Carta à Berta: O Que Se Passa em Campo de Ourique - Entrevistas à Mesa do Café - I - Mamma Mia!
Olá Berta,
Escrevo-te para te falar sobre “O Que Se Passa Em Campo de Ourique” na rúbrica que denominei de “Entrevistas à Mesa do Café”. Hoje dedico a minha atenção sobre a “Mamma Mia” a única Geladaria Italiana de Campo de Ourique com fábrica e laboratório próprios em todo o bairro.
No rescaldo da pandemia a Mamma Mia é mais um daqueles negócios que tenta sobreviver ao fecho de portas, fruto das medidas impostas pelo Governo de Costa, por intermédio da DGS. Passar mais de um ano sem poder manter a sua normal atividade comercial, é uma barra muito pesada, para uma atividade de formato familiar e artesanal, que depende totalmente das duas únicas almas que gerem e representam a empresa.
Foi na esplanada da Tentadora que, numa destas tardes, me sentei com o senhor José Perdigoto, o elemento português deste duo, para a “Entrevista à Mesa do Café”. Apaixonado por um bairro onde vive já lá vão trinta anos, era um sonho antigo, deste homem de 53 anos, poder um dia investir as suas poupanças no bairro que o formatou com adulto e onde sempre foi feliz.
A oportunidade apareceu em 2017 quando, devido a um acaso feliz, a sua vida se cruzou com a de um italiano, em turismo pelo nosso país. O italiano vero, Natale Giovanni Tassitani, nascera na Cantábria italiana, na ponta da bota, 52 anos antes, no decorrer do mês de dezembro. Devido ao mês de nascimento os progenitores decidiram chamá-lo de Natal (Natale, em italiano). Ora, segundo fiquei a saber, Natale apaixonou-se pelo nosso país e muito em particular pelo nosso bairro.
Palavra puxa palavra e a amizade entre Zé e Natale cresceu rapidamente. O turista acidental tornou-se repentinamente emigrante e, no mês de julho de 2017, abriam juntos a Mamma Mia, a única geladaria italiana, reforço, com laboratório e fabrico próprio de Campo de Ourique.
O Zé entrou com a maioria do capital e Natale com o conhecimento e o trabalho. Claro que, sempre que é necessário, o Zé arregaça as mangas e dá uma ajuda ao seu sócio. Contudo, não causando nenhum espanto, a alma da Mamma Mia é genuinamente italiana e proveniente de um milagre chamado Natal.
Os sorvetes e gelados da Mamma Mia fazem-me lembrar facilmente o início dos famosos Gelados Santini, na linha de Cascais, na altura em que a mestria italiana de Santini e a confeção totalmente artesanal, alicerçada na sabedoria italiana, os tornavam um produto único em toda a área da zona de Lisboa e Vale do Tejo, antes da ganância e da propagação da marca Santini, por diversas lojas e espaços, fazerem diluir a mestria artesanal do criador e se perder o requinte único da casa mãe.
A Mamma Mia não é fácil de encontrar, sendo uma loja de rua não é totalmente visível para quem sobe, pelo lado direito, a Rua Saraiva de Carvalho até ao número 147. Com efeito, o espaço está localizado no acesso pedonal que faz a ligação, por entre os prédios, com a Rua do Patrocínio, até à pastelaria Maria Farinha. Esta zona pedonal entre ruas, é designada pelo nome de Galeria Campo de Ourique, e a loja 3, onde se situa a geladaria, é logo a primeira à esquerda de quem entra neste acesso, pelo 147 da Rua Saraiva de Carvalho. O telefone é o 213 970 628.
Mas o que faz realmente lembrar os antigos Gelados Santini na Mamma Mia é todo o carinho, amor e mestria que Natale põe na confeção artesanal dos mesmos. Um saber italiano tradicional com uma história muito antiga. Assim, sejam sorvetes (feitos com água e frutas frescas do dia) ou gelados (com leite, frutos secos ou café), é voluptuoso poder degustar as delícias da Mamma Mia. No inverno os crepes são outra iguaria do espaço, mas, nesta época, sejam batidos de fruta, gelados ou sorvetes o importante é ter-se a certeza da deliciosa qualidade e do genuíno sabor dos produtos.
Os sabores clássicos da geladaria italiana, seja o pistáchio, a avelã, o chocolate, a nata, o café, a manga, o coco, o morango, o ananás, a framboesa ou a noz ou o caramelo salgado, o arroz doce, o creme de ovo, a abóbora ou o requeijão, que são as variedades móveis da geladaria, contribuem, em conjunto, para a festa do palato de todos os clientes. Mas se, por mero acaso, alguém for apreciador de café não se deve sair da Mamma Mia sem experimentar um Affogato, que é algo de ir às lágrimas pois, efetivamente, a bola de gelado afogada em café expresso desperta sensações sensoriais incríveis que eu, pessoalmente, desconhecia de todo. Aquilo é uma iguaria ímpar verdadeiramente digna dos deuses.
Agora, se não tem tempo para ficar na geladaria a degustar calmamente o seu gelado, a Mamma Mia tem umas embalagens de esferovite, de diferentes tamanhos, para que se possa, uma vez chegado a casa, tirar partido da mestria de Natale no conforto do lar.
Outro detalhe delicioso é poder-se observar, se houver vontade e tempo, a confeção das diferentes iguarias, através das vitrines da montra e da loja, que dão para o laboratório e fábrica de confeção. Em termos de conceito e transparência acho que a geladaria Mamma Mia é pioneira, em absoluto, nesta faceta e que vale o tempo empregue na observação desta que é verdadeira arte culinária.
Se voltares a Campo de Ourique, querida Berta, tenho que te levar à Mamma Mia. Ela, por si só, é suficiente para se ter ciúmes de não se morar em Campo de Ourique. Por hoje é tudo, despeço-me com o costumeiro beijo de até à próxima, este teu amigo,
Gil Saraiva