisas, até sonhar que poderia existir uma revolução que começasse na cama, de orquídeas ou que no próximo jogo serei o vencedor do Euromilhões. Porém, está na hora de regressar às memórias:
Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte VI
“Já sei, já sei, estás certamente a pensar que deve ser bom. Correto, estou de acordo. Mas inventar um prato assim quando depois a carteira não me permite hoje, e ainda por mais cinco dias, ir sequer beber uma imperial com tremoços, já não é tão engraçado.
Pois é… vida de freelancer. Não me importo se para conseguir um determinado trabalho tenho que começar a conversa com um olá, boa tarde ou se por um oi, tudo bem?Os dialetos servem perfeitamente para que nos possamos comunicar. Mas há coisas de que não consigo gostar ou sobre as quais não me agrada escrever ou sequer referir.
Dou exemplos: Detestava chamar-me Boa Morte. Mas desde quando a morte pode ser boa? Principalmente como nome de alguém. É como estar desempregado e confiar que o meu país me ajuda, sei lá, porque eu sou boa pessoa ou qualquer coisa do género.
Por falar nisso, adorava que a minha casa não tivesse caixa de correio. Odeio a caixa de correio. Não tenho um único amigo que me escreva uma carta ou envie um postal. Sempre que a abro ou sou testemunha à força de um caso que foi parar a tribunal de algo a que assisti há trinta meses atrás e do qual eu já nem me lembro, ou é uma conta para pagar, ou é a auto-promotora-vaidosa-e-peneirenta revista da minha junta de freguesia e do seu bem instalado presidente-deputado, contra o qual não tenho nada a não ser a minha opinião, ou é publicidade de um Reino-Universal-Qualquer que disputa a sua atenção com o folheto do Supermercado. Odeio a Caixa do Correio.”
Por hoje é tudo, deixo um beijo querido, minha querida amiga, espero que o recebas com gosto, este teu amigo diário,
Ainda bem que gostaste do meu esclarecimento de ontem. Hoje, é altura de entrar na quinta parte das memórias de Haragano.
Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte V
“Estou no computador a ver se consigo terminar o pequeno texto para a Bodas Magazine, resta-me menos de uma hora e eles querem um mínimo de mil caracteres no artigo. Em primeiro lugar a coisa pode soar a falso, não sei, mas a verdade é que eu casei e pela igreja em mil novecentos e oitenta e quatro e já me divorciei há dezoito anos (atenção: o casamento que já referi anteriormente e que concretizei em Campo de Ourique foi o segundo). Não sou o melhor autor para a publicação e tenho que continuar a apelar ao meu espírito criativo para tentar que saia algo capaz. Coisas de freelancer.
"A boda do Casamento foi acompanhada por um recital de poesia de minha autoria e por uma exposição individual de pintura. Assim tirei partido da comida que serviu de porto de honra e vernissage para as minhas manifestações artísticas e poéticas. Foi o casamento perfeito."
Yes! Acabei, com mil e sessenta e três caracteres já posso enviar o artigo.
Aconselho-te ó leitor se sonhas com a profissão de escritor e ou jornalista que não entres pelo caminho do freelancer uma vez que a quantidade e a qualidade das temáticas nem sempre é a desejável.
Um exemplo disso foi o tema de uma intervenção minha num colóquio de escritores para o qual fui convidado. Esclareço que se tratou, como é normal nestas situações, de um convite de última hora para substituir um ilustre escritor da ribalta cultural portuguesa a quem uns copos a mais na véspera devem ter obrigado ao cancelamento da sua participação.
O que importa é que quando me mandaram os títulos das intervenções dos outros participantes já estava tudo escolhido ao nível das temáticas mais relevantes e eu me vi obrigado a optar pelo que arranjei à pressa, ou seja, "A Dialética Ecológica da Introdução do Papel Higiénico na Sociedade Portuguesa". Era isso ou falar do novo troço de saneamento básico em Freixo-de-espada-à-cinta.
