Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente
correto.
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Ontem analisei a direita, mas, analisando a esquerda, a situação não é melhor. O Livre anseia por ver a saída da sua ex-deputada do parlamento, Joacine Katar Moreira, e voltar a ganhar um lugar no hemiciclo. Porém, amiga Berta, era muito mais inteligente se conseguisse ir a votos associado ao PS (coisa que na direita o Chicão vai tentar fazer com o PSD para que não seja visível a sua enorme queda de apoiantes). O PAN por seu turno meteu os palitos ao touro e às touradas. Afinal, a líder do partido tinha garantido o apoio ao orçamento e apenas se absteve. Com isso perdeu a subida do IVA das touradas, a proibição dos adolescentes poderem ir às touradas, entre outras conquistas que tinha conseguido.
O PCP e os Verdes queriam ir a votos já, ontem se possível, pois que, mesmo que percam de momento mais um ou dois deputados, isso será preferível a perderem meia dúzia, ou mais, se o ato eleitoral se mantivesse apenas para 2023. O PCP tenta a todo o custo evitar ficar com o lugar do CDS, como o partido do Táxi e foi por isso que o Orçamento de Estado foi chumbado. Já o Bloco de Esquerda e a Catarina Martins estão todos pelos cabelos. O Bloco receia perder metade dos seus eleitores. Todavia, no que diz respeito ao PS e a Costa não estão felizes de ir a votos, fingem estar, mas receiam mais uma surpresa desagradável como a que aconteceu, minha amiga, com a recente derrota na Câmara de Lisboa. A dúvida pode inclusivamente prejudicar a campanha do Partido Socialista nestas eleições. Costa sente-se sozinho e no escuro. À espera tem muitos sucessores, com vontade de liderarem o partido.
Este é o resumo do filme, contudo, falta dizer que o encolher de ombros de Marcelo não lhe retira a culpa de ter anunciado antecipadamente, e cheio de orgulho tolo e mal fundado na sua influência na esquerda, que partiria para a dissolução da Assembleia da República se o orçamento fosse chumbado.
A esquerda não ligou às suas ameaças e deixou o presidente sem alternativa que não marcar mesmo as eleições legislativas para o início do ano de 2022. Há ainda um último problema que pode ser bastante preocupante. Refiro-me à data de para quando as eleições serão marcadas.
Excetuando o Iniciativa Liberal e o adversário de Rui Rio nas eleições internas do PSD, e estou a falar do convencido Paulo Rangel, que quer eleições em fevereiro, todos os outros líderes partidários propuseram ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o dia 16 de janeiro de 2022, domingo, como o dia ideal para a realização urgente do ato eleitoral.
Ora, a marcação das eleições por parte de Marcelo para dia 23 de janeiro, ou outro domingo ainda posterior a esse, implica um auxílio direto a Paulo Rangel. Significa a ingerência da presidência, num assunto interno de um partido político e um apoio específico a um candidato, o que seria péssimo quer para um estado democrático, quer para a própria imagem presidencial. É este o motivo, amiga Berta, que me leva a estar expectante no que à marcação das eleições diz respeito. Faço votos que o presidente dos afetos consiga escapar da armadilha de se tornar o presidente dos afetados. A ver vamos, já falta pouco tempo.
Espero que tenhas encontrado algum sentido nesta minha análise. Pode ser que me engane, porém, se o curso dos próximos tempos for como eu prevejo, o PS vai subir em votos e em deputados, perto da maioria absoluta, o PC e o Bloco descem, o CDS, se for sozinho, elege apenas um deputado, assim como o Partido Livre (que talvez chegue aos dois). O PAN desce também para metade e a Iniciativa Liberal pode eleger um segundo deputado. O PSD não melhora e o CHEGA talvez atinja os quatro deputados. Todavia, o melhor mesmo é esperar para ver, porque, afinal, a política é uma arte circense, mas sem rede e de elevado grau de risco extremo.
