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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Desabafos de um Vagabundo: Série Romance - A Felina - Noites de Lua Cheia - 19

A Felina - 19.jpg      ― Será? A menina chegou aqui, ultrapassou uma quinta murada e um portão fechado, escapou a trinta e seis câmaras de segurança, com instalação de sensores de movimento e termo detetores, quatro guardas e cinco cães e conseguiu, por fim, entrar em minha casa e aceder ao meu salão e tudo isso sem ajuda? ― indagou Muttley, seriamente intrigado e sem acreditar na mulher disfarçada de gata.

      ― Uma coisa posso jurar. Não vim pelo correio. ― respondeu a Felina, divertida com a situação. ― Mas agora está na hora da sesta. Toca a dormir.

Quase em simultâneo a gata fez voar um conjunto de pequenos dardos que atingiram os seis bandidos. A oscilação da mão fora diminuta, no entanto suficiente para os projeteis acertarem no braço de cada um dos malfeitores. Jô ainda tentou pegar num pequeno comando e carregar num dos botões, mas sem sucesso. A droga que os dardos carregavam colocou-os a dormir quase que instantaneamente.

A Felina levantou-se e foi espreitar o comando que o Jô tentara acionar.. Era um trabalho artesanal com cinco botões,, nomeadamente, alarme, chamar, vigilância, prevenção e anular. Aquilo era um aviso para os quatro guardas. Guardou-o no cinto utilitário. Foi à procura da sala de vigilância. Esta encontrava-se perto da enorme cozinha. Sentou-se na cadeira principal e consultou o sistema. Afinal a casa e o anexo tinham imensas câmaras internas de vigilância, todas ocultas em pequenos painéis que se destapavam assim que o sistema era ativado. Contudo, só as do anexo estavam ligadas. Porque seria? Não era preciso vigiar a casa?

A jovem conseguiu ver os guardas. Estavam ainda a jantar. Eram quatro indivíduos de cabeça rapada, com ar de provirem de uma qualquer máfia dos países de leste. Na cozinha onde se encontravam a comer estavam igualmente os cães, à volta de umas gamelas grandes de comida. Todos de raças perigosas.

Ela precisava chamar os homens e aproveitar o facto de os cães estarem a comer, presos na parede, a umas trelas de três metros. Decidiu não pensar em demasia.  Clicou em chamar.

Uma luz vermelha acendeu-se a piscar em todas as divisões do anexo, nuns quadros de cinquenta centímetros de largura por trinta de altura. Esperou uns segundos e carregou em anular. A jovem entendeu que cometera um erro. Estava a chamá-los à sala de segurança. Era este o local que acendia no quadro. Preferia tê-los atraído para o salão. Porém, agora era tarde. Viu claramente os homens a levantarem-se. Dois deles tinham armas perto do sovaco esquerdo e os outros dois pistolas embainhadas no cinto das calças. Dirigiram-se calmamente para a porta de saída do anexo e não soltaram os cães. Vinham a caminho.

Confirmou que ainda tinha dardos na sua mini besta e saiu apressadamente da sala. Arranjou um esconderijo numa casa de banho de serviço entre aquele espaço e a cozinha e deixou a porta desta semiaberta. Restava-lhe aguardar que eles chegassem. Conseguiu atingir os quatro mesmo antes de transporem a porta encostada que dava acesso ao espaço de vigilância. Os guardas nem tiveram tempo de sacar as armas. Ainda fizeram o gesto, mas caíram redondos no chão antes de terem tempo de terminarem o movimento de ataque.

      ― Meus queridos, de noite, todos os gatos são pardos… ― retorquiu a Felina, satisfeita com o resultado dos seus dardos.

Um por um, arrastou os quatro homens para o salão juntando-os aos outros. Sentou todos nos diversos sofás devidamente presos de pés e mãos com as suas abraçadeiras largas, iguais às de uso policial, mas pretas. Quando acabou verificou que ainda tinha uma hora e meia até aquela gente acordar.  Decidiu fazer a vistoria completa ao solar.

A única sala fechada com interesse era aquela que abrira anteriormente. Três continham drogas. Uma com várias sacas de trinta quilos contendo marijuana, outra com uma quantidade absurda de cocaína e outra com heroína. As restantes salas fechadas continham armamento diversificado. Desde uma com estantes carregadas de pistolas de todo o tipo a outra com metralhadoras, mais uma com bazucas e mais uma parafernália de armas brancas. Todas as salas com estantes em filas e uma mesa central tapada com um veludo ora azul ora vermelho.