Se reparares na minha agenda, hoje já tive de escrever para a Bodas Magazine, para a revista Mariazinha & Pipoquita e acabei de ver que ainda me falta enviar um artigo com uma receita de marisco para a publicação mensal Cozinho sem Segredos, não confundir ou ler a primeira palavra com qualquer outra vogal, eu sou um cronista sério, ora essa. Mas, enfim, esta é mais fácil, pois adoro cozinhar…
" Xarém de Lagosta: Num prato coloque o miolo de meia lagosta de um quilograma, corte-o em oito bocados e junte-lhes duzentos e cinquenta gramas de miolo de camarão previamente cozido. Corte umas quarenta gramas de toucinho em pedaços e o meio chouriço corrente às rodelas. Frite-os numa frigideira, em lume brando, com azeite, alho e coentros. Depois coloque o marisco num tacho e junte uma pitada de sal e cerveja e dê-lhes uma pequena cozedura com um toque de picante a gosto. Em seguida escorra o líquido onde cozeu o marisco para um tacho, junte o caldo das carnes (o toucinho e o chouriço), adicione mais cerveja e leve ao lume, deixando ferver um pouco. Agora deite lentamente a farinha de milho com a ajuda duma colher grande e tenha cuidado para não encaroçar, mexendo de vez em quando. Por fim, junte as carnes e o marisco e deixe ferver. Contudo, se estiver grosso em demasia (deve ficar bem consistente e não a escorrer) junte mais um pouco de cerveja. E pronto, sirva bem quente de preferência em prato de barro enfeitando com uns raminhos de coentros ou salsa."
Não me posso esquecer de que fiquei de enviar a Receita do Xarém de Lagosta ao Verde Gaio. O senhor Jorge pareceu-me interessado. Amanhã passo para a sexta parte das memórias. Este teu amigo, o mesmo de sempre, despede-se com um beijão,
Com que então ficaste confusa com a parte da Revolução das Orquídeas da minha última carta sobre as memórias de Haragano. Eu esclareço. Falei em revolução das Orquídeas em oposição à Revolução dos Cravos, seria uma revolução mais sensual já que a orquídea representa, em termos florais, o órgão sexual feminino. Poderia começar igualmente em Campo de Ourique, mas, em vez do Quartel, partiria de todos os locais ligados à beleza no bairro, cabeleireiros, barbearias, centros de beleza e massagem, ginásios, perfumarias e outros negócios na mesma esfera de influência.
Era a Revolução contra a opressão do Ministério da Finanças e a prepotente importância do Ministério da Economia. Passaríamos a valorizar mais o SNS, a investir na Revolução dos Serviços Públicos de Transporte e a apostar verdadeiramente numa política de natalidade que travasse de vez o envelhecimento da população nacional. Aliás, tudo coisas recomendadas hoje pela Comissão Europeia para Portugal, sem esquecer, claramente, a importância de um trabalho digno, devidamente remunerado e apontando já para as novas tendências ecológicas e digitais. Enfim, uma revolução mais feminina e arejada.
Regressemos, portanto, à continuação da divulgação das memórias de Haragano que chegam hoje à quarta parte:
Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte IV
“Tenho que sair da cama. Acabo de me lembrar que preciso de enviar um beijo de pelo menos cinco linhas para a revista Mariazinha & Pipoquita, a propósito das celebrações do Dia Mundial do "corin tellado". E esses pagam a horas e sem discutir preço, são eles e a IURD, porém, confesso, em mais um à parte, que sou alérgico à segunda, porque, caso contrário, até poderia dar num grande bispo. Mas alergia é alergia e enquanto tiver consciência estou certo que não me passará.
Pronto, a maravilha de te estar apenas a escrever é que neste momento posso-te dizer que regressei à secretária. Vamos lá ver se o beijo sai.