Já basta de pensar em política minha querida amiga Berta. Voltarei a escrever se aparecerem mais notícias interessantes como, por exemplo, a COP 26, ou o vulcão Cumbre Viella em La Palma, nas Canárias. Despeço-me com um beijo solidário e de amizade,
Conforme comprovaste esta semana o Orçamento do Estado não passou. Agora já me podes dar razão relativamente ao meu parecer do fim-de-semana passado. Conforme eu te tinha dito o Bloco de Esquerda estava fiado na abstenção do PCP, dos Verdes e das duas deputadas independentes, que lutavam para segurar o poleiro e do voto a favor do PAN, que já o tinha prometido.
Porém, Catarina Martins não imaginou que o PCP queria ir já a eleições, minha amiga, para tentar minimizar prejuízos na queda de eleitores que vem tendo, pois ir só a votos em 2023 poderia retirar-lhe muitos lugares na Assembleia da República, assim, mesmo que perca mais um ou dois, ainda mantém um grupo parlamentar talvez na casa dos dois dígitos, ou seja, o tiro saiu pela culatra ao Bloco de Esquerda que poderá perder imensa força já nestas eleições. Afinal, o partido de Catarina é tido como um dos principais culpados pelo fim da geringonça e da maioria de esquerda.
Ora, o Presidente, que se julgava mais influente do que é, à esquerda do parlamento, queimou todas as possibilidades de deixar o PS, querida Berta, apresentar um novo orçamento ao garantir, repetida e insistentemente, que, se o primeiro não passasse dissolveria a Assembleia da República e marcaria eleições antecipadas. Ninguém entenderia que, face ao acontecido, desse agora o dito por não dito.
Assim, postas as coisas nestes termos, Marcelo Rebelo de Sousa, vê-se obrigado a dissolver a Assembleia da República e a convocar eleições. Consta que, para os lados de Belém, a simpatia do nosso Presidente recai, no que aos candidatos a líder no seio do PSD diz respeito, para o jeitinho de Rangel, que fez questão de ir ao beija-mão presidencial. Para Marcelo, Rui Rio, parece demasiado tolerante com o Governo de Costa e o nosso presidente tem outro tipo de perfil em vista para a liderança do seu antigo partido político, que não passa, evidentemente, por Rio.
Mas, fazendo uma breve síntese de como os partidos estão a ver a dissolução da AR, podemos dizer que o mais feliz é o Chega de André Ventura. A ânsia de ter um grupo parlamentar é superior ao ganho que teria com o aumentar do descontentamento dentro de dois anos. Já o Iniciativa Liberal está aflito, Cotrim acha que lhe falta tempo para fazer uma campanha que lhe traga mais deputados. Por outro lado, minha querida, o CDS tem uma crise de poder grave e o Chicão, preferiu atirar com a escolha do novo líder para depois das eleições, desterrando Nuno Melo. Quanto a Rangel está convencido que pode ser alternativa a Costa e, na sua vaidade infinita, não consegue antever que o apoio que tem no partido existe apenas no aparelho e não nas bases, onde a maioria dos militantes são do Norte e do interior do país e que, quer ele queira quer não, ainda são bastante homofóbicos, coisa com que Rio conta para vencer.
Amanhã termino esta breve análise, minha querida Berta, pois não quero ser demasiado maçador. Deixo um beijo saudoso, deste que todos os dias tem imensas saudades das nossas antigas conversas de fim de tarde, o teu eterno amigo,
A minha carta de hoje tem a ver com o facto de Paulo Rangel se estar a candidatar à liderança do PSD. O facto é relevante porque, sendo Rangel um assumido homossexual, a sua liderança, caso ganhe a presidência do seu partido pode, pela primeira vez na história da democracia portuguesa, colocar um gay à frente de um dos dois principais partidos portugueses, um dos partidos que, dentro da alternância democrática nacional, pode vir a ganhar umas eleições e a formar um governo no país.
Ora, esse facto levanta-me uma questão: poderá um homossexual, por força das suas preferências, governar o país de uma forma que prejudique aqueles que não se enquadram na sua minoria? À partida, quando penso no assunto, não vejo qualquer problema que possa surgir por força da orientação sexual privada de um qualquer líder ou governante. Mas, numa análise um pouco mais profunda, chego à conclusão de que posso estar completamente enganado nessa primeira avaliação.