A Felina apenas retirou da sala do tesouro, como ela lhe chamava, as peças de ouro maciço e as de ourivesaria. Deixou tudo no corredor e decidiu ir buscar o carro. Deu uma corrida até ao portão, com um dos comandos, tirado a um dos guardas, abriu o portão e regressou sete minutos depois com o seu carro parando-o junto na porta principal. Olhou para as horas. Já gastara meia hora. Estava desejosa de sair dali e tirar as luvas. Embora precisasse não gostava nada de as usar.

Foi inspecionar o anexo e não viu nada que lhe interessasse. Porém, na garagem existiam vários tipos de carrinhos, tipo porta paletes, mas dois deles eram cobertos na base por uma chapa. O maior tinha cerca de um metro e vinte por oitenta centímetros. Foi com esse que a Felina entrou no elevador. Carregou o ouro e a ourivesaria diversa para o carrinho e arranjou a sala de modo a não parecer faltar nada.

Ainda perdeu uns oito minutos a retirar marcas de pó. No final estava tudo uniforme e sem qualquer marca de pó. A jovem estava satisfeita. Ainda tinha cerca de cinquenta minutos. Fechou novamente a sala à chave. Resolveu rever uma a uma as outras divisões e descobriu que tinham ficado por abrir duas salas. A penúltima estava carregada de estantes de alumínio em fila repletas de caixas de munições separadas por tipo. Voltou a fechar a sala e abriu a última. Esta era um verdadeiro armazém de material sexual e de bondage. Tal como entrou, voltou a sair e a fechar a porta.

Já estava a entrar no elevador com o carrinho quando se lembrou da lamparina do quarto de Jô. Deixou o carrinho e subiu ao andar de cima. Abriu o quarto, retirou a lamparina e colocou o jaro com a planta no seu lugar. Limpou a marca do jaro no chão e satisfeita saiu do quarto fechando novamente a porta. Entrou num dos outros quartos e retirou de um roupeiro uma espécie de manta pesada que lhe parecia servir mais de tapete do que de manta. Deixou tudo em ordem e regressou ao elevador.

No primeiro piso apanhou o carrinho com o seu espólio e juntou-lhe a lamparina e a manta. Tinham passado mais vinte minutos quando terminou de carregar o seu carro. Levou o carrinho para a garagem e colocou-o no mesmo sítio de onde o tirara. Vinha a sair quando ouviu aquele gemido.

O barulho parecia ir do subsolo. Rapidamente procurou por um alçapão. Acabou por o encontrar, num dos cantos do fundo da garagem, por debaixo de um tapete velho. Abriu e desceu umas escadas de madeira, depois de ter ligado a luz num interruptor perto do buraco. A escada conduzia a uma espécie de adega enorme. Viu à esquerda a zona da garrafeira dos vinhos, mas do lado direito existiam oito portas que pareciam celas de prisão, todas seguidas.

A jovem abriu o postigo da primeira. Dentro podia ver pela luz fraca que iluminava o espaço, quatro jovens raparigas em dois beliches. Fechou o postigo. Rapidamente percorreu a adega e espreitou postigo a postigo, a cena repetia-se em todos eles. As mulheres começaram a pedir para as soltarem e a gritar por socorro, talvez por perceberem que não se tratava de nenhum dos visitantes do costume. Umas choravam. Muitas eram estrangeiras.

Íris, fez que não as ouvia e voltou a subir as escadas. Deixou o alçapão aberto, com o tapete dobrado para um dos lados em triângulo e mudou algumas coisas de lugar para que o alçapão fosse visto da entrada. Deixou igualmente a porta da garagem aberta. Tinha que arranjar aquilo de modo a ser facilmente detetável. Agora, dava para escutar os gritos daquelas mulheres todas, até na frente do casarão. Grandes bestas aqueles bandidos de merda.

Vinha furiosa. Trinta e duas prisioneiras. Aqueles animais tinham trinta e duas prisioneiras presas numa cave. Mas que abomináveis filhos da puta. Com a manta que deixara à entrada da garagem a arrastar pelo chão limpou as marcas do carrinho entre a garagem e o solar. Depois prendeu a manta às traseiras do seu carro. Estava pronta para sair dali. Olhou novamente as horas. Caramba, faltavam entre dois a cinco minutos para aqueles cretinos acordarem. Tinha que se despachar.

Regressou ao salão. Ainda ninguém despertara. Com cuidado, em cima de uma mesa de apoio junto de um sofá vazio perto à enorme lareira, colocou uma das suas moedas e arrastou a mesinha mesmo para a frente da lareira. Voltou ao sofá e esperou que os idiotas acordassem. A Felina já tinha recolhido os dardos usados para um pequeno saco dentro da mochila quando os sentara e prendera.  Só lhe faltava vê-los a despertar.

 

(continua) Gil Saraiva

 

 

 

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