<< Beijo Assado, quiçá com castanhas, regado com jeropiga, acompanhado por uma lareira crepitante, numa sala de granito antigo com grandes traves de carvalho e faia a rasgar as paredes, ao som de uma canção clássica de Paulo Gonzo, entre amigos, numa noite aberta e luminosa de Lua Cheia, onde o frio nos faz sentir o doce conforto do calor do fogo e das amizades envolventes, rindo entre conversas de uma banalidade sem meias palavras e onde conviver parece ser realmente o mote mais importante. Um beijo assim dá-se a quem se quer bem, sem subterfúgios, sem malícias, sem truques e por absoluta vontade de partilhar o momento de forma simples, sincera e singular.>>
Ufa! Correu bem. Embora não tenhas dado conta, aproveitei o ter acabado o beijo para ir à cozinha buscar uma tangerina. Não vejo mal em partilhar esse facto simples contigo, já não será tão linear que me vejas aqui a escrever-te sobre as minhas idas à casa de banho, muito menos sobre o grau de pressão exercida sobre o abdómen no momento <<intimissíssimo>> do alívio. Desculpa lá o neologismo, mas fica lindamente nesta parte do texto.
Certamente concordarás comigo quando digo que, afinal, o calhau é algo bem mais privado do que o sexo. É até por esta razão que eu sou manifestamente contra a publicidade a fraldas na televisão. Ainda por cima pela exploração abusiva das criancinhas e dos bebés inocentes, sem voto na matéria que, com o mais ternurento sorriso do mundo, publicitam para quem os quiser ver, os deploráveis contentores de merda. Sou contra. Pronto! Sou contra.”
Como o tempo passa, amiga Berta, quando escrevi este beijo ainda nos encontrávamos regularmente, para um bom jantar, no Restaurante Verde Gaio, sempre prontos para colocarmos a conversa em dia. Enfim, os anos passam e a vida muda. Por falar em mudar, o Verde Gaio, aqui na Rua Francisco Metrass, em Campo de Ourique, em frente do Mercado, já reabriu. Está a funcionar muito bem e fui lá jantar na reabertura. Senti-me seguro, comi de forma excelente, como sempre aliás, e espero que eles se aguentem com a utilização de apenas 50% dos lugares. Agora é só a família a trabalhar no espaço, mas até isso ajuda a fazer com que nos sintamos descansados. Por hoje é tudo, beijo deste teu amigo,
Em resposta aos teus comentários à minha carta de anteontem (pois pelo meio falei-te do 25 de abril), posso garantir-te que não sou doido nem varrido nem mesmo por varrer e, ainda, nem sequer sou muito diferente das outras pessoas. A divergência existe apenas do facto de eu escrever o que me passa pela cabeça, enquanto que, a maioria, apenas o pensa e disso não deixa registo para a posteridade.
Continuando com as memórias é altura de chegar à Revolução das Orquídeas, mas antes convém acabar o tema que iniciei na última carta. Gosto de terminar os raciocínios que começo e deitar cá para fora todas as ideias que me passam pela caixa dos pirolitos na altura em que escrevo algo seja sobre que tema for. Estava a divagar sobre tabaco, maços e o ato de fumar. Ora, concluindo o tema:
Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte III
“Já agora, um à parte, para ti que me estás a ler neste momento. Fumas? Se és fumador junte-te a mim, o meu mail fictício é bastaquebasta@gmail.com. Manda-me o teu nome e número de cartão de cidadão com uma declaração simples dizendo que aderes ao Mata, o Movimento de Apoio aos Tabagistas Atrofiados, estou a tentar formar uma associação que defenda de uma vez por todas o nosso direito à diferença.
Se os drogados podem ter salas de chuto, como os gajos do futebol de salão, porque raio é que nós não podemos ter restauração e espaços públicos reservados apenas para fumadores? Até discotecas, porque não…? Se dizer drogado é considerado uso de termo pejorativo, para falar de um toxicodependente, porque é que em vez de se usar o termo fumador não se usa <<nicotinodependente>> ou abreviando <<nicodependente>>? Se o Estado chama o bêbado de alcoólatra, alcoólico ou, com subtilezas de protegido acarinhado, de ébrio porque não apelidar o fumador <<nicoinalador>>?