Quero eu dizer, amiga Berta, que tudo depende do homossexual em causa, ou seja, se se tratar de um defensor da implementação de uma política ligada ao movimento LGBTQIA+, a agressiva agenda de intervenção governativa do movimento já não me faz sentir tão confortável com a concretização dessa possibilidade tendo em conta o país.
Mas é melhor, minha amiga, que eu comece por explicar o que significa a sigla LGBTQIA+, que está cada vez mais inclusiva. Importa pois explicar o que significa cada uma das letras, por forma a evitar dúvidas:
L – Lésbica: mulher que sente atração afetiva e ou sexual por outras mulheres, ou seja, por um relacionamento íntimo dentro do seu próprio género.
G – Gay: homem que sente atração afetiva e ou sexual por outros homens, ou seja, por um relacionamento íntimo dentro do seu próprio género.
B – Bissexual; homem ou mulher que sente atração afetiva e ou sexual por mais de que um género, ou seja, por um relacionamento íntimo com pessoas independentemente do seu género.
T – Transexual ou Transgénero: pessoas que se identificam com outro género que não aquele do seu nascimento. Este conceito está relacionado a identidade de género e não relação sexual e ou afetiva.
Q – Queer: pessoas que transitam entre os géneros feminino e masculino ou em outros géneros quais a equação binária simples não se aplica.
I – Intersexual: pessoas cujo desenvolvimento sexual corporal não tem cabimento na norma binária comum.
A – Assexual: pessoas que não têm atração sexual e ou afetiva por outras pessoas independentemente do género.
+ – Mais: Envolve todas as diversas possibilidades de orientação sexual e identificação de género que existam ou que possam aparecer e que não estejam abrangidas nas descritas anteriormente.
Volto, agora, ao caso específico de Paulo Rangel. Se a sua atitude de liderança não tentar impor a um país maioritariamente heterossexual os valores LGBTQIA+, entrando em choque com a real sociedade portuguesa, que ainda por cima é marcadamente machista e religiosa, então, nada tenho a opor à sua ambição política. Pode até legislar, se um dia chegar ao Governo, a favor de uma educação inclusiva, no meio escolar, combatendo de forma ativa os estigmas existentes.
O que eu pretendo alertar é que, tendo em conta a realidade nacional, principalmente fora dos grandes centros urbanos, o aparecimento ostensivo e provocatório do conteúdo da agenda política do movimento LGBTQIA+ poderia gerar graves conflitos sociais, porque uma coisa é que se lute por direitos iguais entre pessoas diferentes, outra coisa, bem distinta, é a ostensiva tentativa de privilegiar uma minoria. Se Paulo Rangel for, querida Berta, alguém disposto a usar de um meio termo, promovendo a inclusão, mas desincentivando o conflito, que seja bem-vindo e que tenha o sucesso que provenha do seu valor enquanto ser humano.
Tendo em conta ainda a sociedade em que vivemos, faço igualmente votos para que Paulo Rangel tenha a fibra para aguentar com a parafernália de insultos e piadas a que se irá sujeitar se alguma vez ascender à liderança do PSD. Numa rápida ronda pelo Facebook, hoje, não levei muito tempo para encontrar frases como: “Rangel, Portugal não pega de empurrão”; “Ó coiso, vai empurrar o cocó para Bruxelas”; “Rangel, o país não anda de marcha atrás”; “Lilas, não te atrevas a pôr a tocar no programa curricular da educação nas nossas escolas as tuas mariquices”. Estes exemplos são apenas os menos insultuosos que encontrei numa altura em que, note-se, Paulo Rangel apenas anunciou a sua candidatura.
Há ainda mais algumas circunstâncias e situações que podem surgir com a ascensão de Rangel a líder. Porém, isso será ele a ter que lidar com o assunto, se lá chegar. Apenas acho insensato que se pense que o caso é pacífico em Portugal. Despeço-me com um beijo saudoso, deste teu amigo,
Maria da Fonte - Campo de Ourique - Lisboa – Portugal (Gil Saraiva -Fotos de autor, direitos reservados)
OS 101 ANOS E 21 DIAS DA ESTÁTUA DA MARIA DA FONTE EM CAMPO DE OURIQUE EM 6 DE OUTUBRO DE 2021
Olá Berta,
Não sei se sabes, mas dá-se o nome de MARIA DA FONTE à revolta no seio do povo cuja primeira chama teve origem no Minho, no decorrer dos idos de maio de 1846, tendo acabado por se propagar a todo o reino de Portugal, desencadeando uma cruel contenda popular que ficaria na história como «A GUERRA DA PATULEIA», que deixou a rainha D. Maria II em muito maus lençóis.
