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Alegadamente

Este blog inclui os meus 4 blogs anteriores: alegadamente - Carta à Berta / plectro - Desabafos de um Vagabundo / gilcartoon - Miga, a Formiga / estro - A Minha Poesia. Para evitar problemas o conteúdo é apenas alegadamente correto.

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Carta à Berta: Portugal, o Censos 2021 e as Alterações Climáticas

Berta 544.jpgOlá Berta,

Numa altura em que foram publicados no site do INE os resultados preliminares do Censos 2021 e em que Portugal se prepara para seguir a via do desconfinamento e embora o Certificado Digital Covid-19 ainda dê problemas para chegar a todos os que já estão em condições de o ter, há coisas que realmente correm bem no reino luso, como, por exemplo, o auto agendamento, que cada vez tem menos travadinhas informáticas quando se tenta aceder a ele, embora ainda não esteja cem por cento funcional.

Positiva é, igualmente, a grande luz que se faz sentir sobre o adiamento dos tratamentos, consultas e operações, não relacionadas com a pandemia, minha querida amiga Berta. Porém, na realidade, existe falta de clareza na informação das responsabilidades criminais do pessoal ligado à saúde ou aos lares e à assistência social, onde possam vir a ocorrer óbitos provocados por contacto com estes trabalhadores que, devendo estar vacinados, optaram por não o fazer.

Parece certo que poderemos vir a assistir à abertura de processos judiciais, onde estes funcionários (e as instituições onde trabalham) correm o risco de ser diretamente acusados e condenados de homicídio por negligência, segundo a opinião de muitos advogados e constitucionalistas, pese embora o facto de, nesta altura, a situação ainda se manter na fase de avaliação e discussão temática.

Mas hoje, num mundo cheio de informação onde as novidades rapidamente se tornam obsoletas, prefiro falar um pouco do Censos 2021. De acordo com os primeiros resultados, Portugal, que tinha ainda tido um crescimento modesto da população de 5% entre 1991 e 2001, o que se traduzia num abrandamento significativo e constante, face às outras duas décadas anteriores, e um desacelerar de crescimento, menos significativo, de apenas 2%, entre 2001 e 2011, gerou, na última década, entre 2011 e 2021, minha simpática amiga Berta, uma verdadeira viragem ao entrar numa espiral real de declínio populacional, que nos retirou mais de um quarto de milhão de habitantes do país.

Em resumo, encolhemos de forma significativa nos últimos dez anos. Menos do que as previsões internacionais diziam (na casa dos 400.000 a 500.000 habitantes), mas, mesmo assim, é inegável que se trata de um encolher populacional grave e preocupante. A chegada de populações vindas da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, ou de outros pontos do globo, o regresso de muitos dos nossos emigrantes e a natalidade nacional não conseguiram, portanto, travar o envelhecimento e perda de população em termos globais. Mais grave se torna a situação se pensarmos que deveríamos crescer entre 250.000 a 500.000 habitantes e que em vez disso perdemos um quarto de milhão.

Numa outra perspetiva, é fácil de concluir que entre o abrandamento do crescimento e a realidade da atual diminuição da população, o país sangrou, perdeu ou fez evaporar, por força das circunstâncias, no século XXI, cerca de um milhão de habitantes, ou seja, 10% da sua atual população. Se nada for feito, amiga Berta, para inverter esta tendência, o final do século XXI pode apresentar Portugal com uma população total de apenas 6 milhões de habitantes, a mesma que tínhamos em 1920, há cem anos atrás. Uma verdadeira calamidade.

Podem os mais distraídos julgar que eu estou a ser exagerado, que algo assim é totalmente impossível, mas é para aí que caminhamos a passos mais largos do que aqueles que eu descrevi, efetivamente a Comissão Europeia prevê que a área em desertificação, em Portugal, passe dos atuais 68%, já observados em 2021, para os 93% previstos para 2050. Se pensarmos que em 1961, ano em que eu nasci, a área em risco de desertificação do país era de 23%, minha querida amiga, ora isso dá para ver bem a rapidez e evolução do flagelo. Em apenas 90 anos a desertificação pode subir, no mínimo, 70%, nunca menos. Contudo, estamos apenas a 29 anos dessa linha aflitiva e absolutamente grave.

Temos de agir enquanto país, e quanto antes, se não queremos ficar com um aspeto territorial semelhante ao do deserto do Sahara daqui a menos de três décadas. Mais grave ainda é que se somarmos estes dados, todos eles descritos e avançados nos inúmeros relatórios a que tive acesso, associados à diminuição gradual e progressiva que já se regista na população nacional, tal fusão de eventos pode fazer com que acabemos o século XXI com apenas um quarto da nossa população atual, ou seja, 2,5 milhões de habitantes.

Aliás, minha querida Berta, o Tribunal de Contas tem publicados diferentes alertas, aos sucessivos governos, no que respeita a estas áreas de combate à desertificação, ao auxílio na reposição da neutralidade dos solos, evitando a sua degradação, e posteriormente à reposição de solos produtivos e sustentáveis. Contudo, o Tribunal avisa que não consegue detetar para onde foram os milhões destinados ao combate à desertificação entre 1996 e 2021. A verdade é que estamos a perder todos os anos um por cento do território para a desertificação. Temos recebido verbas de vários programas, desde a Organização Nações Unidas até à União Europeia, sem que exista uma evidente aplicação destas verbas neste combate fundamental.

O assustador aumento dos incêndios parece tornar-se uma inevitabilidade e a nossa passagem de clima temperado a clima tropical já é quase um facto consumado. Temos de inverter esta situação ontem porque, afinal, amanhã, já será tarde demais. Acabei por me sentir árido com tudo isto, fico-me hoje por estes pensamentos, minha querida, recebe um beijo de despedida deste teu companheiro de desventura e de algumas alegrias,

Gil Saraiva

 

 

 

 

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