Ainda estou para aqui a matutar. Se um drogado tem direito a metadona e seringa de borla porque é que eu não posso ter direito às <<nicorettes>> e a um cinzeiro à pala? Entendes o meu dilema?
Se não és fumador, não te irrites. Afinal, a acreditar na publicidade difamatória e que atenta diariamente contra o direito à diferença dos fumadores, eu e os outros como eu estamos condenados à extinção. Os que são homens verão os seus espermatozoides esterilizados em praça pública e as mulheres morreram estéreis e sem mamas por estarem sempre a chupar no fruto proibido, o cigarro. Como vês sais sempre por cima. No stress.
Estou novamente na cama. Aqui eu não penso apenas em dormir, no meu ego ou em sexo. Nada disso, aqui é onde eu arquiteto quase diariamente o meu plano maquiavélico da revolução das orquídeas. Desta vez nada de cravos em espingardas, de povo na rua, de defesa da classe operária e da terra a quem a trabalha, contudo, a Revolução pode começar outra vez em Campo de Ourique. E nem sequer é uma questão de política.
Nada disso. Desta vez serão orquídeas delicadamente poisadas nos bustos e regaços das damas de Portugal, as mesmas flores que poderão ser sensualmente presas aos testículos dos cavalheiros, sem fundamentalismos, na rua, apenas com gente disposta a lutar pela liberdade, contra a tirania opressiva dos departamentos de economia e finanças que atualmente gerem o mundo. É tempo de iniciar a Revolução das Orquídeas, dando algum espaço revolucionário aos tios e às tias, em falência económica, deste país.
Lutaremos pelo trabalho? Claro que sim, mas, por favor, não a troco de meia banana e nem com duração de meia dúzia de dias ou meses na melhor das situações. Não e não. Lutar pelo trabalho, mas por um que seja digno e que nos mereça tanto como nós a ele. Viva a Revolução das Orquídeas que os filhos já lá estão e precisam de ser reformados. Para os interessados o mail é o mesmo do costume.”
Por agora é tudo, que amanhã há mais. Deixo um beijo carinhoso de amizade,
A vidinha continua sorridente? Por detrás da máscara só saberá quem te conseguir ler nos olhos o sorriso da alma. Não me posso esquecer um detalhe importante relativamente às memórias que te estou a enviar, ou seja, tens de ter em atenção que nelas eu me dirijo a um leitor anónimo e não propriamente a ti.
Não leves a mal, porém, acho que não era bonito desvirtuar as referidas memórias se lhes alterasse o conteúdo. Com esta ressalva feita, já ficas a entender que estou a referir a qualquer leitor mais atento que, entretanto, me possa estar a ler ou o tenha feito na altura em que escrevi estas memórias.
Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte II
“Pronto, não conseguia passar daqui. Ficava curto, talvez em demasia, a história para a revista. No entanto a hora de enviar o mail com o artigo caminhava desgovernada na minha direção. À primeira vista aquilo ia dar em acidente. A culpa era do meu irmão. O único dos 4 que se dignou a aparecer. Cada vez que tentava avançar na história só me lembrava dele a atacar avassaladoramente, com gula desmedida, as travessas de rosbife, que iam claudicando, uma após a outra, à sua voraz passagem cega.
Levantei-me da cadeira. Agora não dava para continuar. Fui ao bolso do blusão buscar um cigarro, um daqueles amaldiçoados pela minha senhoria que tentava a todo o custo proibir-me de fumar num dos seis lances das escadas do quase centenário edifício onde habito, ainda por cima, para cúmulo, um terceiro andar sem elevador (contudo, a vantagem de viver em Campo de Ourique, era sempre o meu porto de salvação). Mas, voltando ao tema… a cada dois metros a etiqueta sangrenta do proibido fumar condenava-me a calabouços bem mais tenebrosos do que aqueles pelos quais o meu tio-avô, antifascista militante, tinha passado, na companhia dos anjinhos da PIDE, no terceiro quartel do último século do milénio passado, o que, dito assim, parece mesmo uma catrefada de tempo, quando afinal, a história tem menos de cinquenta anos.