Não me vou armar em historiador, nem pôr-me aqui a desenvolver um grandioso ensaio sobre este período da nossa História, bem pelo contrário, apenas pretendo te apresentar um pequeno vislumbre do ocorrido explicando o como e o porquê da estátua da Maria da Fonte se encontrar desde há cento e um anos no Jardim da Parada em Campo de Ourique.
Pelo que nos dizem os cronistas da época, a causa do conflito teve origem na proibição real de se enterrarem os mortos nas igrejas, como era hábito até então. Este facto serviu de rastilho à revolução, movida pelo ódio popular contra o Governo, contra a política fiscal, e contra a pessoa do Conde Costa Cabral que o liderava e que apelidaria a revolta como a «REVOLUÇÃO DO SACO AO OMBRO E DA ROÇADEIRA NA MÃO».
No dia quinze de setembro de 1920, a propósito dos cem anos da proclamação do regime liberal, foi lançado um marco comemorativo que se traduziu na inauguração de um monumento a Maria da Fonte, a mulher de Fonte da Arcada que terá tido um papel relevante na sublevação das mulheres minhotas, que culminaria com o fim do governo de Costa Cabral, exonerado a 17 de maio de 1846.
Porém, a estátua da Maria minhota de Fonte da Arcada é basicamente usada como um símbolo da libertadora revolta popular que foi fulcral para a consolidação da liberdade e do regime liberal em Portugal, mais do que uma homenagem, propriamente dita, à mulher do Minho que se terá destacado no início dos conflitos de 1846.
A estátua da Maria da Fonte, representa uma mulher de armas, num movimento guerreiro e decidido e é inspirada nas artísticas correntes Naturalista e Realista, sendo de autoria de Costa Motta. Trata-se da imagem, em mármore branco, de uma jovem mulher minhota descalça, que avança bramindo um apelo guerreiro, de arma de fogo na mão direita, ao alto, e com um rudimentar pau com ferrão sobre o ombro esquerdo, antigamente denominado por chuço, num perfeito movimento de incitamento à luta.
A sua colocação no Jardim da Parada, em Campo de Ourique, não é um mero acaso, pelo contrário, serve para realçar o local onde teve origem, nos idos de 1803, o movimento revolucionário gerador das revoltas populares que implicariam o estabelecimento do regime liberal em Portugal.
É a escultura desta mulher do Norte que faz a ponte emblemática e liberal entre o Minho e Lisboa, num claro simbolismo de unidade nacional, a qual, ao ser colocada na capital, no sítio preciso onde o Liberalismo português nasceu, tenta mostrar às gentes que vale a pena lutar pela liberdade.
A demonstração, por intermédio de uma escultura colocada a centenas de quilómetros do local onde a respetiva heroína se notabilizou, traduz assim, de uma forma clara, que locais tão díspares como o Minho ou Lisboa (e que poderiam ter ocorrido entre outros quaisquer pontos do país, como, por exemplo, Ponta Delgada ou Faro) podem contribuir com igual relevância na consolidação da unidade nacional e do valor mais alto que a liberdade representa.
A estátua de Maria da Fonte representa assim, mais do que a consolidação do liberalismo, sob uma forma feminina, decidida e guerreira, a luta de um povo pela unidade nacional contra tiranias, na vontade inequívoca, decidida e persistente da implementação da liberdade.
Por hoje despeço-me, minha querida amiga Berta, cento e um anos e vinte e um dias depois da colocação da escultura de Maria da Fonte no Jardim da Parada, em Campo de Ourique, neste dia seis de outubro, um dia depois do feriado que comemora a implantação da República em Portugal, neste ano de 2021, enviando um beijo saudoso deste teu amigo de sempre,