Peço desculpa, já estou a divagar novamente. Porém, vais ter de te habituar se quiseres continuar a ler-me. É o problema das mentes dos escritores e dos criativos, pensam muitas coisas, umas em cima das outras. Mas acho que rapidamente me apanhas o jeito. E, como penso que o leitor deve respeitar o escritor, eu tento responder do mesmo modo. Não te conheço e, no entanto, estou a tratar-te por tu, sem cerimónias, mas julgo ter uma razão para isso.
Ora bem, se durante algumas horas vou estar aqui a falar, sem tabus e sem receios contigo, fazendo-te confidente deste meu existir, contando quer com a devida descrição da tua parte, quer com a solidariedade própria de pessoas que se tornam intimas, não faz depois sentido a existência de <<salamalecos>> de etiqueta entre ambos. Espero que estejas de acordo.
Acendi o proscrito (cigarro), que para meu descanso e paz de espirito, mais uma vez não gritou, não pediu perdão por servir de bode expiatório dos impostos do governo, nem mesmo me ameaçou com as imagens ridículas que o Estado o obriga a usar, na frente e no verso de cada pacote de cigarros, mas isto porque eu as cubro com uns cromos da bola da Panini de um mundial que tresanda a D. Sebastião, ou com aquelas cartas infantis oferecidas nas caixas do Pingo Doce.”
Já me estou a alongar demasiadamente, minha querida amiga, despeço-me com um beijo, como sempre,
Não te admires sobre algumas das coisas que vais ler nestas minhas “Memórias de Haragano”. São apenas uma forma um pouco diferente de ver o quotidiano, nada mais. Já agora, contigo está tudo fino, como ontem? Espero que sim. Nunca tenho grande jeito para estes protocolos da etiqueta social, mas pronto, quando me lembro sempre pareço um pouco mais civilizado. Peço é desculpa pelas vezes, e são muitas, em que entro logo nos assuntos sem a devida delicadeza da tradicional etiqueta.
Regressamos, pois, à temática que ontem iniciei. Vou-te enviando coisinhas aos poucos para que não te fartes rapidamente. Como toda a gente, também eu reparo em detalhes que talvez nem devesse ter notado, mas a vida é mesmo assim e tudo depende das circunstâncias.
Memórias de Haragano: A Revolução Começa na Cama – Parte I
“A cama é para muitos de nós o “Domínio do Ego”. Nela somos senhores do mundo, reis do universo, da vida que imaginamos poder ter, pintores nas telas da nossa imaginação, artistas plásticos nas esculturas moldadas à nossa imagem e semelhança. Por maior disparate que elaboremos na mente, por mais bárbaro que seja o julgamento que fazemos de algo, o que importa é que aqui a razão está sempre do nosso lado. Não existem pagamento de impostos, não há dívidas no talho, nem conhecemos alguém a quem devamos um favor. Num dia bom não ganhámos apenas um euromilhões, mas pelo menos três.
Voltei a saltar da cama deixando o meu ego a descansar. Sentei-me à secretária e reli o início do artigo sobre casamentos que estava a escrever para a Bodas Magazine.
"Pedi a minha ex-esposa em casamento ao som dos Doors. Banda preferida de ambos. Imaginem uma noite de chuva e trovoada, há muitos anos atrás, dia 6 de novembro, meu aniversário. A <<pendrive>> no carro tocava Riders on the Storm.
Estávamos a passar pelo jardim da Parada, em Campo de Ourique. Pedi-lhe para parar no estacionamento, quase vazio, reservado aos táxis. Parou. Subi um pouco a música. Abri a porta do carro, dei a volta e bati no vidro dela. Abriu. Chovia copiosamente agora. Encharcado levei a mão ao bolso, abri uma caixinha com um anel de brilhantes em forma de cabeça de pantera, ajoelhei no passeio e cantei: Came on baby Light My Fire.
Relampejou duas vezes, uma lágrima sorridente rolou-lhe na face e casamos dia 27 de dezembro na Casa Fernando Pessoa que pela primeira vez autorizou um casamento."